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Bastidores e curiosidades do Dacar

"Staff" de Eric Granado, do Mundial de moto elétrica, ameaça processar jornalistas brasileiros

Fala amigos, tudo bem? A história é tão inusitada (pra não dizer tosca e bizarra) que resolvi fazer um breve registro aqui no blog. Afinal, o personagem principal do imbróglio é um piloto da motovelocidade mundial, figura pública e representa o Brasil pelos quatro cantos do mundo.

Por Ricardo Ribeiro
Atualização:

É um assunto que interessa aos profissionais de comunicação, principalmente assessores de imprensa; patrocinadores, aos próprios atletas e aos chamados "staffs", muitas vezes formados por amigos e familiares - e não por pessoas "profissionais, frias e calculistas" (no bom sentido) que saibam lidar com as mais variadas situações, principalmente as chamadas "gestão de crise".

A figura central é Eric Granado, campeão europeu de motovelocidade, baita piloto do Superbike Brasil, ex-piloto no Mundial (Moto 2) e agora representante do país no Mundial de Moto Elétrica (MotoE).

Eric Granado: staff ameaça processar jornalistas brasileiros. Foto: Divulgação NS Comunicação

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Acompanho Eric desde quando era uma criança e corria o Campeonato Brasileiro de Motovelocidade em Interlagos. A Honda CG 125 parecia gigante perto do garoto! Conheço toda a família e os amigos mais próximos dele e posso garantir que é tudo gente do bem.

E já trabalhei para o Eric, de forma indireta, quando eu era responsável pela comunicação de competições da Honda e ele disputava o Superbike Brasil.

Para resumir: no final de semana, durante a última etapa da Stock Car, em Interlagos, Eric teve um encontro com a fera Lucas Di Grassi, hoje uma grande autoridade mundial quando o assunto é carro elétrico ou autônomo.

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Eric Granado, no Mundial de Motovelocidade (Moto 2) com a equipe Forward. Ele foi demitido no meio da temporada e dono do time já foi preso na Suíça por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Foto: Divulgação

Di Grassi concilia a agenda da Formula-E e da Stock Car com palestras em vários países sobre o assunto. Esteve, inclusive, falando na Web Summit em Lisboa, dias atrás. Di Grassi é CEO da Roborace, que é corrida de carros autônomos e o Eric foi pegar algumas dicas com ele. A imprensa registrou o encontro.

Agora começa a história toda. Eric concedeu uma entrevista, gravada, para o site Grande Prêmio, um fenômeno de audiência, dirigido pelos jornalistas Flavio Gomes e Victor Martins. A equipe do Grande Prêmio é formada por mais de 20 profissionais.

O GP tem 65 milhões de acessos por ano e os conteúdos de automobilismo/motociclismo são publicados nos maiores portais do país.

Na entrevista, Eric Granado foi perguntado sobre os rivais e adversários na MotoE, entre eles o espanhol Sete Gibernau. O brasileiro disse que "não se preocupava tanto com Gibernau", mas sim com outros nomes que vão alinhar no grid da categoria.

O Grande Prêmio, então, escreveu o texto baseado nas declarações do piloto, com o título "Granado minimiza presença de Gibernau na MotoE".

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O "minimiza", é fato, ficou por conta do jornalista Felipe Noronha. Acredito que houve uma interpretação por parte dele. Eu, particularmente, não vejo  problema algum na frase dita pelo piloto brasileiro. Não achei que o Eric tentou desmerecer o Gibernau.

 

É aí que começa a confusão.

O "staff" de Eric Granado resolveu escrever e divulgar uma "nota de repúdio" contra o portal Grande Prêmio. A assessoria de Granado enviou o texto para jornalistas, patrocinadores e formadores de opinião.

O release de Granado tinha os logos dos principais patrocinadores, como a Honda, maior fabricante de motocicletas do planeta, e Oakley. O layout do release é igual a todos os outros comunicados já divulgados pela equipe e o fato de exibir as marcas não significa que as empresas concordam com a "nota de repúdio".

