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Governo descumpre promessa, COB não ajuda e campeão mundial fica sem bolsa e sem treinador

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Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

Vencedor do Prêmio Brasil Olímpico do ano passado, superando Cesar Cielo e Arthur Zanetti, o velejador Jorge Zarif foi de um ilustre desconhecido do grande público a melhor atleta olímpico do Brasil. Mas nem esse posto garantiu a ele o apoio que desejava. Pelo contrário. De dezembro para cá, perdeu seu treinador, o espanhol Rafa Trujillo, e viu o Ministério do Esporte descumprir promessa feita em dezembro e negar a ele o Bolsa Pódio.

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"A preparação (para o Troféu Princesa Sofia, que começa hoje na Espanha) foi boa , mas infelizmente foi prejudicada pela não contratação do nosso técnico Rafael Trujillo. Espero que o COB e a CBVela cumpram o prometido e contratem um bom profissional, e não seja como o Bolsa Pódio do ministério dos Esporte, que só ficou na promessa", reclamou Zarif.

Em 5 de dezembro do ano passado, quando anunciou os contemplados pela Bolsa Pódio da vela, o secretário-geral de alto rendimento do ministério do Esporte, Ricardo Leyser, fez a seguinte promessa: "Mais seis nomes serão divulgados em janeiro para a vela, entre eles Robert Scheidt (Laser) e Jorge Zariff (Finn)". A declaração está no site do Ministério.

Hoje o papo é outro. "O atleta Jorge Zarif não foi indicado para a Bolsa Pódio porque não figura entre os 20 primeiros do ranking mundial. O programa tem procedimentos e cronogramas que precisam ser respeitados. Neste ano (no segundo semestre), será aberto novo edital, no qual o atleta poderá ser indicado caso esteja entre os 20 primeiros do ranking", explicou o ministério em nota. Mas e a promessa do secretário? "Aquela era uma torcida, não uma garantia", justifica a assessoria de imprensa. Não é o que parece.

O fato é que Zarif (assim como Robert Scheidt), apesar das conquistas recentes, não se encaixa no perfil de atleta que merece receber investimentos do ministério do Esporte para brigar por medalhas em 2016. Afinal, acompanhe uma simulação para o ranking mundial. Ser 36º colocado em cinco etapas de Copa do Mundo, por exemplo, faria um atleta somar 505 pontos. Se participar de três competições, sendo campeão mundial, de uma etapa de Copa do Mundo e do Pan-Americano, por exemplo, um rival ganha 500.

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Para chegar ao alto do pódio, o velejador precisa competir bastante. O que, na vela, significa gastar muito dinheiro. Afinal, é caro o transporte do barco de um continente para outro. Sem ajuda do governo, há menos dinheiro. Sem dinheiro, não há ajuda do governo. E o ciclo parece sem fim.

SEM TÉCNICO - Rafa Trujillo, de apenas 38 anos, foi campeão mundial da Finn em 2007 e medalhista de prata no Mundial/2010 e nos Jogos de Atenas/2004. Aposentado, foi convidado por Bruno Prada para ser seu treinador. Altruísta, o campeão olímpico da Star convidou Jorginho, então em baixa depois de uma péssima participação nos Jogos de Londres, para treinar com eles. Trujillo virou técnico da dupla, pago por Bruno Prada, que tem patrocínio de Banco do Brasil, Oakley e Zhik e em dezembro virou bolsista do Bolsa Pódio.

Bruno Prada ainda não teve bons resultados na volta à Finn, mas Jorge Zarif tornou-se o primeiro campeão júnior e adulto num mesmo ano na história da classe. Prova de que o trabalho estava sendo bem feito. Trujillo, porém, voltou para a Espanha depois de não chegar a um acordo para ser contratado pelo COB.

"O treinador apresentou uma proposta de salário e condições de trabalho que o COB e Torben Grael (treinador-chefe da vela, pago pelo COB) consideraram acima do possível. Torben Grael já está em contato com alguns treinadores e tem autonomia para fazer a contratação", explicou o COB. Por enquanto, Zarif está sem técnico. Ele não tem patrocinadores pessoais.

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