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Conversa de pista

Opinião|F-1 2021: agora é tudo ou...quase tudo

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Atualização:

Domingo a temporada 2021 da Fórmula 1 chega ao final com o mesmo clima de disputa iniciado dia 26 de marco, no Bahrein. O holandês Max Verstappen e o inglês Lewis Hamilton estão empatados em número de pontos, começaram com zero e hoje, após 21 GPs, cada um deles soma 369,5. Em princípio, quem chegar à frente do outro fica com o título, que seria o oitavo na carreira do inglês e o primeiro do holandês. Na hipótese de nenhum dos dois pontuar, o título fica para Verstappen, que acumula nove vitórias (Imola, Mônaco, Paul Ricard, duas vezes no Red Bull Ring, Spa, Zandvoort, Austin e Cidade do México) contra oito de Hamilton (Sakhir, Portimão, Barcelona, Silverstone, Sochi, São Paulo, Lusail e Jeddah). Outros vencedores do ano foram Sérgio Pérez (Sochi), Esteban Ocón (Budapeste), Daniel Ricciardo (Monza) e Valtteri Bottas (Istambul).

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Não é a primeira vez que dois pilotos chegam empatados ao final da temporada: em 1974 Emerson Fittipaldi e Clay Regazzoni desembarcam no circuito de Watkins Glen - circuito na região dos Finger Lakes, ao norte de Nova York - com 52 pontos. Fittipaldi, então correndo pela McLaren Ford, terminou a prova em quarto, atrás de Carlos Reutemann (Brabham Ford), Carlos Pace (Brabham-Ford) e James Hunt (Hesketh Ford). Na corrida que celebrou o GP de número 250 na história da categoria, Regazzoni teve problemas de dirigibilidade em seu Ferrari e acabou em décimo-primeiro, quatro voltas atrás do vencedor.

A F-1 mudou muito desde essa época, onde predominavam as equipes dos chamados garagistas, que construíam chassis em torno de um pacote formado pelo motor Ford Cosworth, caixa de câmbio Hewland, freios Girling e amortecedores Koni. Enviar uma equipe com mais de 20 pessoas para o circuito era considerado uma ostentação desnecessária. Atualmente, esse número representa apenas o número de mecânicos no box, onde trabalha um número maior de engenheiros, estrategistas, assessores para variadas funções, cozinheiros e até condicionadores físicos pessoais, como é o caso da neozelandesa Angela Cullen, sempre ao lado de Lewis Hamilton cada vez que o piloto desce do seu carro.

Dois outros pontos que mudaram crucialmente na categoria dizem respeito à segurança e à ciência aplicada no projeto e construção dos carros, atualmente projetados e desenvolvidos em programas de computador e aperfeiçoados em túneis de vento igualmente virtuais. Estruturas construídas em fibra de carbono e outros materiais compósitos tomaram o lugar de chassis montados a partir de tubos de aço cromo-molibdênio revestidos por placas de alumínio. Os tanques de combustível, então instalados em torno do piloto, foram substituídos por modelos construídos em borracha de alta resistência e encapsulados em uma estrutura atrás do banco do condutor.

As dimensões da célula de sobrevivência ganharam reforços laterais e passou-se a exigir que os pés do piloto devem ficar atrás do eixo dianteiro e, mais resistente, tornou-se mandatório instalar um arco de segurança complementar ao tradicional santantônio. Esse novo equipamento obrigatório envolve a abertura do cockpit e foi inicialmente rejeitado pelos puristas. Construído em titânio, essa estrutura pode superar cargas altíssimas e já salvou a vida de muitos pilotos, inclusive em um acidente entre Verstappen e Hamilton, em Monza. Na ocasião, os dois se tocaram na primeira chicane e o holandês acabou com seu carro em cima do monoposto do adversário.

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Esse episódio marcou uma das escaladas de agressividade na disputa que os dois travaram durante o ano e que teve vários lances dignos de uma boa tertúlia. Em Silverstone, por exemplo, Hamilton tocou a roda traseira do carro de Verstappen na entrada da curva Copse, uma das mais rápidas do circuito. O holandês foi removido ao hospital de Northampton para checar as possíveis do impacto equivalente a 51 vezes a soma do peso do conjunto (752 kg) mais o peso do piloto e da carga de combustível, que na ocasião do acidente era de aproximadamente 100 kg: o episódio aconteceu ao final da primeira volta. 

Como ninguém é santo nessa disputa, a última prova mostrou Max Verstappen explorando ao máximo uma ordem para devolver a liderança do GP da Arábia Saudita a  Lewis Hamilton. O piloto da Red Bull superou o da Mercedes após usar a parte externa da pista quando ambos disputaram uma freada na curva 1. Quando isso acontece, o piloto que tirou vantagem da situação deve devolver a posição, algo que Verstappen o fez diminuindo abruptamente a velocidade do seu carro em um trecho onde todos aceleram a fundo. Hamilton escapou de uma batida de graves consequência com apenas danos menores na asa dianteira direita e venceu a prova.

O panorama atual da guerra entre os protagonistas de 2021 lembra muito o cenário no qual Ayrton Senna e Alain Prost disputaram a temporada de 1990. Os dois dividiram a primeira fila de largada para o GP do Japão e ao se aproximarem da primeira curva o brasileiro simplesmente jogou o francês para fora da pista, clara revanche do episódio de um ano antes, na mesma pista, e que deu o título a Prost.  Não se surpreenda se acontecer algo semelhante no próximo domingo.

 

Opinião por Wagner Gonzalez
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