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Autoproclamado líder, Westbrook afunda junto com o Oklahoma City Thunder

Uma das estrelas da NBA, ele não conseguiu evitar a eliminação do seu time logo no primeiro playoff da temporada

Por Ben Golliver
Atualização:

O Oklahoma City Thunder ainda tenta entender seu destino nesta temporada da NBA. Derrotado no começo dos playoffs pelo Portland Trail Blazers, o time nem de longe repetiu as boas campanhas de outros anos, quando contou com o jogo magnífico de Russell Westbrook. Desta vez, a união não deu certo.

Russell Westbrook (0) durante a edição 2018 dos Playoffs daNBA, no jogo 6 da série entre Oklahoma City Thunder e Utah Jazz. Foto: Russ Isabella/USA Today Sports

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Embora o retrato de Russell Westbrook e Paul George fumando charutos para celebrar sua prolongada união valesse por mil palavras, a legenda na foto do Instagram acrescentou mais duas: “Negócio inacabado”.

Em julho passado, quando George decidiu assinar novamente com o Thunder um contrato de quatro anos, ele estava se comprometendo tanto com uma franquia e como com uma parceria superstar. O astro poderia ter pedido um contrato mais curto e flexível, ou ele poderia ter buscado outros destinos, como jogar com LeBron James e o Los Angeles Lakers. Em vez disso, ele ostensivamente entregou o resto do seu melhor período para o amigo Westbrook.

Foi uma escolha curiosa então. Os dois homens compartilham uma amizade próxima e uma química produtiva na quadra, e eles parecem gostar de suas vidas como grandes peixes em um dos menores tanques da NBA. Mas seus negócios permanecem inacabados como sempre, e seu último fracasso na pós-temporada lança dúvidas sobre se isso realmente será feito.

O Portland Trail Blazers eliminou o Thunder com uma vitória arrebatadora de 118-115 no jogo 5, levando Westbrook e elenco para casa na primeira rodada pela terceira temporada consecutiva. Oklahoma City ficou arrasada pelo colapso no final do jogo e um dos maiores lances de todos os tempos da liga protagonizado pela estrela do Blazers, Damian Lillard. Tanto os astros do Thunder se saíram bem em sua última temporada, com Westbrook marcando um triplo-duplo de 29 pontos e George finalizando com 36 pontos e nove rebotes.

Ainda assim, Oklahoma City perdeu porque seu armador, que era menos eficiente, menos focado e menos confiável do que Lillard, e porque George estava limitado por uma lesão no ombro. Não importa o quão agressivamente Westbrook jogasse ou tão teimosamente ele falasse durante coletivas de imprensa, os fatos eram fatos: seu Thunder foi decididamente derrotado pelos Blazers, que entraram na série como mais fracos devido ao problema de joelho de Jusuf Nurkic no final da temporada.

A temporada do Thunder não foi uma perda total: Westbrook fez história pela média de um triplos-duplos pelo terceiro ano consecutivo, incluindo um 20-20-20 que foi um tributo ao rapper e ativista Nipsey Hussle, morto naquela semana. George teve um ano de carreira no qual ele passou meses visto como candidato ao prêmio de Jogador Mais Valioso da NBA. No entanto, eles saíram cedo em meio circunstâncias decepcionantes enquanto outras duplas de astros, como as do Golden State Warriors (Stephen Curry e Kevin Durant) e do Houston Rockets (James Harden e Chris Paul), tiraram proveito.

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“Crise de identidade” é uma explicação usada casualmente e com muita frequência nos esportes, mas ela se aplica ao Thunder. Westbrook, de 30 anos, e George, de 28 anos, são relativamente jovens e ganharam juntos US$ 66 milhões nesta temporada. Oklahoma City tinha uma das cinco maiores folhas de pagamento da liga e já se comprometeu a gastar mais em 2019-20 do que qualquer outra equipe da NBA. Juntos, apenas quatro de seus jogadores – Westbrook, George, Steven Adams e Dennis Schroder – se uniram para ganhar mais do que o teto salarial da NBA de US$ 109 milhões (mais de R$ 432 milhões pela cotação atual).

Resumindo, o Thunder está gastando alguns anos no meio de uma janela de campeonato, mas isso não é bom o suficiente para grandes vitórias agora e tem pouca flexibilidade para melhorar seu posicionamento de curto prazo.

Westbrook deve arcar com grande parte da culpa. Enquanto sua idade e estatísticas de pontuação possam sugerir que ele ainda esteja no auge, um olhar mais atento conta uma história mais pessimista. Por trás de suas médias vistosas de 22,9 pontos, 11,1 rebotes e 10,7 assistências há inúmeras estatísticas avançadas que revelam um jogador cujo domínio e eficácia diminuíram.

Este ano, Westbrook registrou sua mais baixa classificação de eficiência de jogador e sua pior taxa de sucesso desde 2009-10, além de seu menor número de vitórias na temporada de 2013-2014, assolada por lesões. Depois de se classificar em décimo no quesito “real plus-minus” em 2016-17, uma métrica que procura quantificar o impacto de um jogador na ofensiva e defesa de sua equipe, Westbrook caiu para a 39.ª posição em 2018-19. Dois anos depois de ser nomeado MVP, Westbrook não foi mais o melhor jogador de sua equipe. Não chegou nem perto.

