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Opinião|Considerações sobre a contratação de Vanderlei Luxemburgo pelo Palmeiras

Presidente mirou num técnico "revolucionário" e acertou em um profissional que conhece a Academia, mas vive dos feitos do passado. Terá de se provar mais uma vez e agora sem desculpas porque há um elenco à sua disposição

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 Foto: Estadão

Há muito para pensar e divagar sobre a volta de Vanderlei Luxemburgo ao Palmeiras. A única certeza diz respeito à necessidade de conquistas do clube após uma temporada em branco. Quando o presidente Maurício Galiotte discursou em tom de promessa que buscaria no mercado um comandante que colocasse o Palmeiras no seu devido lugar, o das conquistas, com apresentações diferentes das vistas nos últimos anos, ninguém imaginava que ele estivesse falando de Luxemburgo.

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No entendimento geral, esperava-se um treinador revolucionário, o que ninguém, na verdade, sabe direito o que significa. No meu entendimento, há dois times revolucionários que poderia apontar. Um deles é a seleção da Holanda de 74, de Cruyff e companhia. O outro, mais recente, é o Barcelona comandado por Pep Guardiola. Tirando esses dois, a revolução não veio para ninguém.

Certa vez conversei com Carlos Alberto Parreira, que faz um trabalho bem legal para a Fifa, nas Copas do Mundo, sobre as novidades de campo. Parreira era um dos responsáveis em analisar as equipes do Mundial, de vários. E nunca relatou nada de novo, de revolucionário. Aliás, o futebol emprega essa palavra muito mal. Qualquer mudancinha no time ou na forma de jogar, já batemos o carimbo de "revolucionário".

Luxemburgo não é esse revolucionário que Galiotte procurava. Nem de longe. Sabe montar times, ganhar títulos, embora faz tempo que não ganha, dar preleções emotivas e apimentadas, mas está longe na fase atual de ser "revolucionário".  Se tanto, vai montar um Palmeiras competitivo. Se tanto mais, vai apostar na força de seus atacantes, abertos em velocidade, com dois meias capazes de armar a equipe do meio para frente. Não digo que não dará certo. Pode dar. Mas nada que revolucione o nosso glorioso futebol, que, cá entre nós, anda em baixa.

O futebol brasileiro não merece os salários pagos aos jogadores dos times da Série A. Tampouco, pagos aos treinadores. Luxemburgo não é um treinador qualquer, que fique claro neste texto. Longe disso. Mas precisa se provar. Ele diz que não. Que está atualizado. Que não há nada de novo nas propostas de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, os dois treinadores mais reverenciados nesta temporada.

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Digo que Luxemburgo é tão bom quanto esses dois. Digo isso como testemunha do seu trabalho desde o Bragantino, passando por Palmeiras, Corinthians, seleção, Cruzeiro... e até Real Madrid. Não achem que é fácil chegar a um Real Madrid sem saber do riscado, saindo de Madureira, no Estado do Rio de Janeiro. Mas isso é passado. Fez, mas faria de novo? Esse é o ponto. Há os que acreditam e há os que duvidam. Em enquete feita pelo portal do Estadão, 58% dos participantes acreditam que ele dará certo.

Meu único senão ao novo treinador do Palmeiras, feito um pai falando de seu filho, são as companhias. Se ele estiver concentrado, sem qualquer outra coisa na cabeça e no coração capaz de tirá-lo do caminho, ele vai conseguir. Caso contrário, será mais um fracasso. Faz tempo que ele não é aplaudido. Sabe que precisa disso. Há muita vaidade nele ainda. Sempre foi assim. Agora, terá um elenco bom e um clube com dinheiro para comprar.

É fato também que Luxemburgo só foi contratado porque a safra é ruim, de técnicos novos e mais experientes. Há muita gente perdida na profissão, que quase não acrescenta nada. Luxemburgo consegue se sobressair em meio à terra arrasada. Enquanto estiver nessa aridez, ele vai sempre ser lembrado.

Não o vejo ultrapassado, tampouco sem saber o que faz em campo. Seu trabalho no Vasco não foi dos melhores. Terá a chance agora de voltar aos holofotes. Não haverá desculpas no Palmeiras. Prefiro esperar para ver. Ele e Rogério Ceni terminaram a temporada em alta. Foram os únicos, tirando Sampaoli e Jesus. Tiago Nunes também foi bem. Luxemburgo se impõe. Tem o respeito dos jogadores. Conhece a Academia como poucos. E chega para ser esse "revolucionário" que o futebol brasileiro procura depois dos adventos Jesus e Sampaoli.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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