12 de outubro de 2015 | 03h00
Acreditar no passado como garantia de glórias futuras, sem perceber as transformações do jogo, produz olhar equivocado, além de respostas e desculpas esfarrapadas. Fala-se do desaparecimento do camisa 10, do raro centroavante, da falha do zagueiro, da suspensão de Neymar...
Esse é o buraco em que nos metemos, sabemos muito sobre o jogador e a jogada, mas pouco sobre o jogo. O foco está sempre no rendimento individual, no diagnóstico dos problemas e não em como resolvê-los. Funcionou assim até hoje, por que mudar?
Quinze meses se passaram desde a tragédia no Mineirão e nada foi feito. Ainda não compreendemos a importância do talento coletivo por desconhecer como alcançá-lo. Isso explica a necessidade de trocar o comando diante de maus resultados.
Minutos depois de vencer o Brasil em Santiago, Jorge Sampaoli, o treinador argentino da equipe chilena, foi polido ao se fazer de desentendido quando perguntado por que os brasileiros gostam tanto dele.
É óbvio que ele sabe o que está acontecendo, mas não precisa se meter na polêmica alheia. A resposta está na sua capacidade de erguer uma seleção competitiva e corajosa sobre um grupo tecnicamente heterogêneo, mas taticamente simétrico.
Desde 2012 no cargo, a maturação do trabalho é um argumento importante até para Dunga. Mas não foi só isso que levou Sampaoli, um ex-lateral direito de carreira abreviada por contusão, à conquista inédita da Copa América neste ano.
Jara, Medel, Silva, Diaz, Isla, Mena, Beausejour e até Vargas não estão na minha lista de jogadores preferidos. Mas funcionam, são componentes de uma ideia, de um estilo ousado, corajoso e responsável, algo impossível de se enxergar na seleção brasileira, por crença e estilo.
Esse é o tipo de problema que é resolvido por quem está fora do campo, pelo comandante da operação. A seleção chilena não é a oitava maravilha do futebol, longe disso, mas deixa a impressão de fazer mais do que pode. Faça esse exercício e pense no futebol brasileiro com mais substância, vibração, coragem e ideias.
Com a paralisação do Campeonato Brasileiro para a disputa das duas primeiras rodadas das Eliminatórias Sul-Americanas, ficou muito claro que os nossos maiores pepinos estão fora do campo. Até aqueles que enxergamos como exclusivos do jogo têm origem na gestão funesta.
A semana foi terrível. Juan Carlos Osorio se mandou para o México. Ataíde Gil Guerreiro, o vice, acusou Carlos Miguel Aidar, o presidente do São Paulo, de roubar o clube. Joseph Blatter e Michel Platini foram suspensos pelo Comitê de Ética da Fifa.
Osorio foi atrás do sonho de dirigir uma seleção. Mas, na boa, o que o clube fez para mantê-lo? Nada, absolutamente nada. São ironias e tristezas de uma agremiação que sempre se apresentou como diferente. Que fim levou a elite da inteligência? Em socos e denúncias. E provavelmente renúncia.
É tão triste quanto a seleção de Marco Polo Del Nero, que vem ganhando perigosa indiferença do torcedor brasileiro. Apanhou do Chile e a repercussão foi tão pequena que deveria preocupar seus patrocinadores.
Em meio a tudo isso, a entidade ainda teve que avalizar e engolir a criação da Primeira Liga, torneio previsto para o início do ano que vem, que não é solução, mas parte de um problema mal resolvido. O poder faz o que pode para resistir e sobreviver. Vamos ver até quando.
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