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Sem rebaixamento, times da NBA perdem 'de propósito' para tirar vantagem no draft

Times de pior campanha ganham o direito de escolher os jogadores que estão saindo da universidade

Por Renan Fernandes
Atualização:

A NBA está enfrentando dificuldade para manter a fase final da temporada regular, de 82 jogos, interessante para público, patrocinadores e, principalmente, para as televisões. O problema maior se dá em duas frentes: os times já classificados para a etapa decisiva do torneio estão poupando suas estrelas para evitar lesões e as equipes sem chances de classificação ao playoffs estão perdendo de propósito para conseguir uma melhor posição no draft.

O resultado disso são partidas de baixo nível técnico e perda de audiência para as emissoras de TV, que fecharam um contrato de US$ 24 bilhões (R$ 58 bilhões na época do acordo) para o período entre 2015/16 e 2024/2025.

Clássico esvaziado: Spurs e Golden State se enfrentaram recentemente sem os seus astro Foto: SOOBUM IM / USA TODAY SPORTS

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Responsável pelos assuntos administrativos da liga, o comissário Adam Silver enviou memorando para os donos das franquias pedindo ajuda para que as grandes estrelas estejam em quadra. “Decisões deste tipo podem afetar os fãs e parceiros de negócios, causar impacto em nossa reputação e prejudicar a percepção do nosso jogo’’, alerta. “Com tanta coisa em jogo, simplesmente não é aceitável que os proprietários não sejam envolvidos ou deixem a tomada de decisão destes assuntos para outras pessoas em suas organizações.’’ Ele ameaçou quem não cumprir as regras com “penas significativas’’.

Nesta temporada, a partida entre San Antonio Spurs e Golden State Warriors ficou marcada pela falta de estrelas. Vindo de uma sequência de jogos, os atuais vice-campeões não colocaram em quadra Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green, além de Kevin Durant, lesionado. Do outro lado, LaMarcus Aldridge e Kawhi Leonard também estavam machucados e não puderam atuar.

O resultado foi audiência de apenas 2 dos 4 milhões de espectadores esperados e milhares de torcedores reclamando nas redes sociais. Menos de uma semana depois, o Cleveland Cavaliers optou por não escalar seu trio de estrelas – LeBron James, Kyrie Irving e Kevin Love – contra o Los Angeles Clippers.

Quem engrossa o coro da reclamações é o membro do Dream Team de 92 Karl Malone. “Se você não tiver (no mínimo) dez anos de experiência na NBA, entre em quadra e jogue. Não estamos falando de um trabalho tradicional, mas de jogar basquete. Vai falar sobre tirar uma folga com nossos trabalhadores mais mal remunerados, como os policiais. Eles não podem, mas os atletas podem?’’, disse o segundo maior cestinha da NBA, que disputou 80 ou mais jogos em 16 das 18 temporadas como profissional.

Armador do Houston Rockets, Patrick Beverley classificou o descanso dos atletas como “uma desgraça para a NBA’’. “Jogar é uma escolha do jogador e, se ele opta por não entrar em quadra estando bem fisicamente, desrespeita o jogo.’

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Mas existe o outro lado. Dono de cinco títulos da NBA e responsável por colocar o San Antonio Spurs nos playoffs em todas as últimas 20 temporadas, Gregg Popovich entende que cuidar da saúde dos atletas faz suas carreiras se prolongarem, fato que daria retorno para a própria NBA em longo prazo.

“A NBA precisa entender que a ciência do que fazemos está muito mais sofisticada. Definitivamente, adicionamos anos às carreiras dos jogadores. Então, é uma troca: você quer ver esse astro por um jogo ou por mais três anos na liga? E quer vê-lo agora ou nos playoffs?’’, defende o próximo treinador da seleção americana ao jornal San Antonio Express-News.PERDER PARA GANHAR Além disso, a NBA sofre com outro velho problema na reta final do calendário. As equipes que não lutam mais por vaga no mata-mata adotam a estratégia de perder para ter uma melhor posição no draft do ano seguinte. Os times de pior campanha ganham o direito de escolher os jogadores que estão saindo da universidade ou estrangeiros que queiram entrar no basquete dos EUA. 

O mecanismo é uma forma de equiparar as equipes tecnicamente. Na teoria, quem está pior vai ter o direito de escolher a próxima futura estrela do basquete. Neste ano, os dois atletas mais promissores apontados pela mídia especializada são Markelle Fultz, da Universidade de Washington, e Lonzo Ball, de UCLA, de Los Angeles.

Mas, como não existe rebaixamento na NBA, as franquias começam, de forma velada, a perder os jogos. Como os dirigentes não podem pedir para seus jogadores não ganharem, o método adotado é dar mais tempo em quadra para atletas novatos se desenvolverem. Com quase quatro partidas por semana em lugares diferentes, estes jogadores não têm tempo para treinar as jogadas ofensivas e defensivas, algo feito à exaustão nos dois meses de pré-temporada.

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Quem está neste processo de “perder de propósito’’ é o tradicional Los Angeles Lakers. Assim que o lendário Magic Johnson assumiu a presidência de basquete, vários veteranos foram afastados do time para não ficarem de cara feia no banco. Marcelinho Huertas, da seleção brasileira, e José Calderón, da espanhola, foram negociados. Já Luol Deng e Timofey Mozgov, os maiores salários, estão fora das partidas restantes.

No último mês, o Phoenix Suns fez história ao entrar em quadra com o time mais novo da história contra o Brooklyn Nets. Tyler Ulis (21 anos), Devin Booker (20), Derrick Jones Jr. (20), Marquese Chriss (19) e Alex Len (23) formaram média de 21 anos e 14 dias. Na noite em que isso aconteceu, a equipe era mais nova do que sete dos oito times que disputavam o Sweet 16, oitavas de final da NCAA, principal liga universitária dos Estados Unidos.

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