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Noivas 'olímpicas' querem que sexualidade deixe de ser tabu no esporte

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Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

"Um mundo novo", promete o slogan dos Jogos Olímpicos do Rio. E nesse mundo novo não há mais espaço para preconceitos e diferenças. O grande ato de amor do Rio-2016 até agora foi o pedido de casamento feito por Marjorie Enya, gerente de serviços de rúgbi no Comitê Rio-2016, à então namorada e jogadora da seleção feminina Izzy Cerullo. Ainda sem uma data marcada para vestirem branco, elas querem que o amor delas ajude a quebrar um tabu: a sexualidade no esporte.

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"Ainda existe o preconceito, tabu de de estar assumindo, de falar abertamente. Há o medo de sofrer preconceito, ser tratado mal, de ser tratado de outra forma. O pedido foi uma demonstração de afeto, que ajuda um a dar um lado humano para essa coisa de amor. Amor é amor. Amor não é só entre mulher e homem", diz Izzy.

Ela foi pega de surpresa pelo pedido. O Brasil já havia encerrado sua participação no torneio de rúgbi há horas, mas a equipe, nona colocada, continuou no estádio, no Parque Olímpico de Deodoro, e assistiu aos jogos decisivos. Após a cerimônia de pódio, com Austrália, Nova Zelândia e Canadá, o time todo foi chamado ao gramado para uma entrevista.

Mal sabia Izzy que seria pedida em casamento pela namorada, com quem já fazia planos de casar. As duas se conheceram quando a jogadora, que nasceu no Brasil mas cresceu nos Estados Unidos, voltou ao País para tentar entrar na seleção. Marjorie era a gerente da equipe. Elas não sabem precisar há quanto tempo namoram, mas estão juntas há mais de dois anos.

Nunca precisaram esconder a relação. "O rúgbi tem isso de ter seus princípios baseados no respeito. As pessoas se sentem abraçadas. Entre a gente é muito aberto e as meninas não vem a necessidade de se esconder", conta Izzy. As companheiras de seleção já sabiam que ela sairia de sua primeira Olimpíada noiva e deram total apoio. Os pais de Izzy ficaram sabendo logo depois, pelo telefone, e não poderiam ter ficado mais felizes.

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Também foi positiva a repercussão nas redes sociais. "Nunca tive tanto apoio e tanta certeza de que estou no esporte certo e com as pessoas certas. A repercussão positiva com minhas amigas eu já esperava, né, mas teve tipo coronel reformado do Exército dando parabéns, dizendo que eu sou muito corajosa", afirma Marjorie.

Para ela, a visibilidade da ação, que chegou à imprensa do mundo todo, ajuda a causa LGBT. "Uma das piores formas de violência, que especialmente mulheres homossexuais sofrem, é a invisibilidade. Qualquer forma de visibilidade é muito bem vinda. É importante que seja divulgado e visível para outras pessoas. Minha vida teria sido muito diferente se quando eu era adolescente eu tivesse visto que você pode ser feliz assim."

Izzy nunca escondeu da família sua orientação sexual, ainda que tenha crescido na Carolina do Norte, um estado norte-americano que perdeu o direito de sediar o próximo All-Star Game, da NBA, por causa de uma legislação sancionada este ano e persegue diversos direitos da comunidade LGBT.

No Brasil há dois anos, Izzy só tem acompanhado pela internet o trabalho da militância LGBT no seu estado. Formada em direitos humanos e biologia pela Universidade de Columbia, em Nova York, ela fez a parte dela para o mundo todo. "Talvez isso ajude a mudar as ideias tradicionais. A gente espera que isso só leve para mais coisas melhores, que ajude a construir um mundo melhor. Esse não é o lema da Olimpíada? Então!"

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