Renato Machado - Seleção Universitária - especial para o Estado
SÃO PAULO - A rotina da comunidade nigeriana da capital paulista mudou um pouco nesta segunda-feira, 17. Por conta da estreia do país na Copa das Confederações, africanos deixaram seus deveres para assistir ao jogo em um restaurante no centro da cidade. Eternamente ligados à pátria que deixaram, eles buscam na convivência com os irmãos de terra manter o elo com o que ficou para trás: o futebol é a ferramenta. O jogo entre Nigéria e Taiti não foi um primor técnico, mas os seis gols marcados pela equipe atual campeã da Copa Africana de Nações colocaram o sorriso nos rostos daqueles que vivem tão longe de casa.
O local da festa improvisada foi a região da Praça da República, centro de São Paulo, onde normalmente a colônia nigeriana se reúne pelos negócios e pelas celebrações. Mais precisamente nas ruas Conselheiro Nébias e Guaianases, onde também estão os cortiços em que moram. A alteração no dia a dia, porém, não mudou o cardápio. No copo, conhaque, no prato, akpy-ofe. A refeição típica é feita de carne de frango na panela com molho de onygby (uma planta comum na costa oeste da África) e acompanha uma massa de pão, o akpy, usada para embeber o caldo restante no prato. Tudo isso ingerido com muito gosto apenas com o uso das mãos. Ao final, os dedos com o óleo da iguaria recebem uma bacia d'água, na própria mesa, para a limpeza apropriada.
Os nigerianos chegavam, cada um em seu horário, todos pelo motivo maior: ver a seleção da Nigéria. Olhos atentos na TV, é a entrada dos jogadores em campo - primeira participação da equipe na Copa das Confederações desde a edição de 1995, quando o torneio ainda se chamava Copa Rei Fahd. Os trinta nigerianos que se juntaram para assistir à partida não haviam combinado. Iam chegando aos poucos, durante o jogo. Dentre eles, as gargalhadas do moço baixo, careca e de olhos vivos chamava atenção.
Há sete anos no brasil, Phillip Ntuba, deixou a cidade de Ino State com sua filha, em busca de oportunidades no comércio informal. "Viemos para vender correntes, relógios, essas coisas", disse Philip, que afirmou estar feliz com a vinda para o Brasil. "Na Nigéria, todos falam que aqui tem boas oportunidades", conta. Em cada gol da seleção nigeriana, enquanto seus amigos riam e comemoravam, o simpático comerciante se levantava e celebrava com uma malemolente dança, girando em torno do próprio eixo."É muito fraca", brincou em relação à amadora seleção do Taiti.