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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Não há dúvidas de que a seleção brasileira está sendo usada politicamente na Copa América

Tite disse que não politizou a competição, mas reconhece que isso aconteceu envolvendo seu nome, Na Copa da Rússia, em 2018, ele admitiu que não iria a Brasília caso ganhasse o Mundial (o presidente era Michel Temer); não deve fazer agora caso vença a Copa América

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

A seleção brasileira está sendo usada politicamente na Copa América. Parece não haver mais dúvidas em relação a isso. O presidente Jair Bolsonaro faz questão de se valer da competição que ele trouxe para o Brasil, juntamente com a CBF e a Conmebol para promover seus aliados e, com isso, dar o recado através das jogadas de Neymar e companhia, sob as orientações de Tite e sua comissão. Bolsonaro defendeu a Copa América, mas não foi na partida de abertura entre Brasil e Venezuela, domingo, no quintal de sua casa, em Brasília, no Estádio Mané Garrincha. Ele e todos os membros do governo preferiram ficar no sofá. Ninguém apareceu, inclusive para surpresa do representante da CBF, Walter Feldman.

 Foto: Estadão

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Foto: Twitter Jair Bolsonaro

Mesmo assim, Bolsonaro postou foto dele diante de uma TV, mostrando o logo do SBT, que transmite as partidas da Copa América, em recado subliminar contra a Rede Globo, que já teve os direitos de transmissão do torneio, mas não tem mais por ora. "Não adianta os pessimistas torcerem contra, com Bolsonaro o Brasil sempre vence", postou o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, também se valendo da imagem da seleção, que venceu por 3 a 0, para fazer política.

Tite esclareceu no sábado algumas situações sobre o ambiente do time. Uma delas foi ver seu nome envolvido na guerra política pós e contra o governo Bolsonaro nas redes sociais. Uma hashtag #ForaTite foi criada há duas semanas, quando os jogadores acenaram pela primeira vez que não queriam a Copa América no Brasil, na contramão do desejo do presidente da república.

"Isso não tem viés político nenhum (da nossa parte), isso tem uma crítica direta à Conmebol e a quem decidiu da CBF trazer a Copa América. Ela (a crítica) não tem viés político e eu tenho um respeito muito grande a tudo isso e à minha história. Eu não tenho partido político nenhum ao longo da minha trajetória, não tenho, sempre votei em pessoas, não em partidos, por isso me sinto em paz para falar. Politizaram essa situação, infelizmente politizaram", disse o treinador.

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A politização não parou nas manifestações do governo em favor da competição. Ela também gerou uma confraria em torno do SBT, como se o canal fosse o aglutinador dessas posições. O presidente da Havan, por exemplo, anunciou na quinta-feira que patrocinaria a transmissão dos jogos da Copa América na emissora de Silvio Santos. Ligado ao presidente Bolsonaro, o dono da Havan, Luciano Hang, festejou nas redes sociais o acordo com a emissora. "Tenho certeza de que será uma competição que irá alegrar toda a população brasileira. Nós temos um slogan na Havan de que 'Patrocinar é acreditar' e a Havan acredita no SBT e no Brasil. Estamos todos juntos torcendo pela nossa seleção e pelo sucesso desta competição", disse.

O uso política da Copa América e do SBT é bastante claro num Brasil que se aproxima de registrar 500 mil mortos pela covid-19, atualmente voltando a registrar a média de 2 mil mortes por dia e com suas UTIS nos hospitais com ocupação acima dos 80%. Na véspera de começar a competição, 13 membros da seleção da Venezuela foram diagnosticados com a doença no Brasil. Outros jogadores da Bolívia também se contaminaram. Nesta segunda, já no Rio, quando fará sua estreia diante do Chile, Messi admitiu temer a doença no país-anfitrião. A Argentina preferiu ficar em Buenos Aires e só entrar no Brasil 24 horas antes de suas partidas.

O SBT também publicou um manifesto sobre sua posição na Copa América, esclarecendo seus interesses comerciais no futebol. "O SBT decidiu voltar a disputar os direitos de futebol e, com profissionalismo e respeito aos demais concorrentes, tem sido vencedor em torneios relevantes como a Libertadores, Champions League, Europa League, Copa do Nordeste e Copa América. O SBT faz isso porque acredita que o futebol, sendo o esporte mais popular de todos e de grande atração de audiência, é uma combinação perfeita com uma emissora popular como a nossa, tão querida pelo público. Ao SBT, cabe informar com isenção, como tem feito desde o início da pandemia, para a devida conscientização sobre a importância do uso de máscaras, do distanciamento social, da não aglomeração de pessoas e desejar que consigamos avançar rapidamente com a vacinação de toda população para assim superarmos essa enorme crise que tantas vidas já levou em nosso país e no mundo e pelas quais lamentamos e nos solidarizamos."

Muitos do governo que defenderam a Copa América alegaram que ela seria mais um campeonato de futebol a ser jogada no Brasil, como tantas outras que estão em andamento no País.

Não é. Não está descartada a presença de Bolsonaro em outras partidas do Brasil na competição, principalmente se o time avançar nas fases agudas. Antes da Copa do Mundo da Rússia, em 2018, Tite declarou ao site R7 que não pretendia ir a Brasília se o então presidente Michel Temer o chamasse e a seus jogadores caso a seleção vencesse a disputa. "Eu não vou para Brasília antes ou depois da Copa do Mundo. Já estou decidido. Nem se for campeão", disse à época. Isso também não deve acontecer no governo de Jair Bolsonaro se o time for campeão no dia, no Maracanã.

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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