O 'Dia das Mães' de 2020 vai ficar lembrado pra sempre.
Infelizmente de um jeito nada agradável... com a obrigação do distanciamento.
Ficar longe delas alguns dias já é difícil.
Meses então... sem comentários.
Mesmo quem se acostumou com a saudade, vai sentir um friozinho diferente na barriga neste final de semana.
Atletas de alto rendimento viajam o mundo, muitas vezes sozinho... sem o amparo e carinho daquele colo que só elas são capazes de nos dar.
Com o surfe não é diferente.
Para vencer no esporte é preciso soltar as amarras.
Dividir os desafios e aventuras muito mais com técnicos e amigos, do que com o calor familiar.
Elas podem até fazer de conta que ficam bem longe da cria - ou não, né?
Simone Medina, por exemplo, já sofreu bastante.
"No começo não foi fácil, o primeiro ano do Gabriel no WCT (2011), em Pipeline, fiquei sem dormir, pedia a Deus para o mar baixar e baixou tanto que ficaram adiando as provas. Até que Gabriel pediu para que eu parasse com aquilo, senão não haveria campeonato. E, a partir daí, entendi que o que o deixava feliz era o mar grande e onda grande. Ver um filho realizando um sonho é demais. Quando vi Gabriel sendo pela primeira vez campeão do mundo foi mágico, como se ele tivesse nascido de novo. Com a Sofia (outra de seus filhos, de 14 anos, também surfista) vivencio um outro círculo da vida, pois minha insegurança não é tão grande hoje. Lógico que me preocupo em lugares com risco de tubarão, por exemplo, mas evito passar esse tipo de medo para eles. Fico feliz em vê-los correndo para o mar, pois a felicidade deles é mais importante do que qualquer circunstância".
Respirar fundo durante as sessões de surfe da família também faz parte da rotina da Mari, mão de Filipe Toledo.
"Morro de medo do mar e a vida inteira precisei lidar com isso vendo o Ricardinho (marido e ex-surfista) colocando as crianças na água desde cedo. Mas meus filhos sabem os seus limites. Tenho 4 (Matheus de 29 anos, Filipe de 25, Davi de 21 e Sofia de 19) e todos surfam, mas atualmente apenas Filipe compete profissionalmente. A sensação de medo aumenta quando vejo Filipe numa onda com fundo de corais ou em ondas muito fortes. Coração de mãe é assim mesmo e ele faz muito bem o seu papel. Ainda vou sentir a emoção de ver meu filho sendo campeão mundial".
E o que será que a mãe de um ídolo chega ao topo do mundo?
Com a palavra, Katiana Batista, mãe do Ítalo Ferreira.
"Sinto muito orgulho do Ítalo, que trabalhou pesado para chegar onde está e nem consigo descrever em palavras esse título conquistado por ele. É ainda um sonho que estamos vivenciando e um momento que vamos levar para a vida toda. Independentemente de já estar acostumada a assistir as competições dele, como mãe ainda tenho receio em vê-lo pegando grandes ondas. Mesmo que ele treine e se dedique muito e surfe bem, o frio na minha barriga sempre vem, pois o surfe não depende exclusivamente do surfista, mas muito das condições da natureza".
Viver o perigo é especialidade do Lucas Chumbo, competidor do mundial de ondas gigantes.
E a mãe dele, Michele Cabral, ainda tem que se preocupar com o mais novo.
João Chumbinho corre as etapas do WQS.
"Esse mundo dos esportes radicais exige muito do emocional e sempre fez parte de nossas vidas. Acostumei com o mar gigante, mas a tensão é eterna. Até hoje não consigo ver um campeonato do Lucas ao vivo. Quando entra no mar, fico nervosa e, ao mesmo tempo, feliz. Graças à tecnologia, consigo administrar melhor as emoções. É uma explosão de sentimentos: gratidão, reconhecimento e felicidade".
Os parabéns pra lá de especiais em 2020 vão para quem vai comemorar a maternidade pela primeira vez.
Além da paixão pelo mar, as surfistas Marina Werneck, Claudia Gonçalves e Nicole Pacelli têm em comum o fato de terem se tornado mães em fevereiro de 2020.
Craques que temporariamente trocaram pranchas, parafinas e ondas por fraldas, amamentação e algumas noites mal dormidas.
Marina está encantada com Moana, Claudinha é mãe totalmente entregue à Clara e Nicole diz que faz todo o sentido ser mãe de Rudá. O amor é total, mas as atletas não escondem também a vontade de voltar a surfar.
"Minha vida mudou completamente e para melhor! Meu filho faz eu querer dar o melhor de mim todos os dias e viver o presente. Comecei a dar valor a coisas mais simples e básicas do dia a dia, a maternidade me trouxe isso", comemora Nicolle, campeã mundial de Stand Up.
A carioca Marina Werneck, já cruzou o mundo atrás das melhores ondas e conquistou vários títulos. Começou a competir aos 12 anos. Chega aos 32 realizada como mãe e se adaptando à nova rotina. "Nestes quase três meses de maternidade o aprendizado é gigante, um momento de total entrega e conexão com minha filha. É mágico, mas de grande responsabilidade"
No domingo, Marina terá um Dia das Mães mais que especial: "Vamos passar pela primeira vez as quatro gerações juntas, minha mãe e avó estão em casa".
A paulista Claudinha considera esse o momento mais desafiador e incrível de sua existência: "Me sinto a mulher mais completa e forte do mundo. A maternidade é intensa, exaustiva e transformadora. É uma sensação de pertencimento e cumplicidade que jamais imaginei sentir".
Assim como Nicole, ela surfou até os oito meses de gestação e não vê a hora cair no mar.
"Surfar grávida foi umas das experiências mais emocionantes que vivi, um privilégio! Quando tudo isso passar pretendo revezar ondas e mamadas, porque o pediatra já liberou levar a Clarinha para a praia"
É difícil demais para um homem escrever e descrever a sensação.
Dissertar sobre a força, resiliência, paciência, determinação e interação.
A capacidade única de enxergar e tocar o mundo com a cabeça e o coração.
Só me resta celebrar.
Agradecer a chance de conviver com mulheres incríveis.
Eu e meu irmão Rodrigo fomos abençoados pela poderosa Isis sempre por perto durante 5 décadas.
E meu lindo Pedro - de quase 12 anos - sabe bem como é ter a compreensão e o amor diário da Pricila.
Viva as mães!!!
#vivaosurfe
#vaipassar
editado por @thiago_blum
entrevistas e texto: Mércia Suzuki - Casa do Bom Conteúdo / assessoria da WSL