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A maior atração

Disputas de pênaltis foram protagonistas nas rodadas decisivas do Campeonato Paulista

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Por Redação
Atualização:

Das últimas rodadas decisivas do Paulista a maior atração foi o pênalti. O pênalti, quando isolado, quando acontece uma vez durante um jogo, já é um acontecimento especial. Cinco pênaltis batidos alternados e em seguida é um caso inteiramente fora do normal. O pênalti pertence ao futebol, mas não é o futebol. É outra coisa, é uma suspensão do jogo, um outro jogo, com outras regras e forma.

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Uma paralisação da atividade normal para que apenas dois jogadores se defrontem. Todos os outros jogadores em campo se reduzem, drástica e subitamente, a torcedores iguais aos das arquibancadas, aliás, com os mesmos trejeitos, abraçados, de costas, olhos arregalados, tem de tudo. E os dois personagens solitários têm sobre si a carga do estádio inteiro.

O jogador que bate o pênalti não precisa ser o melhor do time, não precisa nem mesmo ser um grande jogador. Às vezes é, outras não. O atleta que bate pênalti, principalmente aquele que se oferece para cobrar, é um caso particular. Tenho admiração por esses jogadores que se oferecem para decidir uma competição. São de uma raça diferente não só de jogadores, mas de homens.

Somos tentados a perguntar se têm mesmo essa tremenda confiança em si mesmos, esse tremendo controle sobre si mesmos, ou são apenas jogadores, no sentido de quem não sufoca a ânsia de arriscar ao ver uma roleta.

Sou levado a acreditar na primeira hipótese. Os que se oferecem para bater em decisões são homens que amam os holofotes, que fazem questão de estar no centro das atenções e confiam que podem dar conta do recado. E talvez saibam que é nesse momento único que podem mostrar suas qualidades excepcionais que muitas vezes se perdem quando há 22 em campo e as atenções são divididas.

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Talvez saibam que o melhor de si é esse momento que outros evitam, mesmo os grandes, mesmo os craques. Quantos grandes craques no momento dos pênaltis preferem ficar torcendo com os outros. Muita gente é tentada a achar que o grande craque é que deveria bater o pênalti. Eu não vejo como concordar com isso. Deve bater o pênalti quem tem, ou acha que tem, as qualidades necessárias para bater o pênalti, esse lance que não tem nada que ver com o resto da partida. Deve bater quem intui que pênalti é cosa mentale, como dizia um antigo gênio do Renascimento à respeito da pintura. Cosa mentale, isto é, bate melhor quem controla a mente. O futebol tem essas grandezas, esses lances surpreendentes, que põe à prova várias formas de ser dos jogadores. Mas não está só.

O basquete também tem seu pênalti: é o lance livre. Como no futebol, parece lance de execução fácil. O jogo também é interrompido para que uma cerimônia estranha se processe que, no caso do basquete, se resume a um atleta e, diante dele, imóvel, o frio metal e a cesta, enquanto o resto do ginásio, silenciosa ou ruidosamente, sofre. Não é tão incomum grandes arremessadores de três pontos, gente que arremessa de lugares inconcebíveis da quadra, perderem, não um, mas dois arremessos livres.

Vi ainda há poucos dias um dos grandes astros da NBA perder dois lances livres faltando segundos para o fim do jogo e, em da vitória, ocasionar a derrota do seu time. Lance livre também é uma cosa mentale.

A diferença é que no lance livre do basquete quem bate obrigatoriamente é quem sofre a falta. Não há no basquete a chance para aquele personagem que se oferece para bater. Tenho um fraco e uma certa inveja por gente que se arrisca sempre. Por gente que sabe que seu lugar é sob os holofotes jogando tudo, arriscando tudo, mas confiante que vai ganhar. Só o pênalti, esse lance diabólico, proporciona essa oportunidade. Pênalti não é sorte nem treinamento. É apenas para poucos.

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