Para Lago e ONU, rascunho do Brasil já seria resultado forte

Herton Escobar e Giovana Girardi - O Estado de S. Paulo

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Por João Coscelli
Atualização:

O embaixador André Corrêa do Lago, um dos principais negociadores do Brasil na Rio+20, disse ao Estado que, se o documento consolidado apresentado pela diplomacia brasileira no sábado fosse aprovado na íntegra nesta segunda-feira, 18, seria um resultado "forte" para a conferência.

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"Vários países, inclusive, manifestaram o desejo de aprovar o documento na íntegra", disse ele, na porta de uma das salas de negociação no Riocentro, onde as discussões continuam intensas sobre várias partes polêmicas do documento. O Brasil colocou esta noite como prazo para fechar o documento, antes da chegada dos chefes de Estado à conferência na quarta-feira.

Em coletiva à imprensa, representantes do secretariado da ONU para a Rio+20 afirmaram que também para a organização, esse resultado seria considerado forte. Segundo eles, no atual estágio das negociações, todos os países estão abrindo mão de posições muito específicas, deixando de lado o refinamento de linguagem, olhando para a visão geral do documento e avançando rapidamente em estabelecer acordos.

"Acreditamos que o documento representa um passo para a mudança para o desenvolvimento sustentável", disse Nikhil Seth, chefe do escritório do secretariado da Rio+20. Ele afirma que de certo modo está todo mundo infeliz, mas só assim está sendo possível fechar um "bom acordo" visto que o texto traz uma boa direção."

"Na tradição da ONU, dizemos que um consenso em que todo mundo está igualmente infeliz é um bom consenso. É o denominador comum. No início grupos tinham mais ambições, posições mais extremas, mas depois todo mundo tem de ceder", complementou Nikhil Chandavarkar, chefe de comunicação da conferência.

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Para a ONU, o fato de o texto trazer os objetivos do desenvolvimento sustentável, o acordo de oceanos, o Pnuma fortalecido e os compromissos voluntários que virão da sociedade civil e de governos podem ser o legado da Rio+20. Quando questionado sobre se isso seria suficiente para "salvar o planeta", Chandavarkar disse achar que sim.

Segundo informações divulgadas pela organização Third World Network, a reafirmação do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas (RCPD) continua sendo um ponto de discórdia entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em comparação com o documento anterior que vinha sendo negociado, o novo rascunho apresentado pelo Brasil retira referências ao princípio em alguns trechos, mas as mantém em outras.

Os países desenvolvidos continuam a insistir que não querem nenhuma referência explícita ao RCPD, apenas uma reafirmação genérica de todos os princípios do Rio, acordados 20 anos atrás na Rio-92. São 27 princípios ao todo, e o RCPD é o sétimo. Ele afirma, na prática, que os países mais desenvolvidos têm maior responsabilidade sobre os problemas ambientais do planeta. Os países em desenvolvimento querem que o documento final da Rio+20 faça uma menção específica a esse princípio, como forma de reafirmá-lo com mais contundência.

Nos bastidores, países ricos argumentam que muitos países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, já não são tão pobres como eram 20 anos atrás, e também contribuem significativamente para os problemas ambientais do planeta atualmente. Portanto, deveriam assumir maiores responsabilidades (inclusive financeiras) para solucioná-los.

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