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Conversa de pista

Opinião|Interlagos, o prefeito e suas artimanhas

Interlagos, o prefeito João Dória e suas artimanhas no processo de desestatização do autódromo paulistano, umdos mais tradicionais do cenário internacional.

Atualização:

O jornal Folha de S.Paulo publicou em sua edição desta segunda-feira (25/4/2017) matéria que trata da possibilidade de que possíveis proprietários do Autódromo de Interlagos possam construir edifícios residenciais dentro da área desse parque público. O processo de privatização do circuito será enviado pelo prefeito João Dória Júnior à Câmara Municipal de São Paulo no mês de maio e deverá incluir autorizações inéditas para aumentar o apetite de interessados em comprar a imóvel para deturpar a atividade fim do local.

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A reportagem não é de todo clara, porém o alerta está dado: o texto do jornal tem cores de balão de ensaio semelhantes à postura do prefeito com relação a Interlagos e outros ativos imobiliários municipais. Desde que foi eleito e iniciou o que chama de processo de privatização de bens públicos como o autódromo, parque Anhembi e estádio do Pacaembu suas colocações à respeito desse processo tem sido pouco claras e muito confusas. As incertezas sobre o futuro desses locais incluem desde valores financeiros ao imóvel até o real destino do local.

Pior do que isso é a difusão de valores que seriam "gastos" com a manutenção do autódromo e a omissão dos números que envolvem a realização do GP do Brasil. Frente ao fato que a corrida gera grande movimentação financeira em serviços ligados ao turismo ninguém divulga os valores cobrados pela Formula One Management (FOM, a empresa que detém os direitos comerciais do Campeonato Mundial de Fórmula 1) para realizar a corrida, quem efetivamente paga as reformas "exigidas" para adequar o circuito às necessidades da categoria e quanto a administração do autódromo recebe por interditar a pista por 90 dias ou mais apenas para um único evento.

Agregue-se a isso a interrupção total ou parcial do autódromo para reformas que em nada contemplam as necessidades do esporte nacional e tem caráter interminável. Já ouvi de um empresário ligado ao automobilismo que essa negociação poderia ser descrita como "alguém que entra na sua residência, reforma a casa inteira sem pedir sua opinião e manda a conta para você". Não custa lembrar que em outros autódromos permanentes usados pela F-1 a montagem e desmontagem do circo não proíbe o uso da pista por mais de 15 dias.

Assessores e assistentes de João Dória seguem fazendo corta-luz às tentativas do grupo Interlagos Hoje em dialogar diretamente com o prefeito, garantindo assim tempo para conduzir o processo da maneira que mais convém a Dória. O grupo Interlagos Hoje defende a transparência e diálogo no processo de desestatização do autódromo. Ao se gerar um factóide como o publicado pela Folha de S.Paulo, mencionando a possibilidade de se construir prédios residenciais na área do autódromo fica difícil acreditar que o alcaide está operando em prol do esporte.

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Ao evitar debater o assunto de maneira clara e considerar as necessidades da comunidade que usa e sobrevive em torno do autódromo, João Dória Jr. demonstra querer ganhar tempo para costurar as alianças que permitirão acabar com um dos símbolos mais fortes do esporte brasileiro e internacional sob a alegação que sua manutenção custa caro aos cofres públicos. Postura que sugere claramente a disposição de destruir um local que forjou pilotos que conseguiram oito títulos mundiais de F-1, um de Endurance, sete vitórias na Indy 500, gera milhares de empregos diretos e indiretos de caráter permanente (e não temporários como os criados pelo GP). Algo muito mais interessante e produtivo do que vener a imagem de gestor e fazer marketing sob o irônico mote "acelera São Paulo".

 

Opinião por Wagner Gonzalez
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