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Opinião|Clubes brasileiros colocam tapete vermelho para os 'compradores' da Europa e EUA na janela de transferência

Todos precisam vender para arrumar a casa financeiramente depois de dois anos de pandemia e poucas negociações; os treinadores vão sofrer com elencos enfraquecidos e sem seus principais atletas

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

O frio está chegando e com ele o período que os clubes brasileiros mais esperam para fazer dinheiro vendendo jogadores. Quem saiu na frente foi o presidente do São Paulo, Julio Casares, que avisou os torcedores do time e sua comissão técnica de que vai precisar abrir mão de alguns atletas do elenco para reforçar o caixa. É a DNA do futebol brasileiro. Milhares de jogadores nascidos no País estão espalhados pelas ligas do mundo todo.

A janela de transferência do meio do ano é a mais promissora para os clubes brasileiros, principalmente depois dos pequenos negócios realizados durante os dois anos de pandemia. Todos estão ávidos a vender. Trata-se também da transação mais lucrativa dos clubes. Se cada jogador for vendido por US$ 10 milhões, que é valor baixo para os clubes da Europa, o vendedor ganha perto dos R$ 50 milhões. Para ficar no exemplo do São Paulo, cujo déficit de 2021 foi de R$ 106 milhões, duas vendas desse porte praticamente zeraria as contas do clube na temporada. Casares disse ao Estadão que segurou três vendas em 2021. Não vai segurar agora.

Foto: Julio Casares, presidente do São Paulo. SFPC Foto: Estadão

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Europa e Estados Unidos estão pagando bem e querem jogadores novos. Esse é o foco. O Brasil está cheio de garotos em formação e alguns já brilhando em seus respectivos times. Todos os clubes da Série A, por exemplo, têm pelos menos duas boas vendas para fazer na janela. Rodrigo Nestor, Gabriel Neves, Talles, Igor Gomes... são todos jogadores que podem deixar o clube. O São Paulo tem ainda alguns outros, no CT e em Cotia, para oferecer.

Rogério Ceni sabe da necessidade de fazer dinheiro e não vai interferir nas negociações. Já foi avisado disso. Seu trabalho será encontrar reposições à altura quando a venda for concretizada. Quem vender nesta janela que vai se abrir, já vai entregar a compra imediatamente. É pouco provável que os atletas negociados fiquem mais tempo no Brasil, até porque as equipes na Europa estão se reformulando para a temporada 22/23. Os agentes dos atletas também trabalham para isso.

O Palmeiras vai sofrer com o assédio europeu e a presidente Leila Pereira já disse que Danilo não sai nesta janela. O volante foi convocado por Tite recentemente e vem se tornando um dos principais jogadores do time de Abel Ferreira. Mas será difícil segurar alguns outros. Dois nomes estão na mira do mercado: Raphael Veiga e Zé Rafael. O Palmeiras ainda não garantiu a permanência de seus dois meio-campistas. Dudu, como já foi para fora e voltou, trabalha sua carreira no futebol brasileiro.

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As ofertas chegarão para esses dois palmeirenses. A negociação, se for colocada na mesa, não dependerá apenas da direção do clube e da vontade do treinador. Os jogadores são quem decidem pela saída ou permanência, mesmo tendo contrato vigente. Tudo é negociado. Veiga já teve ofertas de US$ 10 milhões. Na época, o Palmeiras queria US$ 15 milhões. Atualmente, ele não sai por menos de US$ 20 milhões. Isso daria R$ 100 milhões. O clube tem 65% dos direitos federativos do meia.

A janela vai desarrumar muitos times do futebol brasileiro, mas não há muito o que fazer. Todos os clubes dependem desse dinheiro para ajeitar suas contas e avançar algumas temporadas em suas gestões, sair do sufoco e recomeçar o trabalho. O problema é que fazem isso em um momento de decisão de títulos, de Brasileirão, Libertadores, Copa do Brasil, Sul-Americana. Ou seja, os elencos perdem jogadores numa reta final de temporada. Esse é o grande calcanhar de Aquiles para os clubes, treinadores e torcedores.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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