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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|A 'velha guarda' do nosso futebol corre risco e não deveria ser tratada como gado como se fez entender o presidente Bolsonaro

Os jogadores do passado são referências no presente, são eles que "ensinam" nossos moleques: merecem muito mais respeito, assim como nossos pais e avôs; é hora de cuidar deles como nunca

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Atualização:

No Japão, onde seriam realizados os Jogos Olímpicos no meio deste ano, o velho é respeitado talvez como em nenhum outro lugar do mundo. A reverência aos mais experientes, vividos e sábios é levada com respeito independentemente de suas ocupações na sociedade ou da falta delas. Em outras partes do mundo também. No Brasil, isso não ocorre de modo geral nas cidades. Há uma concepção de que o velho não serve mais, sobretudo agora na pandemia do novo coronavírus que atinge em cheio essa parcela da sociedade. São eles que estão morrendo e pagando a conta mais alta. O presidente Jair Bolsonaro, pedindo o fim da quarentena, disse que nossos velhos deveriam ser isolados e os sadios deveriam voltar ao trabalho, para não parar a economia.

 Foto: Estadão

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Esses velhos são nossos pais e avôs e não podem ser retirados da sociedade dessa forma. Tudo o que eles têm nesta etapa da vida são os filhos e os amigos. O carinho e o respeito.

No futebol, no entanto, a "velha guarda" é extremamente respeitada. São eles que mostram o caminho aos jovens na profissão. Há uma lista de jogadores brasileiros por quem todos se dobram. Quando Rivellino fala de uma situação de jogo, é preciso ouvir. Ele aparece semanalmente no bom Cartão Verde, da TV Cultura. Ele é o Rivellino. Sabe o que está falando. Aos 74 anos, está no grupo de risco.

Emerson Leão disputou sua primeira Copa do Mundo, em 1970, aos 17 anos. Era reserva. Sabe tudo de futebol. Ganhou títulos importantes como atleta e treinador. Fala grosso, não dá mole para "molecagens" e sempre contribuiu para as coisas do futebol. Aos 70 anos, não pode ser colocado num cercadinho como pediu o presidente. Ele sabe se cuidar, tem condições para isso, mas se não tivesse, deveria ser conduzido com respeito nesse momento. Respeito e reverência. Devemos muito a ele.

Da mesma forma, a nossa 'velha guarda do futebol' merece muito mais respeito. Sem esportes, sem futebol, sem bola rolando, sentimos o quanto tudo isso faz falta para a gente no dia a dia, para as nossas crianças que brincam e também se distraem com jogos na TV, ao lado de amigos, de frente para os ídolos atuais, como Messi, Neymar, CR7, Nadal, Lewis e tantos outros.

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A pandemia nos mostra da forma mais cruel a falta que sentimos de tudo isso. Não teremos Olimpíada este ano. Felizmente ela só foi adiada. O futebol parou no mundo. Os jogadores no Brasil entrarão em férias a partir do dia 1º de abril por 20 dias. Salários serão reduzidos. Na TV, uma volta ao passado. O presente esportivo não existe e o futuro não conseguimos enxergar. O mundo será repensado quando tudo isso acabar e as pessoas puderem recuperar suas atividades e vida, inclusive nossos pais e avôs, para quem devemos nosso eterno respeito. É hora de cuidar deles como nunca.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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