A campanha corintiana teve de tudo

Veja o especial do título do Corinthians

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Por Agencia Estado
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Três técnicos, várias estrelas, seqüestro, brigas nos bastidores, árbitros que erram por dinheiro e outros que erram sem querer. Um baita enredo para contar a história do quarto título brasileiro do Corinthians, bem do jeito que os corintianos já estão acostumados: cheio de sofrimento. Depois de um início desastroso, com a goleada por 5 a 1 para o São Paulo na terceira rodada, o Corinthians demorou a engrenar. Vários entraves dificultaram o caminho da equipe apontada como favorita na competição. Se os milhões de dólares investidos em contratações a credenciavam ao título, por outro lado eram um peso sobre os ombros dos atletas e do então técnico Daniel Passarella. A expectativa foi frustrada logo na estréia, com o modesto 2 a 2 diante do Juventude, no dia 24 de abril. Em campo não estavam todas as estrelas, é verdade. Carlitos Tevez e Carlos Alberto tinham de brilhar praticamente sozinhos, mas havia promessas de mais reforços. Não faltavam especulações sobre quais seriam as novas contratações da MSI, parceira do clube. Falava-se, como se falou em vão durante todo o ano, na chegada do atacante Vágner Love, do CSKA, mas também se dizia que estavam perto Luís Fabiano, D?Alessandro e Washington, entre outros. Não surgia o artilheiro para fazer dupla com Tevez e o jeito era se virar com Jô ou Bobô na frente. Para complicar a situação, Tevez trocou socos no treino com o zagueiro Marquinhos, negociado em seguida com o Atlético-MG ? o argentino, em março, havia brigado com Carlos Alberto. O clima piorou de vez quando Daniel Passarella afastou o goleiro Fábio Costa. Dias depois, fez o meia Roger, supostamente fora de forma, treinar separado. Troca de comando - O ambiente era péssimo para a permanência de Passarella, mantido graças ao homem forte da MSI, Kia Joorabchian. Mas nem o iraniano pôde segurá-lo depois da terceira derrota consecutiva: a goleada por 5 a 1 para o São Paulo, dia 8 de maio. Um jogo antes, o Corinthians havia sido eliminado da Copa do Brasil pelo Figueirense, ao perder por 2 a 0. Kia mandou o técnico argentino embora e cobrou os atletas: ?Acho que os jogadores ganham muito dinheiro. É preciso que atuem com mais coração.? O clube namorou Leão, recebeu um não como resposta e teve de se contentar com o interino Márcio Bittencourt, que tinha a seu favor a proximidade com os pratas-da-casa. Estreou bem, 2 a 1 sobre o Atlético-PR, reintegrou Fábio Costa e conquistou cinco vitórias seguidas, quatro delas sem Tevez, que passou todo o mês de junho defendendo a Argentina nas Eliminatórias Sul-Americanas e na Copa das Confederações. As coisas começaram a virar a favor dos corintianos. No dia 28 de junho, depois de seqüestro de quase um mês, foi libertada Alice Nazareth, mãe do zagueiro Marinho. Terminada a tragédia familiar, o jogador estava pronto para mais tarde assumir a vaga de titular ao lado de Betão, um dos jovens não galácticos que se firmaram em meio às estrelas. Além dele, o lateral-direito Eduardo, os volantes Bruno Octavio e Wendel, os meias Rosinei e o atacante Jô. Mais reforços - O time subia na tabela e passou a integrar o grupo dos cinco melhores na 8ª rodada. A primeira derrota de Márcio como técnico, em 26 de junho ? 