Robson Morelli
29 de setembro de 2020 | 10h00
José Carlos Peres deixa o cargo de presidente do Santos até que as contas do clube de 2019 sejam explicadas, entendidas e aprovadas, o que pode não acontecer e ele nunca mais voltar ao cargo. Já está afastado. Seu vice, Orlando Rollo, que o detesta e não se bica com ele, assume o posto. Qualquer outro caminho parece, vendo de fora, melhor do que a trilha atual, com jogadores indo embora, salários atrasados na pandemia e diretoria proibida de contratar por determinação da Fifa. Cuca, diga-se, salvou o Santos nesta temporada pós-paralização.
O Conselho Deliberativo do Santos tem 60 dias para pedir o impeachment. O processo de afastamento na Vila Belmiro abre caminho para que o mesmo comece a ocorrer em outros clubes de futebol do País. Existe muito receio de mexer nesse vespeiro. O presidente é a figura mais importante no organograma de funções dentro de um clube. Não é remunerado na maior parte dos times. Trabalha 24 horas e não ganha nada, o que abre brechas para pensamentos proibitivos e impróprios em relação ao seu caráter e comportamento. O futebol não é um mar transparente.
A queda de Peres pode provocar uma onda contra os maus cartolas do futebol nacional. Há mais de 100 anos, os clubes de futebol escolhem seus presidentes em acordos, eleições direitas e indiretas, com a participação dos conselheiros, associados e, não raramente, com muita confusão. A alegria da escolha até o primeiro descontentamento tem durado cada vez menos tempo. No caso do Santos, as complicações começaram cedo entre o presidente e o vice, que estava de mãos dadas com Peres na campanha.
No caso de Peres, há uma série de atos sendo investigados, como suposto dinheiro do clube usado de forma equivocada e pessoal, suposto pagamento de bola para empresários na venda de jogadores, a título de comissão. Nada novo no futebol. Ser presidente é para poucos. Ser honesto deveria ser para todos. Os clubes são empresas que movimentam atualmente de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão por ano. O comandante deve entender de finanças, impostos, futebol, marketing, pessoas… Se fizer a lição de casa corretamente, mesmo assim poderá ser condenado por não ganhar títulos. Ninguém sai como entrou no cargo. Mas muitos tentam a reeleição. Vai entender.
Clubes como Santos e Corinthians passarão por eleições no fim desta temporada. Há muita gente querendo ser presidente.
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