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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Justiça do DF tem chance de 'mudar condutas' tomando como base o caso de racismo de Nelson Piquet contra Lewis Hamilton

Ofensas racistas e preconceituosas no esporte começam a ter caminhos punitivos, de modo a servir de exemplo para outros que possam fazer a mesma coisa

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

A ação judicial contra o tricampeão Nelson Piquet no caso do piloto inglês Lewis Hamilton pode ser um divisor de águas no esporte. O caso está em Brasília (DF), com a possibilidade de uma indenização de R$ 10 milhões, pedidos como forma de "punição" ao brasileiro por entidades nacionais que cobram reparação de dano moral coletivo e dano social infligidos à população negra, comunidade LGBT+ e ao povo brasileiro de modo geral. Pelo trâmite da lei, Piquet tem 15 dias para fazer sua defesa. Se não fizer, deve ser condenado e terá de meter a mão no bolso.

Não se trata de arrancar dinheiro do tricampeão, mas de saber que os casos podem parar na Justiça e ter seus envolvidos punidos. Punição para esses casos de racismo ou de qualquer outro tipo de preconceito no esporte pode ser uma saída para tentar mudar condutas, uma vez que todas as campanhas no sentido de coibir tais atos e educar as pessoas nas praças esportivas se perdem e têm se mostrado de pouca eficiência. Piquet pode ser sim o bode expiatório para uma transformação nesse sentido.

Foto: FIA Foto: Estadão

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Se educar não traz resultados, a punição pela Justiça pode ser um caminho mais efetivo, apesar de duro. Piquet se desculpou, tentou explicar porque chamou Lewis de "neguinho", mas o fato é que não conseguiu convencer ninguém. Agora, o caso está na Justiça do DF. A lei pode ser aplicada para qualquer caso dessa natureza. As pessoas estão sendo identificadas, por exemplo, nos estádios de futebol. Basta tomar como base os casos envolvendo os torcedores argentinos do Boca Juniors. Eles foram presos e tiveram de pagar fiança de R$ 20 mil para deixar a cadeia. Processados, podem perder mais dinheiro e aí começar a sentir na pele, e no bolso, seus atos racistas e preconceituosos.

Eles vão servir de exemplo (negativo) para outros que pensam em fazer a mesma coisa, ou se sentem tentados. Poderão ainda ser presos, conforme prevê a lei. O Brasil começa a mudar o comportamento dessas pessoas. Há muito, mas muito ainda a ser feito. O caso Piquet/Hamilton é apenas um entre tantos que acontecem diariamente por aí. Mas ele pode se transformar até num exemplo a ser lido e discutido em salas de aulas, de modo a ensinar nossas crianças e adolescentes sobre o tema, sobre o certo e o errado, sobre as leis e suas consequências, sobre a igualdade e o respeito, sobre práticas velhas e abomináveis...

Quando as coisas não mudam com rupturas, elas mudam aos poucos, com ações aqui e acolá, com exemplos a serem seguidos e exemplos a serem condenados. Daí a importância do caso Piquet/Hamilton no Brasil.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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