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WNBA pode atrapalhar Brasil no Mundial

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Por Agencia Estado
Atualização:

Técnico da seleção brasileira feminina de basquete, Antônio Carlos Barbosa deveria estar satisfeito ao ver nove jogadoras brasileiras na WNBA, a liga feminina norte-americana. Mas a competição que começa hoje causa dores de cabeça no treinador, que planeja a preparação da equipe para o Mundial de setembro, na China. A maioria das jogadoras será reserva nos EUA e deve chegar às vésperas do Mundial sem ritmo de jogo. Das sete jogadoras que disputaram a WNBA no ano passado, apenas a ala Janeth era titular em sua equipe, o Houston Comets. As outras tinham média de participação entre cinco e 20 minutos por partida. "Se elas não tiverem média de pelo menos 20 minutos, a situação vai complicar para o nosso lado", diz o treinador do Brasil. O calendário joga contra Barbosa. A WNBA tem as finais marcadas para o fim de agosto. Como o treinador brasileiro tem jogadoras espalhadas em oito das 16 equipes da liga, dificilmente terá todo seu elenco à disposição antes de setembro. Serão menos de duas semanas de preparação antes da estréia, em 14 de setembro, contra a China. "Não há dúvida de que a parte tática ficará comprometida. A não ser que os times de todas as jogadoras sejam eliminados antes da final. De resto, só o tempo vai dizer se a experiência na liga vai ajudar ou atrapalhar. É claro que o nível delas, participando de um campeonato tão forte, irá melhorar. Mas desde que tenham participação efetiva em seus times. Se ficarem na reserva não adianta", diz Barbosa. O problema é maior com as outras quatro jogadoras que devem ser titulares do Brasil no Mundial. A armadora Helen Luz teve média de 15 minutos por jogo durante o campeonato da WNBA do ano passado. Neste ano, nos jogos de pré-temporada, ficou na reserva. Jogou 13 minutos em um jogo e não entrou na quadra no outro. Claudinha, a outra armadora, tinha média de 18 minutos no ano passado, quando jogava pelo Detroit Shock. Este ano foi contratada pelo Miami Sol e teve média de 12 minutos nos três jogos da pré-temporada. A pior situação é entre as pivôs. Em sua quarta temporada na liga, no ano passado, Alessandra teve média de apenas seis minutos por jogo pelo Seattle Storm e não foi relacionada nas partidas da pré-temporada de 2002. Cíntia Tuiú teve média de 21 minutos pelo Orlando Miracle, no ano passado, e foi titular em três das quatro partidas da pré-temporada. Apesar das médias baixas, as nove brasileiras inscritas na WNBA têm vaga quase garantida no Mundial, mesmo que fiquem na reserva na liga. "Não dá para desprezar esse tipo de intercâmbio que as atletas têm. Elas são a elite do basquete brasileiro e estão jogando ao lado das melhores do mundo. Não tem como não convocar. A WNBA é um divisor de águas no basquete mundial", afirma Barbosa, que assume: irá acompanhar o rendimento das jogadoras pelas estatísticas no site oficial da liga. Com isso, sobram apenas três das 12 vagas para o Mundial. O plano do treinador é convocar jogadoras que estão atuando no Brasil e na Europa para uma série de treinamentos e amistosos em julho e agosto. Desse grupo, tira as três que se unirão às nove da WNBA. Barbosa revela que o problema se torna ainda mais grave quando se compara o desempenho das brasileiras com rivais no Mundial. "A Austrália e a Rússia também têm várias jogadoras na liga. Mas elas participam efetivamente em seus times. Pelo menos sete ou oito são titulares." As jogadoras que estão nos Estados Unidos assumem que o problema para o Mundial e é inevitável. "Todo ano a gente cai nesse dilema. Já foi assim para a Olimpíada de Sydney/2000 (o Brasil, renovado, chegou ao bronze, depois da prata em Atlanta/96)", lembra Claudinha, armadora do Miami Sol. Para ela, o ideal seria que as jogadoras pudessem atuar em clubes brasileiros, para não prejudicar a preparação da seleção. "Mas não dá para fazer isso. Se a gente não vier para cá, fica sem fazer nada. A Janeth passou um ano no Brasil e não conseguiu um time para jogar", explica Claudinha, lembrando que o último Campeonato Paulista, competição estadual mais importante do País, teve só seis times. Claudinha garante que conquistar espaço nas equipes da liga não é tarefa das mais fáceis para as brasileiras. "As principais jogadoras de todo o mundo jogam aqui, mas as norte-americanas são as primeiras em tudo, têm mais espaço." Iziane, de 20 anos, é uma das novatas brasileiras na liga. Foi contratada pelo Miami Sol e vem tendo média de 15 minutos por partida nos jogos de pré-temporada. Não tem ilusão de ser titular na primeira temporada, mas acha que a preparação das brasileiras não ficará comprometida. "Acabei de chegar e já estou conseguindo um espaço muito bom no time para uma estreante. Até mesmo a Janeth demorou para se firmar como titular aqui. Mas mesmo sem jogar, nós treinamos muito", diz a ala/armadora, que jogou na liga espanhola no primeiro semestre. Outra das apostas de Barbosa, a pivô Érika, também corre risco de passar a temporada no banco do Los Angeles Sparks, atual campeão da liga. Mesmo contratada, não deve ficar na lista de 11 relacionadas para os jogos. Fica na "injury list", esperando um lugar caso outra jogadora sofra uma contusão.

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