EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Enquanto Tóquio veta público na Olimpíada, Rio abre as portas para torcedores na Copa América

Postura diferente em meio à pandemia ainda alta em países que recebem eventos esportivos

PUBLICIDADE

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

No dia 8 de julho, morreram 3 pessoas em Tóquio por causa da covid-19. No mesmo dia, 177 cariocas perderam a vida para a doença. O país-sede dos Jogos Olímpicos registra média de 800 casos de covid-19 por dia. No Brasil, esse número, em queda, está em torno de 53 mil. Por dia também. Na capital japonesa a vida parece ter mais valor porque a cidade entrou em estado de emergência e proibiu a presença de público nas arenas esportivas dos Jogos Olímpicos. Medida de cautela. A vacinação das duas doses está igual, tanto lá quanto cá, na casa dos 15%.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

Foto: Wilton Junior/Estadão

Ocorre que nesta sexta-feira, a prefeitura do Rio aceitou liberar 10% da capacidade do Maracanã para o público na final da Copa América, entre Brasil e Argentina, sábado, ás 21h. Todos os jogos da competição que o Pais não queria foram de portões fechados. Houve contaminação de jogadores, membros da comissão técnica e colaboradores durante a disputa, Ninguém morreu ao que se sabe. Quando o governo do presidente Jair Bolsonaro avisou aos brasileiros que a Copa América seria no Brasil, disse também que ela teria torcedor, mesmo na final.

Mas a Conmebol e o governo não vão cumprir o que falaram. Cerca de 6.500 pessoas estarão no estádio, segundo o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em locais diferentes do Maracanã, diferentemente do que ocorreu na decisão da Libertadores entre Palmeiras e Santos.

"Serão 10% em vários setores do estádio, com espaçamento grande entre as pessoas. Serão convidados da Conmebol. A decisão também é da secretaria de saúde da cidade. Servirá como um evento-teste para o período de transição que estamos vivendo", disse Paes.

Publicidade

O tal "período de transição" a que Paes se refere ainda não aconteceu. O Brasil vive nova preocupação com a cepa do vírus da covid-19, a Delta Indiana, que já está circulando no País. Acompanhamos com muita esperança a queda dos números em todos os sentidos, de morte à contaminação, passando pelos leitos de UTI dos hospitais. Mas ainda aguardamos. Não podemos festejar gol antes de a bola entrar, nem comemorar vitória até que o juiz não apite o fim da disputa. E a grande verdade é que perdemos esse jogo, com 530 mil óbitos.

Daí minha conclusão que a vida no Japão vale muito mais do que a vida no Brasil. Os convidados serão testados e tudo mais. Mesmo assim, é risco. Pior. Mais uma vez vai passar a imagem de que o Brasil está vencendo a doença. Ainda não está. A vacinação avança, mas ainda longe de ser ideal. Há uma CPI para investigar por que o governo não comprou as vacinas e demorou tanto para acreditar no perigo da pandemia. Mesmo nos jogos da Eurocopa, com torcedores em todos os estádios, o que se viu foi uma nova onda de contaminação nesse vai e vem de torcida em locais e transportes públicos. É cedo para abrir os portões tanto para a Copa América quando para o futebol brasileiro.

É questão de acreditar ou não na doença. É questão de ter um familiar ou amigo morte durante a pandemia. É questão de esperar um pouco mais para poder sair de casa com mais segurança. Todos nós queremos voltar aos estádios, mas ainda é cedo. Em relação à Conmebol e às tratativas feitas com CBF e governo de Jair Bolsonaro, só há a lamentar a falsidade e mentira, sem falar de mudar o combinado. Mas, confesso, não é nenhuma surpresa.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.