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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|O problema da seleção vai muito além de Dunga no comando

A resposta passa pela falta de governabilidade de Del Nero e da CBF, independentemente dos próximos passos. Não há mais crédito em seus atos, mesmo se um dia eles forem corretos

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Dunga terá nesta terça-feira seu dia D no comando da seleção. Não é a primeira vez. Talvez fique para quarta. Desde que vestiu a camisa do Brasil na Copa do Mundo de 1990, Carlos Caetano Bledon Verri vive dias de glórias e dissabores com a amarelinha. Quando era jogador, parecia ter mais o controle da situação, ou que soubesse mais o que estava fazendo. Defendia a seu modo, quase sempre eficiente. Na condição de comandante, de chefe, de técnico, de gestor, não sabe para onde correr, como demonstrou sua fisionomia, em pé à frente do banco de reservas, após o gol do Peru na Copa América dos EUA, domingo - resultado que traria sua trupe de volta para casa. Dunga não reagia, parecia não entender o que estava acontecendo.

 Foto: Estadão

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Em dois anos, reuniu os melhores jogadores do Brasil sem conseguir transformá-los em um time, sem tempo para treinar e mudando peças e esquemas a cada fracasso amargado. Suas concepções sobre futebol dizem respeito ao que aprendeu jogando. Nunca teve a sorte, tampouco a oportunidade, de comandar um time do futebol brasileiro numa temporada inteira, começando pelo Estadual e amadurecendo até chegar em disputas maiores. Não caminhou pela trilha do aprendizado como todos os seus colegas de profissão. Foi um nome 'inventado' pela cúpula da CBF. Sua culpa é tão grande como é daqueles que o levaram para o posto, e por duas vezes - a primeira desaguou no fracasso do Brasil na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. A segunda...

Mais do que condenar Dunga, condição meio óbvia após o fracasso na Copa América num grupo em que tinha ainda Equador, Haiti e Peru, é preciso apontar as falhas de quem comanda a CBF. Marco Polo del Nero (foto) fez uma aposta errada e precisa responder por isso. Imediatamente. Ocorre que o Brasil tem uma Olimpíada para disputar daqui a 50 dias e isso traz um grande ponto de interrogação sobre o que fazer. Demitir Dunga ou apostar nele para o ouro olímpico? Mudar ou continuar? A decisão de trocar, embora dura para o futebol brasileiro novamente, é o mais fácil desse imbróglio. Duro é saber quem escalar no lugar. Tite está na boca do povo. Mas e se ele não aceitar? E se não quiser se envolver com os que estão aí na CBF?

É inegável que o comando da CBF não atende mais às exigência do torcedor brasileiro, se é que um dia atendeu. Há muito descrédito no futebol nacional, nos Ricardos Teixeiras, Marins e Del Neros. A onda de corrupção que assolou o futebol mundial atingiu a CBF, seus dirigentes, como Del Nero, e tudo o que envolve a organização do futebol da seleção. Nada que Del Nero faça com Dunga, mantendo-o ou demitindo-o, vai mudar o que paira sobre seu comando à frente da entidade. Já não se trata mais de corrupção ou de provar sua inocência das acusações que sofre, como é do seu direito. O torcedor não acredita mais na entidade, e em tudo o que ela representa, em seus dirigentes, trabalho, boas feitorias. Nada cola mais, mesmo que a coisa certa esteja sendo feita. Não há mais governabilidade nas ações da CBF, de Del Nero e de seus pares de anos ou décadas. Qualquer caminho a ser apontado agora é olhado com desconfiança, sem credibilidade, quase indiferente. A única certeza, nesse caso, é de que nada vai mudar.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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