Luiz Prosperi
28 de fevereiro de 2013 | 00h36
A vitória mais sem graça da vida do Corinthians.
O jogo mais silencioso da história do Alvinegro.
Talvez o menor público do século nos registros do clube do Parque São Jorge – apenas quatro pagantes, aliás quatro portadores de uma liminar. Os donos do espetáculo, se espetáculo havia.
A solidão do Pacaembu.
Os rituais sem nexo do locutor oficial do estádio anunciando as escalações, substituições e o tic-tac do cronômetro.
A sonolência dos locutores da televisão e das rádios.
A comemoração dos gols sem aplausos e desprovidos de júbilo.
Os guardas, sempre tão zelosos e de costas para o gramado, agora de frente para o campo do jogo e de costas para as arquibancadas porque não havia ninguém para vigiar. Um bate-papo de fardados na missão mais tranquila de suas vidas de quartel.
O abandono da Praça Charles Muller, escura com o véu da noite.
Os flanelinhas de mãos abanando.
As vias ao redor do estádio desentupidas e os vizinhos sem do que reclamar.
O empenho dos jogadores com o coração frio.
O Pato em busca de uma alma para vibrar com seu gol no deserto Pacaembu.
A quietude mortal das torcidas.
A noite em que as imensas facções organizadas de torcedores descobriram o quanto são pequenas e insignificantes.
Tudo isso para narrar a estupidez que foi a morte de Kevin Beltrán.
Enfm, se ouviu o silêncio do futebol.
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