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Conheça a atleta que vai à quinta Olimpíada e aproveitou gravidez para aprender a atirar

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Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

O que faz uma atleta quando está grávida e não pode treinar? Aprende a atirar para ir à Olimpíada, claro. A resposta pode ser bizarra para a maioria das esportistas, mas foi a opção - acertada - feita por Jaqueline Mourão, uma atleta que aprendeu a se adaptar aos momentos para se tornar a primeira brasileira a disputar três modalidades olímpicas diferentes. Depois de competir no mountain bike e no esqui cross country, ela estreia neste domingo, em Sochi, no biatlo, às 12h39 de Brasília, pontualmente.

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Atleta olímpica no ciclismo em Atenas/2004 no moutain bike, ela iniciou na neve em maio de 2005. Já naquela época casada com Guido Visser, atleta canadense do esqui cross country, Jaqueline morava em Vancouver. Depois de três dias de nevasca, sem poder treinar ciclismo, ela aceitou o convite de Guido para se arriscar na neve. Gostou.

Afinal, as duas modalidades são muito diferentes. O mountain bike tem diversas provas e uma delas é o cross country, que é a única disputada na Olimpíada, subindo e descendo morros. Não é à toa que a prova que Jaqueline disputa na neve se chame também cross country, mas no esqui.

Como o esqui cross country é uma espécie de atletismo da neve (e não há problemas de um atleta competir contra outro que tem nível muito inferior), o COI tem uma política de conceder vagas a países sem tradição nos esportes de neve. O Brasil, por exemplo, pode levar dois atletas (um homem e uma mulher) no cross se os mesmos participarem do Mundial anterior e se conseguirem uma pontuação mínima, apenas para atestar que têm algum nível técnico.

Essa abertura permitiu a Jaqueline, uma atleta de alto rendimento no mountain bike (tem preparo físico e psicológico), conseguir a vaga em Turim/2006 apenas alguns meses depois de ingressar no esqui. Em Turim, foi 67.º colocada na prova de 10km. Enquanto a vencedora completou em 27 minutos, ela beirou os 36min, chegando à frente de quatro rivais, apenas.

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Foi assim também nos quatro anos seguintes. Ela foi 19.ª colocada no moutain bike em Pequim/2008 (uma posição pior que em Atenas) e 66.ª no esqui em Vancouver/2010. Competindo em casa (ela mora no Canadá), ganhou uma posição em relação a Turim, a pouco mais de 5 minutos da campeã. Desta vez, 11 atletas foram piores que ela.

BIATLO - O biatlo é uma modalidade que mistura corrida (cross country) e tiro. Na prova que Jaqueline vai disputar neste domingo as largadas são individuais (cada uma larga a 30s de distância da antecessora). Cada atleta dá três voltas num circuito de 2,5km, parando duas vezes por volta para atirar - uma vez de pé, outra deitado. Se errar um dos cinco tiros, tem que imediatamente fazer um percurso de 150m antes de voltar ao estande.

A ida para a nova modalidade veio quando ela engravidou. Sem poder treinar, foi praticar tiro."Eu comecei a competir em 2011 e em 2012 já consegui classificar para o Mundial, feito inédito para o Brasil", lembra. No Mundial em questão, em 2012, Jaqueline foi a 108.ª colocada entre 116 que completaram. No ano seguinte, repetiu o resultado (já repararam como ela é um reloginho???), mas entre 113 concluintes.

Para ir a Sochi, precisava completar uma prova com um tempo no máximo 20% maior que a média das três primeira colocadas. Depois de conseguir, foi só esperar a vaga certa na Olimpíada. Por conta da realocação (feita duas semanas antes dos Jogos), até a Grécia, 37.ª e última colocada no ranking olímpico, conseguiu vaga no feminino. O Brasil foi 32.º.

Neste domingo, Jaqueline é a 18.ª a largar, o que fará pontualmente às 12h39 de Brasília. De acordo com o release do COB, ela quer bater o recorde pessoal de um acréscimo de 15,8% no tempo das primeiras colocadas. Significaria terminar por volta do 68.º lugar entre 84 atletas (comparando com Vancouver).

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Nas etapas da Copa do Mundo nas duas últimas temporadas, seu melhor resultado foi um 83.º lugar, exatamente em Sochi. Mesmo na prova em que bateu seu recorde pessoal acabou na 90.ª colocação.

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