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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Bolsonaro no jogo do Palmeiras: futebol é palanque político desde Washington Luís

A política nunca deixou de mamar na força e no carisma de seleções e times, e também em suas conquistas

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

Por que a política brasileira sempre andou de mãos dadas com o futebol? Uma das minhas respostas preferidas é porque é fácil conduzir e tirar proveito da massa mais simples da sociedade, digamos. O futebol é um esporte simples e popular, com regras que todos conhecem, pelo menos todos conheciam antes das invencionices do VAR. Num estádio, todos se tornam iguais e as cores de uma camisa empurram a grande massa para o mesmo lado. Aí é que entra a política, a maior e mais eficaz das artimanhas do convencimento. E os políticos. As promessas são apenas parte dos argumentos desses sofistas, que se valem da retórica para fisgar os torcedores, que para os candidatos são muito mais do que isso. São eleitores. Quem nunca ouviu dizer que políticos trocavam votos por camisas de times de futebol na várzea. Digo que isso ainda existe nos rincões do Brasil. Talvez não mais com camisas de futebol, mas com outras tantas beneficies. 

O Presidente Jair Bolsonaro assistiu a partida entre Palmeiras x Goiás no Allianz Parque, em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

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 Na Copa de 1970, o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, presenteou os campeões do mundo com unidades do Fusca. Foram 25 carros. Ele publicou a lei 7.485 concedendo os Fuscas como prêmio ao time nacional tricampeão no México. A verba foi retirada do Departamento de Obras Públicas que estava destinada à construção de edifícios.

Em 1927, Washington Luís, vestiu terno e gravata para ir ao centro do gramado dar o pontapé inicial da partida entre o Vasco e o Santos. Getúlio Vargas também lançou no estádio no Vasco seu salário mínimo, além de ter participado da inauguração do estádio do Pacaembu, em 1940. Na década de 50, o presidente Juscelino Kubitschek se valeu do futebol para se promover e a seus feitos. Ele recebeu a seleção brasileira, com Pelé e Garrincha, no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. O Brasil havia ganhado sua primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia. Pelé tinha 17 anos.  Nos tempos de chumbo, da ditadura militar, coube ao general Emilio Garrastazu Médici, gaúcho e gremista, festejar o tri Mundial com os atletas. Ele também era visto no Maracanã nos clássicos. Até se valia de um radinho de pilha para torcer pelo Flamengo e se identificar com os geraldinos. Lula falava muito de futebol pela sua proximidade com o Corinthians. Em 2002, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu no Planalto os pentacampeões do mundo, quando uma imagem entrou para a história, a de Vampeta rolando a rampa em sequência de cambalhotas. Sempre houve interesse dos políticos por essas imagens e participações. Ainda há. E agora dos dois lados. O futebol também bebe da água de Brasília. O futebol, no entanto, é capaz de mudar a imagem de atletas. Há reverência ao craque quando as coisas dão certo. Ocorre que o futebol também tem o poder de condenar pernas de paus. E políticos ruins.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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