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A série de Portland chamou atenção para alguns dos problemas por trás dessa derrapagem. A posição de longa data de arremesso de Westbrook piorou e ele ainda precisa encontrar um método de compensação mais efetivo e mais compensador. Contra os Blazers, ele circulou através de várias opções - ir em frente e lançar de qualquer maneira, a ceder o controle da ofensiva a George, de conduzir e dispensar jogadores que também não são bons lançadores – sem um sucesso sustentado. Westbrook terminou a série de cinco jogos com 36% em arremessos de quadra e 32% em chutes de três pontos.

Nos anos anteriores, ele conseguiu justificar algumas de suas tentativas de superar o problema classificando-se entre os líderes da liga em tentativas de arremessos livres e tornando-se um confiável quando precisava de resultados. Este ano, ambas as armas enfraqueceram, e os Blazers muitas vezes o desafiaram no perímetro. Da mesma forma, Westbrook costumava ser capaz de explicar sua falta de movimentos sem a bola e lapsos de atenção na defesa, apontando para seu enorme fardo ofensivo. Essas falhas são ainda mais óbvias agora que ele não é mais uma ameaça transcendente de pontuação e criação de jogos todas as noites.

Enquanto Westbrook liderou a liga em assistências pelo segundo ano consecutivo, sua capacidade individual de distribuição não se traduziu em sucesso para o time. O ataque do Oklahoma City classificou-se em 17.º, apesar da presença de dois grandes astros. A taxa de assistência ficou entre os cinco piores. O fluxo perpétuo que se tornou tão fundamental para o sucesso na moderna NBA continua ausente em Oklahoma City, onde a energia frenética de Westbrook muitas vezes atrapalha e é comum que George seja chamado para salvar o dia.

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Arremesso histórico de Damian Lillard que deu a vitória ao Portland Trail Blazers na série playoff contra o Oklahoma City Thunder - 23/04/2019. Foto: Jamie Valdez/USA Today Sports

Não existem soluções rápidas para Sam Presti, gerente geral do Thunder, cujo caminho para construir um pequeno adversário começa com Westbrook transformando-se em um arremessador letal.

Uma troca com Westbrook pode parecer atraente para os adversários, mas está quase certamente fora de questão, dada a sua grande popularidade local, sua lealdade após a partida de Kevin Durant em 2016, seu papel central no recrutamento de George e os quatro anos remanescentes de seus cinco anos de seu contrato de US$ 205 milhões. Mesmo considerando uma troca envolvendo George, depois de lutar muito para comprá-lo do Indiana Pacers e passar as duas últimas temporadas investindo nele, seria pura loucura.

Demitir o técnico Billy Donovan, que acumulou um recorde de 199-129 em quatro anos, seria popular nesta semana, mas não representaria uma solução real. A propriedade já está pagando muito mais do que o que vale pelo trabalho, a opção de contrato de Donovan para 2019-20 foi escolhida em dezembro, e ele estabeleceu uma ligação funcional com Westbrook e George.

Uma fonte próxima do Thunder descreveu Donovan como um “bom parceiro” – uma frase que fala sobre o respeito interno de seus comandos e seu papel dentro de uma organização voltada para os astros. Mesmo se Presti concluísse que faltava Donovan, o próximo treinador de Oklahoma City estaria preso ao gerenciamento das mesmas falhas fundamentais de Westbrook.

Isso coloca Presti de volta ao local onde ele esteve todos os verões antes da saída de Durant: tentando ajeitar as cadeiras do deck em torno de seus astros. Suas opções não são particularmente apetitosas e suas mãos estão atadas.

Presti poderia tentar negociar Adams, um corajoso center cujos rebotes ofensivos e presença defensiva o tornaram uma boa escolha junto de Westbrook e George. Mas existem fatores complicadores de todos os tipos. Oklahoma City é fortemente dependente de Adams. Ao mesmo tempo, ele não jogou muito bem contra os Blazers e custará mais de US$ 50 milhões nas duas próximas temporadas.

Presti estaria vendendo na baixa com um center tradicional sem capacidade de lançar imediatamente após uma série de fracassos? Ele seria forçado a procurar um center em troca de um acordo com Adams, no estilo da troca de Marc Gasol do Memphis Grizzlies por Jonas Valanciunas, do Toronto Raptors?

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As alternativas só ficam menos ambiciosas. Presti poderia tentar negociar Schroder. Ele poderia tentar fazer um pacote com alguns de seus menores contratos expirados para um arremessador, mas o Oklahoma City precisa de mais do que um único shooter.

Ou então ele pode não fazer nada, cerrar os dentes para uma conta enorme, e esperar que o retorno de Andre Roberson, de uma lesão no joelho ao longo desta temporada melhora a defesa do Thunder o suficiente para que eles possam ganhar uma série dos playoffs em 2020.

A Presti tentou o seu melhor no passado. Ele negociou Carmelo Anthony e depois negociou Anthony por Schroder um ano depois. Mas essas duas medidas não mostraram resultados, e é difícil ver qual dos cenários acima colocaria o Thunder em um curso mais promissor.

A questão central tornou-se: se Westbrook vai perder 64% dos seus lances e perder o confronto nos playoffs, onde isso levará? Quantas vitórias menores nas margens são necessárias se o centro não pode sustentar?

Nos três últimos anos, o Thunder focou-se quase que apenas em conseguir Westbrook e a ajuda que ele precisa enfrentar. É justo se perguntar agora se ela se tornou uma premissa defeituosa. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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