Eles tiveram o trabalho paralisado. Ficaram de férias no mês de abril. Era para permanecerem isolados enquanto a doença crescia no Brasil. Receberam o mês cheio antes das negociações de redução de salário. Maio, enquanto o País ainda fervia com a doença, os jogadores deveriam treinar em suas casas ou em ambientes limpos, higienizados, oferecidos pelos clubes... Cada Estado brasileiro, e federação de futebol, escreveu sua própria cartilha para combater o coronavírus. Os "boleiros" dos times grandes, que disputam o Brasileirão, por exemplo, estão num extrato da sociedade que tem recursos e informações, que não precisa correr atrás do jantar e do almoço, que consegue se manter por meses se precisar.
Mas para surpresa de todos após testagens, um grupo grande deles apontou positivo para a covid-19. O Corinthians apresentou um cenário gritante, com 21 atletas contaminados dos 27 do elenco. Ora, esses caras não deveriam estar em isolamento social, se valer dos exemplos dos colegas europeus e se cuidar mais?
Um leitor me escreveu semanas atrás dizendo que Gabriel Jesus, antes de embarcar de volta para a Inglaterra, dava altas festas em seu apartamento. O leitor do Estadão morava no mesmo prédio dele e já não aguentava mais tanto barulho à noite. São as festinhas de que eles não abriram mão. Cazares, do Atlético-MG, foi multado por promover uma delas durante a quarentena, numa afronta aos brasileiros que morreram por causa da doença e dos que tentam sobreviver e precisam ir às ruas para defender o almoço da família.
Esses jogadores, que não se cuidaram, felizmente são minoria, mas eles escancaram os Brasis dentro do Brasil. Esse Brasil do futebol poderia ter se cuidado melhor, uma vez que seus brasileiros têm condições para isso. Depende muito de cada um, claro. Não é culpa dos clubes, que mandaram seus atletas para casa e cumpriram as recomendações da Saúde. É falta de vergonha na cara desses jogadores que não entenderam a gravidade da pandemia. Foram contaminados e contaminaram.