1 a 0 para o Fluminense, no Pacaembu ?, não abalou o elenco, que subia de produção e veria, dias depois, a apresentação do volante Javier Mascherano. O argentino, ex-River Plate, sofreu lesão na coxa direita um mês depois da chegada e ficou de molho o restante do ano. Teve tempo, entretanto, para ser a estrela do time em sua estréia, na vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras. Era o dia 7 de julho. A partir daí, o Corinthians deu início a uma seqüência de seis vitórias, recorde do clube em campeonatos brasileiros, que o levou à primeira colocação na 16ª rodada, após vencer o Coritiba por 3 a 0. Líder até a 22ª rodada, o Corinthians começou a sentir falta de um atacante. Com o bom desempenho do meia Roger e da revelação no campeonato Rosinei, a equipe criava, mas tinha dificuldade nas finalizações ? Tevez era praticamente caçado pelos zagueiros. Momento ideal para a estréia de Nilmar, apresentado em 24 de agosto, emprestado pelo francês Lyon por US$ 1,5 milhão. Num ano conturbado nos bastidores do Parque São Jorge, o final de agosto foi agitado com a ameaça do presidente do clube, Alberto Dualib, de pôr fim à parceria. Reclamava que a MSI não cumpria cláusulas do contrato de licenciamento, mas, no fundo, estava insatisfeito com Kia, que se recusara a pagar comissão a sua neta, Carla Dualib, pelo fechamento do patrocínio com a Samsung. A paz entre Dualib e Kia se deu oficialmente quando ambos concordaram em demitir Márcio Bittencourt. O iraniano achava que, apesar de o time ser o líder, tinha obrigação de disparar na tabela. E era apoiado pelo presidente do clube. Tevez acrescentou a demissão de Márcio à sua lista de insatisfações e criticou-a publicamente. No início daquele mês, ameaçara deixar o País por se sentir prejudicado pelos árbitros apenas por ser argentino. ?Não tenho mais prazer em jogar?, declarou. Mudou de idéia, resolveu ficar e elogiou o novo técnico, o ex-delegado Antônio Lopes, apresentado dia 26 de setembro, época em que denúncias de manipulação de jogos virariam o Brasileiro de cabeça para baixo. O escândalo - Dia 24 de setembro, o árbitro Edilson Pereira de Carvalho foi preso pela Polícia Federal por integrar a máfia do apito, quadrilha que lucrava com a adulteração de jogos. Oito dias depois, o presidente do STJD, Luiz Zveiter, determinou a anulação das 11 partidas apitadas pelo juiz no Brasileiro. Sem querer, ajudou o Corinthians. Duas das derrotas do time, nos clássicos contra Santos e São Paulo ? 4 a 2 e 3 a 2, respectivamente ?, foram canceladas e o Corinthians se beneficiou, depois, ao vencer os santistas e empatar com os são-paulinos, conquistando 4 pontos antes perdidos. No dia 3 de outubro, superou o Brasiliense, 3 a 2 no Pacaembu, e abriu 3 pontos sobre o segundo colocado, o Goiás. Daí para a frente, disparou e chegou a ter 11 pontos de vantagem sobre os rivais. Tudo ia bem, mas Roger se machucou no empate com o Vasco, dia 30 de outubro, e deu adeus à competição. Na seqüência, a equipe perdeu do Cruzeiro (2 a 1, na 36ª rodada) e do São Caetano (1 a 0, na 39 ª), deixando o Internacional, adversário na polêmica 40ª rodada, a apenas 3 pontos de distância. Nesse meio tempo, os corintianos comemoraram uma vitória histórica: 7 a 1 sobre o Santos. Dia 20 de novembro, Corinthians 1 x 1 Internacional. O duelo não teria grande repercussão se o árbitro Márcio Rezende de Freitas não tivesse deixado de marcar pênalti sobre o gaúcho Tinga, derrubado pelo goleiro Fábio Costa. Pior: expulsou-o, achando que havia simulado o contato. Após o jogo, o juiz reviu o lance e admitiu o erro, mas o resultados permaneceu igual. Como nada para o Corinthians é fácil, a decisão ficou para as duas últimas rodadas. Venceu a Ponte Preta, 3 a 1, mas, como o Inter, nos últimos minutos, bateu o Palmeiras, não levou a taça. O Goiás, terceiro colocado na tabela e adversário final, engrandeceu a conquista corintiana. Mais que isso, viu o seu Serra Dourada se render ao melhor time de 2005, quatro vezes campeão brasileiro.

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