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'É outra maneira de colaborar com o basquete brasileiro', diz Barbosa

Ex-técnico da seleção cogita candidatura à presidência da Confederação Brasileira de Basquete

Por Nathalia Garcia
Atualização:

Depois da decepcionante campanha da seleção brasileira feminina de basquete - cinco derrotas em cinco jogos - nos Jogos Olímpicos do Rio, o técnico Antonio Carlos Barbosa teve seu vínculo com a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) encerrado no dia 31 de agosto. Em entrevista ao Estado, o treinador analisa os motivos da queda precoce e declara seu ciclo na equipe encerrado. Nos próximos dias, a sua carreira deve tomar outro rumo. Barbosa cogita a candidatura à presidência da entidade na eleição de março de 2017. Como avalia sua passagem pela seleção brasileira? Assumi em dezembro e foi feito o possível dentro de um prazo que não permitiu planejamento. Não havia uma programação de amistosos com seleções de nível olímpico, isso para mim foi um fator determinante para que nós não tivéssemos alcançado resultados possíveis. O momento do basquete feminino não é bom, poucas equipes e, consequentemente, um nível regular de campeonatos internos, praticamente só três jogadoras atuando no exterior, somando tudo isso somos obrigados a considerar que fomos até bem. Ficou muito claro que perdemos alguns jogos que poderiam ter sido ganhos. Quem consegue ter uma certa vantagem sobre o adversário por um bom tempo do jogo é porque essa equipe tinha condições de vencer. Jogadoras sem equilíbrio emocional para jogar contra equipes de alto nível, elas foram heroínas, fizeram mais até do que se podia esperar. Mas tem um momento que esse fator de intercâmbio pesa muito no produto final do jogo que é a derrota ou a vitória.

Barbosa deixa o comando da seleção feminina após fracasso na Olimpíada Foto: Shannon Stapleton|Reuters - 8|8|2016

O resultado na Olimpíada ficou muito abaixo do esperado? Você chegou a falar em pódio... Da maneira como foram os jogos, quando eu falava que nós podíamos nos aproximar de uma medalha, não estava errado. Não estava blefando e nem sendo extremamente otimista. Se bem que nós temos de ser otimistas, otimismo faz parte de um líder. Não posso liderar um grupo, entrar em uma Olimpíada e dar para as minhas comandadas uma perspectiva de derrota. Os resultados mostraram que eu não estava totalmente errado. Nós perdemos cinco jogos, sendo que pelo menos três eram perfeitamente possíveis de ganhar, desde que tivessemos uma preparação mais adequada para uma competição de nível olímpico.Essa foi a maior dificuldade? Você entrou em dezembro, quando a equipe passava por um momento conturbado... Tivemos aquele momento conturbado que foi se acomodando, conseguimos jogar o evento-teste com uma equipe desfigurada. O grande problema foi essa falta de intercâmbio, que faz com que a jogadora não esteja habituada a enfrentar adversários difíceis, jogos que requerem não só condições técnicas e táticas, mas muito ainda emocional.Você esperava continuar no cargo após a Olimpíada? Não, estou fora. Meu contrato venceu dia 31 de agosto, minha contribuição foi dada, claro que tenho condições de estar junto, colaborar, ser consultor, supervisor técnico. Afinal de contas, temos uma vivência, experiência de muito tempo e podemos continuar colaborando com o basquete. Não vê possibilidade de voltar no futuro? Não, não. Como técnico, acho que já deu.E quais são os seus planos daqui para frente? Por enquanto estou descansando, me recuperando, acompanhando todo o basquete. Mas algumas definições devo ter em breve em termos de mudança radical na minha vida. Vamos aguardar alguns dias.Está pensando em assumir algum time? Não. Pode pintar uma candidatura para presidente da Confederação. O mandato do atual presidente termina e existem alguns presidentes que têm intenção que eu assuma a Confederação.E você tem interesse? Tenho, sim. Acho que é uma outra maneira que teria de colaborar efetivamente com o basquete brasileiro.Quando essa definição vai ser tomada? Em uns 10 dias no máximo.O que falta decidir? Eu resolver que é isso mesmo que eu quero, ver algumas questões operacionais. Está bem encaminhado para chegarmos a isso.Caso concorra à presidência, quais mudanças pensa em fazer? Tem tanta coisa, primeiro preciso efetivamente assumir isso. Segundo, temos de equacionar dívidas, equacionar questão de prestação financeira da confederação e uma série de outras situações que temos de avaliar para passar um plano de gestão.O que podemos projetar para o basquete feminino do Brasil? O basquete feminino do Brasil é muito contraditório, ao mesmo tempo que tem poucas equipes e, consequentemente, poucas jogadoras, nós temos boas jogadoras. Desse time que jogou a Olimpíada, podemos imaginar que a Nádia, a Clarissa, a Damiris e a própria Érika têm condições de continuar, temos a Joice, a (Isabela) Ramona, a Tati, que teve um problema de caxumba e não pôde jogar, a Tainá e outras meninas podem continuar desde que se trabalhe bem essas jogadoras. Não só no aspecto de treinamento, é fazer preparação em nível mundial, jogar na Europa, levar para os Estados Unidos para enfrentar escolas fortes para elas terem referência. Essas meninas acabam entrando no jogo com a referência das equipes do Brasil, realidade totalmente diferente em uma Olimpíada. Como recuperar um pouco do prestígio? Esse foi um aspecto que tentei trabalhar muito com elas. Adquirir essa confiança, elas passarem a acreditar no basquete brasileiro e que elas realmente podiam se tornar jogadoras vencedoras. Isso foi um trabalho que tentei impor a elas. E elas jogaram com personalidade, acredito que nos momentos de decisão faltou tranquilidade, mas só jogando bastante e tendo competições que exigem de você é que se consegue ter resultados, não é só conversando, não é só falando, não é só motivando. Você tem de passar por experiências como essa, jogando e sendo testado efetivamente.Você teria algum nome para apontar como seu possível sucessor na seleção? Meu assistente, o Cristiano Cedro, é um bom nome. Rapaz que está vindo na seleção há algum tempo, vem trabalhando com outros técnicos. Embora ele não seja técnico de nenhuma equipe adulta, imagino que tenha adquirido "know-how" para efetivamente treinar a seleção. Tem outros nomes que poderiam ser chamados, o Carlos Lima e (Luiz Claudio) Tarallo são técnicos que poderiam ser novamente resgatados.

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