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A Copa dos copos

Muita gente compra refrigerante e cerveja nos estádios só para levar o souvenir, com data do jogo e nome dos times em campo, para casa; e a mania já tomou a internet

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Por Monica Reolom
Atualização:

Imagine consumir 24 litros de cerveja e refrigerante em 90 minutos, o tempo de duração de um jogo. É o que a funcionária pública Vislene Bossan, de 49 anos, pretende comprar na próxima partida da Copa do Mundo na Arena Corinthians, na quarta-feira. Mas seu objetivo não é ficar embriagada nem ter uma overdose de refrigerante. "Quero levar para casa 40 copos (cada um com capacidade para 600 ml) personalizados que estão vendendo nos estádios. Tenho encomenda para muitos amigos e quero ficar com um para mim também", afirma Vislene, que, como muitos brasileiros, descobriu um souvenir simples, leve e barato para colecionar. "No último jogo, eu distribui cerveja, porque não bebo. Então ofereci às pessoas ao meu redor e pedia para me devolverem o copo", diz ela, que afirma tomar, no máximo, dois copos de refrigerante por partida. A febre começou depois que os espectadores perceberam que os copos traziam indicações com a data do jogo e as bandeiras e nomes dos times que entraram em campo. Isso transformou o objeto plástico em uma prova incontestável de sua origem, e o tornou valioso. "Eu fui ao primeiro jogo, na abertura da Copa, comprei bebidas e nem liguei, joguei os copos fora. Depois vi que seria legar colecionar e tive de recomprá-los na internet", diz Vislene.

Copos chegam a custar R$ 30 na internet Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Da mesma forma, o bancário paulista Hugo Sofia, de 26 anos, diz que nunca havia pensado na possibilidade de colecionar os objetos. "Não fazia nem ideia de que poderia ser interessante. Quando comprei bebida no estádio vi que era uma boa lembrança e alguns amigos começaram a pedir para eu pegar para eles", conta. O valor do copo é puramente afetivo. "Quero guardar muito bem guardado, porque eu não vou ver outra Copa no meu País. Vão ficar para os meus filhos depois, como uma recordação de um momento marcante e emocionante que não volta mais." O bancário esteve na partida do Brasil pelas oitavas de final, contra o Chile, no Mineirão, e em outros três jogos. A busca pelos copos é tão grande que algumas pessoas chegam a revirar o lixo no final das partidas, de acordo com ele. Além dos copos, as pessoas têm buscado outros itens que remetam ao torneio no País. Sofia diz que pretende enquadrar os ingressos já usados. "Tem gente na saída dos jogos pedindo R$ 100 por ingresso. Mas não vou vender, ele é único e insubstituível", diz. Vislene diz que também presenciou cena parecida. "Duas pessoas já me pediram ingresso usado. Minha sobrinha foi abordada e o moço ofereceu R$ 200, mas ela recusou. No jogo entre Argentina e Suíça, na Arena Corinthians, eu vi gente com placa escrita ‘compro ingresso usado’ e ‘vendo ingresso usado'", conta.NA WEB Nas redes sociais, existem pelo menos nove comunidades dedicadas à compra, venda e troca dos copos. Vislene é a fundadora do Copos da Copa 2014, que contava até ontem com 60 curtidas. "Tem duas formas de troca, basicamente: quando a pessoa mora em São Paulo, a gente se encontra na catraca de uma estação do metrô. Se a pessoa morar longe, é por Sedex mesmo. Aí é na base da confiança, porque os dois mandam ao mesmo tempo. Tem dado certo", explica a funcionária pública. A procura pelos copos também agitou sites de compra e venda, onde é possível encontrar os objetos por até R$ 30, dependendo do jogo. No estádio, os copos custam entre R$ 8 e R$ 13, dependendo da marca escolhida.PASSADO Esses sites abrigam hoje cerca de 650 itens relacionados a futebol que o ferramenteiro Silvio Ferrari, de 48 anos, vende. A busca por relíquias de Copas passadas é um grande negócio para ele. "Material relacionado à Copa está vendendo muito, a procura está enorme. Eu tinha uns 20 álbuns da Panini e botei tudo para vender, desde a Copa de 70. De 2014 não vendi nada ainda, só de Mundiais passados. Depois que passar essa Copa, os itens ficam mais valiosos", diz.

Apaixonado por futebol, ele afirma que chega a colocar objetos de sua própria coleção à venda se fizerem boas ofertas. "Um cara me ofereceu R$ 1 mil pelo álbum de 1978. Aí foi irrecusável, eu tirei da minha coleção e vendi. Para mim é um passatempo comprar e vender revistas, figurinhas e álbuns de futebol. E o legal é que as pessoas adoram e, como eu, fazem as suas próprias coleções."

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