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Gracias, Manu

Por quatro vezes, Manu Ginóbili conduziu seu time da NBA ao título

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Na última quarta feira, no horário dedicado à transmissão do jogo Cleveland Cavaliers x San Antonio Spurs, cumprindo rodada da temporada 2018/2019 da NBA, aproveitou-se a ocasião para uma homenagem ao craque argentino do San Antonio. Emanuel Davi Ginóbili, que acaba de encerrar sua carreira nas quadras. Craque pode não ser o termo exato, a menos que se acrescente herói e ídolo.

A cidade estava em peso no ginásio, não para ver o jogo, mas para ver Manu, o homenageado que esperava pacientemente terminar o jogo.

Ugo Giorgetti. Foto: Paulo Liebert/Estadão

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Fora o rigor, o profissionalismo, a exatidão nos tempos de entrada e saída dos participantes, a qualidade da imagem e do som comuns a qualquer celebração americana, o conteúdo foi de uma breguice descomunal, de um sentimentalismo beirando o piegas, de uma coleção de lugares comuns passando perigosamente perto do insuportável. Um espetáculo igual a milhares que seguem a mesma fórmula americana quando se quer celebrar o que eles chamam de um vencedor. Difícil de se assistir não fosse por duas razões: San Antonio e o próprio Manu.

San Antonio é, principalmente quando comparada às grandes cidades americanas, um lugar de menor importância. Tecnicamente pertence aos EUA, mas a alma é do México. Fala-se em suas ruas espanhol e inglês indiferentemente. O orgulho da cidade é o time de basquete, várias vezes campeão da Liga. No alto de seu ginásio estão fixadas para sempre, retiradas de circulação, as camisetas de seus grandes atletas do passado, como, entre outros, Sean Elliot, David Robinson, Tim Duncan e, agora a de número 20, Manu Ginóbili.

Nas arquibancadas lotadas podiam-se ver, olhos pregados na cerimônia, redondas caras mexicanas, traindo a ancestralidade indígena, astecas orgulhosos que vinham reverenciar seu ídolo latino-americano que, como eles, fala indiferentemente inglês e espanhol.

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O telão começou a mostrar lances de Manu no decorrer dos anos em que vestiu a camiseta do Spurs. Foi fácil compreender a adoração popular ao seu jogador. O Spurs foi o único clube que Manu defendeu durante seus longos anos nos EUA. Foi aclamado como o melhor jogador estrangeiro a ter jogado na maior liga de basquete do mundo, em todos os tempos, e mais, o primeiro estrangeiro a ser o principal condutor, a referência de um time campeão da Liga. Por quatro vezes Manu Ginóbili conduziu seu time ao título.

Grandes craques lendários como Charles Barkley ou John Stockton não conseguiram ganhar sequer um único título, tal a dificuldade desse torneio. Manu conseguiu quatro. Não sozinho, pois seus companheiros estavam lá prestando tributos a ele. Todos falaram de suas qualidades, visíveis no incessante telão que confirmava tudo.

A principal mensagem, porém, veio do técnico Gregg Popovich. Treinador linha-dura, de esquema, de estratégia cuidadosa, confessou que, não podendo domar Manu dentro de suas regras inflexíveis, fez o que achava mais certo. Deixou o craque fazer o que quisesse. “No começo dava alguns toques, depois me limitei a vê-lo jogar. Foi um privilégio.” Qual o técnico que conhecemos capaz de tamanha sinceridade em público, principalmente um treinador com fama de durão, quase insensível? Quem admitiria tamanha admiração pelo seu atleta? Só um técnico que coloca o amor ao basquete bem jogado acima de sua vaidade e ego.

Finalmente falou o próprio Manu, que se dirigiu a toda a arena e à família ali presente. Falou em inglês e, no fim, em espanhol. Foi ovacionado. Para finalizar: depois de tamanha carga emocional, depois que fizeram o possível e o impossível para fazê-lo chorar, nenhum vestígio de lágrima se viu nos olhos de Manu. Apenas alegria. Isso diz alguma coisa sobre um campeão.

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