Embora alguns vejam naturalidade nas lágrimas e defendam até o capitão Thiago Silva, muitos torcedores estão receosos com a fragilidade emocional da seleção brasileira

Gabriel Gama, Adilson Chinna, Bruna Chagas, Emanuel Leite Jr, Jorge Macedo, Lara Monsores, Luiz Fernando Teixeira, Lyvia Rocha - especial para o Estado de S. Paulo
BELO HORIZONTE, BRASÍLIA, CUIABÁ, FORTALEZA, MANAUS, RECIFE, RIO DE JANEIRO, SALVADOR - O choro de alguns jogadores da seleção brasileira antes da cobrança de pênaltis contra o Chile, no último jogo no Mineirão pelas oitavas de final da Copa do Mundo, dividiu opiniões dos brasileiros com relação à postura emocional dos nossos craques dentro de campo. Chamaram a atenção em especial as lágrimas derramadas pelo capitão Thiago Silva, maior alvo de críticas e elogios por parte da torcida.
A Seleção Universitária correu o País para revelar o que os brasileiros das diferentes cidades-sede da Copa acharam sobre o episódio, que abalou a confiança na possibilidade do hexa.
"No momento em que a gente mais precisava do capitão, ele sumiu. Tudo bem se ele não se sentia confortável para bater o pênalti, mas quem deveria levantar o moral e transmitir confiança ao grupo era ele, e não o Paulinho, como aconteceu", disse Rodolfo Coelho, de Belo Horizonte.
Ainda na capital mineira, houve quem defendesse o capitão. "A torcida brasileira não pode crucificar os que choraram em campo. Eram eles quem estavam sentindo na pele aquele momento e não os torcedores que viam tudo de fora", afirmou Weverton Pereira.
Em Salvador, muitos viram fraqueza na atitude do time, que ficou cabisbaixo diante da possibilidade de derrota. "Fica ridículo. Eles querem já deixar essa desculpa do emocional pronta se perdermos a Copa", disse o porteiro Leandro Neto. O comerciante Júlio Soares, também da capital baiana, lembrou da responsabilidade do técnico. "Felipão tem que dar um jeito nisso", afirmou. "Minha mãe já dizia que tem horas que temos de engolir o choro e erguer a cabeça. Eles estão emotivos demais."

O desequilíbrio dos jogadores fez com que muitos torcedores se pertaguntassem sobre a capacidade da seleção para ganhar o título diante da pressão, especialmente jogando em casa. Para Pedro Milfont, do Recife, o problema do choro foi ele ter vindo antes da disputa de pênaltis. "Chorar após a disputa é que é comum", disse. "Foi uma demonstração de que o medo de uma derrota em casa é maior do que o desejável. E isso atrapalha demais o time."
Apesar de muitos interpretarem o choro como fragilidade, também houve quem defendesse os chorões.
No Rio, alguns brasileiros foram compreensivos com o momento do capitão e eximiram Thiago Silva de qualquer acusação de fraqueza. A superação da tuberculose foi o principal ponto levantado pelos torcedores ao tentarem justificar o choro do zagueiro.
"Depois de ter passado por um momento difícil com a doença e chegar a uma Copa do Mundo, tudo isso traz uma carga emocional muito grande", avaliou o servidor público Felipe Rocha, em argumento endossado pelo estudante de direito Oswaldo Coelho, que considerou normal a resposta do jogador àquele momento de tensão. "Havia tanta pressão que só de pensar em ser eliminado ele teve essa descarga emocional", disse. "Acho até que foi um fator de motivação."
Tetracampeão com Brasil em 1994, o ex-jogador e hoje membro do COL, Bebeto, destacou o resultado da partida para defender o momento de emoção dos jogadores. "Atrapalha o quê?", questionou. "O Brasil está ganhando e esses meninos estão fazendo de tudo para trazer o hexacampeonato para a gente."

Em Fortaleza, a torcedora Jucileide da Silva também não acha que a emoção possa prejudicar os jogadores. "Pelo contrário, o choro desmonstra sentimento, emoção. E, mostra que o jogo é muito importante na vida do jogador, não só pelo dinheiro", disse.
"As lágrimas ali foram resultado de uma descarga emocional, resultante de duas coisas inegáveis: a enorme pressão de ter que vencer em casa, jogando bem e a sensação de que o desempenho da equipe ficou aquém do esperado e desejado", opinou o professor de Literatura da Universidade Federal do Amazonas, Carlos Guedelha.
Sobre toda a pressão existente para quem participa do torneio, o mecânico Silvanildo Cardoso, de Cuiabá, sintetizou o mesmo argumento de muitos. "Eles são profissionais e deveriam estar acostumados", disse.

Em Brasília, o público também se dividiu com a polêmica. "Nos momentos decisivos, o choro do Thiago Silva como capitão, não pode ocorrer. O Júlio César antes dos pênaltis se desmanchou em lágrimas, isso assusta e transmite insegurança para o grupo e torcida", falou Carlos Garcia Júnior. Radialista na capital federal, Rener Lopes ponderou sobre o momento em que emoção pode vir a tona. "O choro é válido no momento da comemoração. Fora isso, não me parece ser algo saudável", afirma. "Quem deveria chorar somos nós torcedores por causa desse futebol medíocre que os jogadores estão apresentando."
O Brasil joga contra a Colômbia em Fortaleza nesta sexta-feira, 4, em partida válida pelas quartas de final da Copa do Mundo. A vitória leva a seleção para a semi-final em Belo Horizonte na terça-feira, 8. De todo o País, fica a torcida para que o time do Brasil dê a volta por cima e não deixe a emoção afetar o rendimento em campo.