Conversei com Nadia Schunk, minha colega de profissão e assessora de imprensa de Eric Granado. Ela garantiu que a divulgação da nota foi uma decisão do "staff" do piloto, formado pelo pai de Eric, Marco, por ela e por advogados que representam o EG. Disse ainda que era contra a divulgação da nota, mas foi "voto vencido".

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O texto do "staff", no frigir dos ovos, diz que, a partir daquele momento, Granado não tinha mais compromissos com o Grande Prêmio e que não daria mais entrevistas para o portal.

Deixar de atender um determinado veículo de imprensa é um direito do Eric, mas será que os patrocinadores pensam da mesma maneira?

Afinal, o que dá para aprender e absorver com essa história?

Eric é um atleta de nível mundial e leva a bandeira do Brasil para todos os continentes. Portanto, precisa saber lidar com a imprensa e gerenciar supostas "crises". Seja no Brasil ou no exterior.

Eric é uma pessoa pública e tudo o que disser terá repercussão - positiva ou negativa (depende da interpretação e interesses de cada um).

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Eric representa empresas globais, entre elas a Honda, a maior fabricante de motocicletas do mundo, e a Oakley, Alpinestars entre outras. A responsabilidade aumenta quando ele vai abrir a boca, mesmo que seja uma decisão do staff.

Eric tem todo o direito de falar ou não falar com a imprensa, mas o "staff" precisa saber que não é ele, o "staff", quem determina o quê e como uma reportagem será publicada.

O staff de Eric precisa aprender que a imprensa pode ser usada de forma positiva, não negativa. Eric precisa "casar" com a imprensa, não pedir a separação.

O staff de Eric precisa aprender que a imprensa pode, sim, investigar o histórico das equipes por onde ele passou: se o proprietário é picareta ou não, se o dono foi preso por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, se a equipe paga ou não as dívidas, se a equipe tem credibilidade no mercado na hora de comprar o chassi adequado, peças, equipamentos e acessórios e por aí vai. A competentíssima Juliana Tesser, do Grande Prêmio, que traduziu o livro do Valentino Rossi e faz a cobertura da MotoGP, mostrou todo o histórico da equipe Forward, da qual o Eric acabou sendo demitido por falta de resultados satisfatórios esse ano. Juliana foi ameaçada com processo na Justiça.

O staff do Eric precisa aprender que não é culpa da imprensa se tais informações foram publicadas. E também precisa aprender que, se vai "prejudicar algum negócio com patrocinadores", não é problema do jornalista ou do site Grande Prêmio (ou de qualquer outro veículo de comunicação).

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O staff de Eric Granado também precisa aprender que a imprensa é livre. E caso a imprensa publique algo que não está de acordo, existe um mecanismo chamado "direito de resposta" (isso em último caso). Antes disso, tem a velha e boa conversa. Afinal, nós jornalistas, também erramos.

Enfim, nunca devemos parar de aprender!

E se o staff do Eric Granado tem humildade suficiente para aprender alguma coisa com toda essa confusão com o portal Grande Prêmio, deveria, no mínimo, se retratar e pedir desculpas a todos os profissionais do site e aos seus milhões de seguidores/leitores.

E para encerrar...

O staff de Eric Granado coleciona polêmicas com os jornalistas brasileiros. "Não gostaram" da entrevista de Alex Barros, ao jornalista Gabriel Lima, do portal Motorsport, quando comentava sobre a (suposta) volta do jovem piloto ao portal de automobilismo/motociclismo. O Motorsport tem alcance global, com audiência em todos os continentes. Veja aqui.

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Equipe Forward, de Eric Granado no Mundial de Moto2, deixou de disputar corrida nos Estados Unidos devido aos problemas do proprietário do time. Leia mais.

Valeu, amigos! E desejo toda sorte do mundo ao Eric Granado no Mundial de MotoE!

 

 

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