PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

A revolução e a Copa

Tite tem difícil missão de manter controlado elenco e egos até a Copa

Por Marília Ruiz
Atualização:

Um porco premiado convence os outros animais de que eles deveriam declarar guerra contra os seres humanos, expulsá-los da fazenda onde moravam e, depois, assumir em grupo a administração do local. Esse é o ponto de partida da fábula clássica A Revolução dos Bichos, de George Orwell.

PUBLICIDADE

O livro, que dispensa maiores apresentações, foi lançado em 1945 e fazia metáforas claras ao regime soviético que surgiu depois da revolução russa, que nesta semana completou cem anos.

Apesar da tentativa vã do presidente Vladimir Putin de ignorar o centenário da revolução que impactou profundamente a política russa e a geopolítica mundial, a data reacendeu debates entre historiadores, acadêmicos e políticos sobre as mais diversas consequências do levante bolchevique que derrubou o czar há um século.

O esporte, tema da editoria, foi ferramenta central da propaganda da União Soviética. O programa nacional de educação física espalhou pelo maior país do mundo escolas para criar soldados e atletas olímpicos. A seleção de futebol foi usada como propaganda para estreitar laços diplomáticos, delimitar políticas de relações internacionais e espalhar os ideais soviéticos. Longe (bem longe) dos ideais olímpicos de Coubertin, o esporte assumiu papel de destaque especialmente durante o período da Guerra Fria.

Esse uso não mudou depois da dissolução da URSS em 1991. Ao contrário. A permanente tensão e a rivalidade com o governo americano mantiveram sempre em funcionamento a indústria de criação de “soldados-atletas”, que tanto sucesso sempre fizeram.

Publicidade

Mais recentemente, no ano passado, o Relatório McLaren, encomendado pela agência mundial antidoping (apresentado antes da Olimpíada do Rio), acusou o governo russo de fazer uma política estatal de doping.

A poucos meses de sediar a próxima Copa do Mundo, a Rússia nega acusações irrefutáveis, dá de ombros para os céticos e segue atropelando os críticos com notícias assustadoras sobre superfaturamento e atraso nas obras dos estádios onde se espera que o elenco da seleção brasileira, formada pelo técnico Tite, sempre tão “risonho, unido e entusiasmado e também ‘parça’’’, (mas não muito experiente), não repita o triste fim dos animais da fazenda do livro de George Orwell.

Também se pode ler A Revolução dos Bichos como uma alegoria das fraquezas humanas, capazes de levar ao fracasso grandes e bem-intencionados projetos. Tite parece ter conseguido formar um grupo de iguais, apesar das diferenças de talentos, cifrões e seguidores no Instagram (novo índice econômico) por trás dos seus convocados. Parafraseando Orwell, espero que ninguém se torne mais igual do que os outros até a bola parar de rolar em Moscou no dia 15 de julho do ano que vem, dia da final da Copa do Mundo. A ver.

BABÁ

Depois do problema com o atacante uruguaio Cavani no começo da temporada europeia, o técnico Tite designou um dos seus pares para acompanhar a repercussão do acirramento da relação entre Neymar e o técnico Unai Emery. 

Publicidade

AGENDA

Apesar de fazer questão de atender a todos os meios de comunicação e fazer questão de estabelecer uma relação simpática com a imprensa brasileira, Tite avisou que só vai dar entrevistas no Brasil até o dia 28 de fevereiro. Depois disso, só atenderá em coletivas. Ele quer se concentrar no trabalho final de preparação da equipe. Sua lista sai em maio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.