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Conversa de pista

Opinião|É preciso rever conceitos

Temporada internacional começa e uso de Interlagos segue conturbado.

Atualização:

Temporada internacional começa e uso de Interlagos segue conturbado

Pipo Derani e Felipe Nasr tiveram problemas de câmbio e temrinaram em sétimo lugar (José Mário Dias)  

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Outrora um período normalmente morno no universo do automobilismo de competição, o início do ano ganha cada vez mais movimentação tanto nos bastidores quanto no asfalto em várias partes do mundo. Enquanto a onipresente F-1 segue seu caminho pavimentado pelas grandes verbas que decoram carrocerias e macacões, outras categorias seguem pulsando com frequência proporcional aos princípios e capitais que embrulham diferentes pacotes. Enquanto isso o calendário do Campeonato Paulista de Automobilismo, o mais longevo e tradicional do esporte no País, sofre consequências de uma alocação de datas conturbada e vê seu número de etapas reduzido em consequência de uma alocação deturpada de datas.

Equipe Wayne Taylor Racing venceu pelo segundo ano consecutivo as 24 Horas de Daytona (IMSA)  

A temporada internacional começou em patamares mais condizentes com seu potencial comercial e social e mostrando caminhos a seguir entre nós. Tome-se como exemplo as 24 Horas de Daytona disputadas na Flórida, a segunda rodada do Toyota Racing Series na Nova Zelândia e o Troféu Ayrton Senna de Kart em Birigui, no Interior paulista, eventos que servem para delinear propostas para o automobilismo verde-amarelo em momento de crise.

Igor Fraga é vice-líder na Toyota Racing Series, que tem terceira etapa no fim de semana (Toyota)  

Tal como esses dois eventos, o I Troféu Ayrton Senna mostrou que o kart brasileiro tem potencial de crescimento suficiente para trazer consequências positivas para o estágio seguinte, o automobilismo. A competição disputada em Birigui explorou o potencial comercial do kart, modalidade que mais cresce no esporte a motor nacional, ao lado da categoria Gold Classic, que este ano estreia no automobilismo de São Paulo como Open Paulista e tem grid comparável ao Campeonato Brasileiro de Turismo Nacional. Digitado tudo isso, o que falta para recolocar o esporte praticado entre nós em uma agenda positiva?

Promover corridas no Brasil, como em qualquer parte do mundo, tem um preço formado por itens que vão do aluguel do autódromo aos serviços essenciais (cronometragem, secretaria de prova, segurança, resgate) passando pela remuneração de comissários desportivos, técnicos e de pista, e chega ao consumo de água, eletricidade e danos ao mobiliário dos autódromos. O rateio dessas despesas é o que define o valor das inscrições de uma prova, onde o promotor, seja ele quem for, visa obter lucro para ter capital de giro e continuar promovendo novos eventos. Há de se lembrar que o custo das inscrições é reduzido graças a ações paralelas, como eventos extras durante a programação e exploração de serviços variados.

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Praticar o automobilismo nunca foi um esporte barato e até hoje é uma atividade com aura de aristocracia, algo irreal desde vários anos. Ninguém é obrigado a correr de automóvel, como tampouco é obrigado a jogar futebol ou praticar arco e flecha, porém, para praticar qualquer atividade, esportiva ou não, existe a necessidade de uma infraestrutura básica. Há de se compilar resultados, atender demandas, divulgar decisões e propostas e criar condições para que novas propostas sejam discutidas e dúvidas sejam esclarecidas.

No automobilismo brasileiro poucas federações, entre as quais inclue-se a Federação de Automobilismo de São Paulo, entre as 21 que constam do site da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) oferecem essa estrutura, algo que implica em obrigações triviais de quem tem uma sede que opera 365 dias por ano e gera despesas de IPTU, água, IPTU, luz, pessoal, telefone e por aí afora. Vale notar que não foram mencionados investimentos para pesquisar e desenvolver novos projetos. Ao contrário do que muitos afirmam categoricamente, não é da emissão de carteiras de filiação, que tem preço padronizado e controlado em todo o País pela CBA, que as federações geram recursos para cobrir seus custos operacionais, mas de taxas de supervisão e pequeno percentual nas inscrições.

Explicada essa estrutura nota-se uma situação bizarra no uso do Autódromo de Interlagos, que tem parte considerável do seu calendário reservado para atividades extra-desportivas e para a execução de eternas obras voltadas para a realização do GP do Brasil de F1. O sistema de alocação de datas do autódromo privilegia eventos internacionais, nacionais e regionais em ordem decrescente de importância. Por esse motivo este ano levou-se em consideração eventos inexistentes no calendário da Federação Internacional de Motociclismo para conseguir data extra para usar o autódromo. É o caso um campeonato sul-americano de motociclismo que não tem provas no Brasil, como se comprova no itens 130 a 135 do calendário publicado no site da Federação Internacional de Motociclismo, páginas que podem ser visualizadas neste link.

Mais: a temporada 2020 da SuperBike Brasil, uma das associações de motociclismo que utiliza o traçado paulistano, apresenta um calendário de 10 datas, sendo que três delas acontecem em Curitiba, Goiânia e Juiz de Fora e oito em Interlagos, além de três datas para a Copa Pirelli, claro prejuízo ao automobilismo. Não bastasse isso uma associação com sede e foro no Estado do Rio de Janeiro, a Sulmerj, também solicita datas na pista paulistana em detrimento do Campeonato Paulista de automobilismo. Em resumo, a Federação de Automobilismo de São Paulo, cujo campeonato há várias décadas é disputado em dez etapas, até o momento tem apenas seis datas garantidas. Menos mal que o site do autódromo de Interlagos informa que o calendário de 2020 ainda está sendo definido, sinal que as anomalias apontadas ainda podem ser corrigidas.

 

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Opinião por Wagner Gonzalez
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