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História, política e cultura do esporte.

O importante grito de Steve Kerr contra a cultura de armas nos EUA

Treinador do Golden State Warriors jogou luz sobre drama americano após ataque a tiros em uma escola do Texas: “Quando vamos fazer alguma coisa?”

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Por João Abel
Atualização:

“Eu estou cansado dos minutos de silêncio”. Em vez de silêncio, Steve Kerr decidiu falar. Não sobre o Golden State Warriors, time que mais uma vez ele levou à final da conferência leste da NBA, mas sobre um real problema dos Estados Unidos: os ataques a tiros.

Steve Kerr, dos Warriors, bateu na mesa, desabafou e cobroumedidas para evitar novos tiroteios em massa nos EUA Foto: Scott Strazzante/AP

Por um momento, em sua entrevista coletiva antes do jogo 4 contra o Dallas Mavericks, Kerr trouxe os jornalistas que estavam no local e o público que estava assistindo à sua fala para a realidade. Nada importava mais do que falar sobre as 21 pessoas mortas, 19 delas crianças, por um atirador em uma escola no Estado do Texas. O mesmo Texas que recebeu o jogo entre Mavs e Warriors nesta quarta, 24.

“Nós tivemos idosos negros mortos em Buffalo, fieis asiáticos mortos na Califórnia e agora crianças assassinadas em uma escola. Quando nós vamos fazer algo?”

Steve Kerr, treinador dos Warriors

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Kerr mandou um recado direto aos senadores norte-americanos, ao pedir que eles aprovem a HR8, uma resolução que passou na Câmara dos Estados Unidos, mas que ainda não foi votada no Senado. “Vocês [senadores] vão botar seu próprio desejo de poder acima da vida de crianças?”, questionou o técnico dos Dubs.

Mas o que é a HR8? Em resumo, esse projeto de lei exige a verificação de antecedentes sobre a venda ou transferência de armas de fogo em território norte-americano. Atualmente, essas verificações de antecedentes não são exigidas por vendedores privados, não licenciados, além de vendas online. Quase um quarto dos americanos obtêm armas de fogo sem a verificação.

No fim do ano passado, o senador democrata Chris Murphy buscou um consentimento para a HR8, mas os republicanos recusaram seu pedido. São necessários 60 senadores em consenso para votar. Hoje, a Casa está configurada com 50 republicanos, 48 democratas e dois independentes.

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Kerr fala com a propriedade e a voz embargada de quem teve o próprio pai morto por uma arma de fogo. Em 1984, Malcolm Kerr, pai do técnico e ex-jogador, foi baleado por extremistas islâmicos no Líbano. O episódio é contado no ótimo The Last Dance (‘A Última Dança’), documentário da Netflix sobre o lendário Chicago Bulls dos anos 1990.

“Não podemos ficar insensíveis a isso. Chegar aqui e gritar ‘Vai Warriors’, ‘Vai Dallas’, é o que fazemos toda semana”, pediu o treinador.

Não, não podemos. A voz de Kerr e de grandes esportistas em dilemas sociais é fundamental para que a gente não se esqueça do que realmente importa. Para que o violento não se torne banal e aceitável.

Tragédia lá, tragédia cá. Por aqui, o roteiro também é repetido. O Rio de Janeiro teve sua segunda operação policial letal na história, com ao menos 25 mortos na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, onde cresceu ninguém menos que Adriano Imperador.

Na tal operação, uma moradora morreu ao ser atingida por uma bala perdida. Os outros mortos, segundo a polícia, eram ‘suspeitos’. Nas redes sociais, não faltam os que ‘comemorem’ a ação como um episódio de sucesso.

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Aos que matam e aos que zombam da morte como coisa trivial, o grito poderoso de Steve Kerr e a famosa mensagem na camiseta de Adriano Imperador.

Que Deus perdoe essas pessoas ruins.

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