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Conversa de pista

Opinião|F-1 e pressa são incompatíveis

Disputa entre Alpine e Oscar Piastri pode estabelecer jurisprudência.

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Atualização:

ingressar no seleto clube de pilotos da Fórmula 1 (foto de abertura/Formula1.com) é um processo longo, custoso e, mais comum do que raro, frustrante. Nesse processo é preciso ir rápido e firme, mas a pressa raramente contribui para obter bons resultados. Há aqueles que chegam apoiados por corporações que praticamente compram uma vaga e há outros que convencem equipes a apostar em suas carreiras. A estreia de um jovem aspirante na categoria geralmente é motivo de festa e otimismo que chega a contagiar todo o paddock. Há casos, contudo nos quais a carreira do piloto é interrompida ou a estreia não acontecem por decisões intempestivas, casos de Guido van der Garde e o recente entrevero envolvendo Oscar Piastri e a equipe Alpine.

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No primeiro caso, o piloto holandês, que disputou a temporada de 2013 na equipe Caterham, garantiu sua presença na equipe Sauber 27 horas antes do primeiro treino para o GP da Austrália de 2015 e graças a uma decisão da Suprema Corte australiana. Para essa temporada a equipe suíça inscreveu como pilotos oficiais o brasileiro Felipe Nasr e o sueco Markus Ericsson. Diante da decisão judicial que levou em conta um acordo anterior que garantiu apoio de patrocinadores ao time, a equipe iniciou uma série de manobras para demonstrar que não seria possível cumprir a ordem. As alegações variaram desde o despreparo de van der Garde para estrear na F-1 até a alegação de que os carros estavam preparados para Nasr e Ericsson.

Quando os treinos oficiais iniciaram na sexta-feira Guido van der Garde apareceu vestindo o macacão de Marcus Ericsson e seu próprio capacete no box da Sauber, mas ninguém da equipe lhe deu atenção: todos se recusaram a lhe dirigir uma única palavra. Interferências externas contornaram o problema e o piloto holandês nunca mais se aventurou a entrar na F-1.

O caso de Oscar Piastri se assemelha ao de Guido van der Garde, porém aqui é o piloto que não quer correr pela equipe que apoiou sua carreira nos últimos quatro anos. Quando disputava a temporada de 2018 da Fórmula Renault Eurocup, o australiano de Melbourne começou a se aproximar da Renault e em 2019 venceu o campeonato. Integrado à academia de pilotos do time francês, Piastri conquistou os títulos da FIA para F-3 (em 2020) e F-2 (2021), fato inédito na história das categorias de acesso à F-1. Isso garantiu sua ascensão ao posto de piloto reserva em 2022 e o colocar em primeiro lugar na fila para assumir uma vaga na equipe Alpine.

De acordo com o departamento da Federação Internacional do Automóvel (FIA) que analisa e julga a validade de contratos entre equipes e pilotos, Piastri tem direito de correr por outra equipe em 2023. A própria Alpine indicou várias vezes que, caso Piastri não fosse promovido à sua equipe para a próxima temporada, ele teria lugar em outra escuderia na condição de empréstimo. Diante da demora do time francês em acertar a renovação de contrato com Fernando Alonso - que acabou se transferindo para a Aston Martin -, Mark Weber, ex-piloto e atual empresário de Piastri, buscou outras oportunidades e teria acertado a contratação do seu cliente pela equipe McLaren.

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Aqui a história fica ainda mais turva: os atuais pilotos da equipe de Woking - Lando Norris e Daniel Ricciardo -, têm contratos que garantem sua permanência até o final de 2023,, no caso do australiano. Diante dos fracos resultados do piloto de Perth desde que trocou a Alpine pela McLaren, o exercício do seu contrato [passou a ser discutido cada vez mais e se tornou público depois que Zak Brown, executivo maior da casa, ter admitido a existência de "mecanismos que podem interromper o contrato "com o piloto. Não demorou muito para Ricciardo divulgar um comunicado que está disposto a permanecer na equipe até o final do acordo.

Posto isso, é muito cedo para responder questões básicas. Ricciardo será mesmo desligado da McLaren? Piastri será seu substituto? A Alpine vai processar Piastri por perdas e danos face ao investimento que fez em sua carreira? A imagem do jovem australiano será estigmatizada no seleto clube de pilotos da F-1? Qualquer que seja o desfecho dessa história, de hoje em diante os contratos das equipes com jovens pilotos será ainda mais leonino em favor das equipes: até hoje nenhuma escuderia pediu ressarcimento por investir em um contratado que abandona o projeto.

Opinião por Wagner Gonzalez
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