A má fase do bolão

Nesta Copa, errar não significa ser menos entendido

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Por Patrícia Ferraz
Atualização:

Nunca vi um mundial derrotar tão rapidamente as apostas e nem de forma tão democrática. O curioso é que não adianta conhecer as táticas dos times, saber estatísticas históricas e nem calcular o desvio padrão antes de registrar o palpite. Esta Copa eliminou qualquer margem de previsibilidade dos bolões. Igualmente para especialistas e neófitos.

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Minha performance não serve de parâmetro, admito, está bem abaixo do desejável – até agora acertei só dois resultados, considerando placar completo, vencedores e número de gols. E um deles, o do Brasil, foi mais por torcida que por convicção. Arrasei mesmo só Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita. De resto, fiasco. Mas faço parte da multidão que está errando em cheio nesta Copa e, quando acerta, é por pura ousadia, recompensada com a desmoralização da lógica.

Patrícia Ferraz. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Ou vai dizer que alguém cravou 5 a 0 para a Rússia contra a Arábia Saudita porque acreditava no esquema tático dos anfitriões – que, imagino, não ganha de goleada desde os tempos do Czar Nicolau?

De acordo com minhas estatísticas, ninguém derrubou mais bolões que a Alemanha. Quem, em sã consciência, gastaria um palpite no bolão para apostar que os temíveis iriam começar perdendo para o México e, ainda por cima, levariam 2 a 0 da Coreia do Sul? Se eu tivesse apostado um placar desses, minha ignorância em futebol teria sido motivo de piada.

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Nesta Copa, errar não significa ser menos entendido. Apostei que a Espanha venceria o Marrocos, 3 a 1. Mesmo que o resultado desse jogo não tenha sido uma zebra completa, o dramalhão do 2 a 2 foi muito menos previsível que o meu palpite. A mesma coisa com o sufoco da Inglaterra contra a Tunísia, o de Portugal contra o Irã, ou o da França contra o Peru. Mas, entre os sofrimentos inimagináveis, nada mais delicioso do que errar com a Argentina empatando com a Islândia e levando três da Croácia.

Bolão sempre foi uma diversão extra na Copa – tem gente que parece se divertir mais com os acertos e erros do que com os jogos. Sem falar nos que torcem contra o jogo e a favor dos próprios interesses. Tenho visto isso bastante. Na partida do Brasil de quarta-feira, ouvi o seguinte: ai, meu Deus, coloquei 2 a 1 para o Brasil contra a Sérvia. Mas tudo bem, vai. Não vou torcer para eles fazerem o gol. Bolão é isso mesmo…

Daqui para frente, superadas as surpresas e as derrotas de grandes times, a tendência é que as coisas sejam mais previsíveis e que a má fase do bolão passe – perder é sempre coisa bem chata…

Quem sabe no jogo contra o México a situação já volte ao normal: 2 a 0 pra nós. Pela lógica. E, como o horário é propício, a sugestão, agora já na minha área de especialidade, é preparar um guacamole para traçar durante a partida. É fácil: esmagar um abacate bem maduro, misturar com ½ dente de alho esmagado, ½ cebola pequena picada o menor possível, misturar tudo com 1 limão tahiti inteiro, uma colher de azeite e sal.

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E é bem provável que o Brasil jogue com a Bélgica, o time que anda mostrando futebol bonito. Meu palpite? Brasil 2, Bélgica 1. O palpite gastronômico é ver o jogo diante de uma bela porção de batata frita – o prato preferido dos belgas. Mas não vale qualquer batata, tem de ser a mais jovem e fresca possível, cortada em oito partes no sentido vertical e frita em óleo bem quente duas vezes. Primeiro, para cozinhar por dentro, sem deixar pegar cor. Depois, na hora de comer, para dourar.  

*EDITORA DO CADERNO ‘PALADAR’

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