O que mais me incomoda na decisão de Fábio Carille de deixar o Corinthians é o fato de ele ser um debutante na carreira, com um ano e alguns meses de treinador principal entre idas e vindas como interino, e boas temporadas de auxiliar técnico. Carille tinha uma avenida para percorrer dentro do futebol brasileiro, poderia ter um plano de carreira para, quem sabe, bater na Europa e deixar a todos nós mais orgulhosos dele. Claro, porque todos nós temos certa ponta de orgulho quando um brasileiro chega lá, como jogador, como treinador, em qualquer função no futebol, porque futebol é o que sabemos fazer de melhor, gostem ou não.
Então, quando surge um craque fora das quatro linhas, à frente do banco de reservas, logo endeusamos, ainda mais quando esse cara ganha dois paulistas e um brasileiro, trabalha num dos maiores clubes do Brasil e continua nas pegadas deixadas por dois outros grandes, Mano Menezes e Tite. Carille precisou de meses apenas para ganhar o País, e não me refiro apenas aos corintianos.
E de repente chega uma oferta da Arábia Saudita, onde não falta dinheiro, mas numa terra que carece de futebol, para bagunçar a cabeça do treinador mais promissor do futebol brasileiro. Carille se perdeu na oferta, na quantidade de dinheiro e até nas declarações exageradas. Domingo, ele disse que a imprensa mentia, referindo-se a uma proposta que ele jurava desconhecer vinda dos sauditas. Como o Al-Hilal se acertou antes, o outro time do país resolver contratá-lo. Trata-se do Al-Wehda. Vai ganhar perto de R$ 1,2 milhão por mês, em pacote fechado pela temporada que recomeça em agosto.
Foi pelo dinheiro e não pelo futebol. Não há como condená-lo por isso. Há apenas muita decepção com sua decisão. Decepção porque o fez por dinheiro. Fosse para trabalhar num centro importante, Europa, a dor seria menor. O Corinthians nem o deixará se despedir da torcida. Loss, seu auxiliar, assume o posto. Estava tudo armado já.
Há um outro motivo que também ajudou Carille a se decidir. Ele e o presidente Andrés Sanchez não se bicam. Uma hora essa condição ficaria explícita e aí o dirigente demitiria o treinador, como sempre acontece nos fracassos. Por isso tudo muito acelerado para encaminhar a situação. Carille vai e voltará um dia. Mas terá de recomeçar do zero no futebol brasileiro.