
07 de fevereiro de 2019 | 04h30
Diferente das personalidades exuberantes de Joseph Blatter ou de seu antecessor Michel Platini, o esloveno Aleksander Ceferin, advogado criminalista esloveno de 51 anos, conseguiu impor com sucesso seu estilo seco, frio e eficiente de tal maneira que será reeleito sem oposição como presidente da Uefa, na quinta-feira.
"Frio, prático, intransigente, mas aberto a discutir": Ceferin é definido assim por um dirigente do futebol europeu que o conhece bem. Ceferin "tem uma visão muito clara do que quer, mas ao mesmo tempo transmite confiança à sua equipe", acrescenta a fonte anônima.
Eleito em 2016 na disputa com o holandês Michael van Praag, o esloveno, então presidente da federação de seu país, chegou de surpresa no comando da poderosa confederação europeia.
"A situação era ideal: o maior escândalo havia causado muitos danos à imagem do futebol", explicou ele recentemente a uma assembleia de estudantes em Liubliana, capital eslovena, em referência ao escândalo de corrupção que afetou a Fifa e várias confederações. "Eu me apresentei. Me subestimaram e quando (os rivais) se deram conta da situação, era tarde demais", acrescentou.
Desde então, este amante dos esportes automotivos, que atravessou de carro o deserto do Saara em quatro ocasiões e uma de moto, tenta impor seu estilo, sem floreios, longe dos holofotes dos quais seu antecessor Michel Platini, que segue suspenso, tanto gostava.
Pai de três filhos, Ceferin administra o futebol europeu com o apoio de uma equipe que em grande parte já estava presente em sua chegada. Seu braço direito, o secretário-geral da Uefa, é o grego Theodore Theodoridis, filho do polêmico vice-presidente do Olympiakos, Savvas Theodoridis.
Theodoridis, cuja partida muitos anteciparam, presidiu o órgão interinamente em 2016, quando Gianni Infantino, ex-secretário-geral da Uefa, foi eleito para a presidência da Fifa. Ceferin o confirmou em seu cargo assim que chegou à presidência.
O italiano Giorgio Marchetti, secretário-geral adjunto e mestre de cerimônias nos sorteios das competições europeias, é o homem encarregado das "batatas quentes". Ele faz parte do grupo de trabalho criado pela Fifa dedicado aos projetos mais polêmicos, como a expansão de 7 a 24 equipes para o Mundial de Clubes ou da Liga Mundial das Nações, à qual a Uefa se opõe fortemente.
Ceferin também se apoia no sérvio Zoran Lakovic, encarregado das relações com as federações, no francês Kevin Lamour, ex-conselheiro de Platini, e a eslovaca Eva Pasquier, que integrava a Fifa, encarregada das relações com as outras confederações.
Para a comunicação, conta com o inglês Phil Townsend, ex-diretor de comunicação do Manchester United, cujo ex-diretor geral, David Gill, tem um cargo no comitê executivo da instância.
Sem grande margem de manobra desde sua ascensão ao poder, uma vez que foi obrigado a aplicar medidas adotadas na era que o antecedeu, o esloveno parece agora querer imprimir sua marca e impor uma mudança diante das zonas obscuras da gestão Platini/Infantino.
"Vemos bem sua vontade de dar mais protagonismo aos clubes e países pequenos com a criação de uma terceira competição europeia e a Liga das Nações, mas é cedo demais para dizer se isso terá um efeito", analisa Didier Primault, diretor do Centro de Direito e Economia do Esporte de Limoges.
Classificado em 2019 pela revista eslovena Reporter como um dos eslovenos mais influentes no mundo, logo atrás das primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, Ceferin "tem por objetivo mostrar que não é a marionete de Infantino, embora tenha sido um homem próximo ao presidente da Fifa (o norueguês Kjetil Siem) que trabalhou a favor de sua eleição para a Uefa", destaca um observador.
"O clã de Infantino se disse: 'Como Ceferin vem de lugar nenhum e nos deve tudo, vai se calar'. Mas ninguém se deu conta de que ele não se importava com essas pessoas e que não era um cortesão", acrescentou.
Para proteger a Liga dos Campeões, a galinha dos ovos de ouro da Uefa, Ceferin enfrentou o chefe da Fifa, que pretende lançar um Mundial de Clubes com mais equipes, a partir de 2021, que poderia fazer sombra à Champions.
Em minoria diante de Infantino e "sob a influência política dos grandes clubes, cuja influência econômica cresce", segundo um observador, o esloveno terá mais quatro anos para seguir deixando sua marca... antes de, como Platini durante seu mandato, sonhar com a Fifa? "Por enquanto, não estou absolutamente interessado na presidência da Fifa. Mas se me perguntam se pensarei o mesmo dentro de 4, 8 ou 10 anos, não posso dizer nem sim nem não".
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