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Alemanha avança no plano de se tornar a maior potência mundial no futebol

Conheça o futurístico projeto de R$ 450 milhões da Academia DFB, o 'Vale do Silício do futebol'

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Por Jamil Chade e e Matheus Lara
Atualização:

A ambição da Alemanha é maior do que "apenas" faturar o pentacampeonato na Rússia em junho e se igualar ao Brasil no número de títulos mundiais. No mesmo mês, a federação alemã de futebol (DFB) dará início a um projeto que promete ser por muito tempo o ápice da tecnologia e da ciência aplicadas ao futebol. É a Academia DFB, a nova sede e centro de treinamentos e estudos da federação em Frankfurt, que já vem sendo chamada de "Vale do Silício do Futebol".

No país, o projeto é visto como um caminho natural para que a Alemanha se consolide como a maior potência do futebol mundial. E a aposta é na inteligência. Serão investidos mais de 110 milhões de euros (R$ 450 milhões) para a construção de um complexo tecnológico e esportivo de mais de 54 mil m² composto por campos, academia, mas também por laboratórios e salas de aula.

 

Alemanha se utiliza da tecnologia para crescer no futebol. Foto: DFB/Divulgação

A estrutura será construída com patrocínio de uma empresa de software para gestão de empresas no terreno de um antigo hipódromo da cidade alemã. Como contrapartida para a construção da Academia, nove hectares de floresta nativa deverão ficar intactos e a federação construirá um parque público, batizado de "Parque Cidadão", como parte integrante do projeto.

O conceito central da Academia DFB é o de "big data", termo da informática utilizado para se referir ao armazenamento e manipulação de um grande conjunto de dados. "A Academia estará em rede", informa a federação. "O projeto reúne especialistas de diferentes áreas, como psicologia, medicina, esporte e comunicação, para trabalhar estratégias de otimização de desempenho.”

O objetivo é o de ser o líder na análise digital da esporte, algo considerado como a nova etapa que qualquer comissão técnica terá de mergulhar. Na avaliação dos alemães, estatísticas como posse de bola e a quilometragem percorrida por um jogador em campo são dados "ultrapassados". "O que se quer saber é a eficiência de um jogador. E não quanto tempo ele fica com a bola no pé", explicou um representante da DFB. 

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Um exemplo amplamente usado pelos protagonistas do novo sistema: em 2014, o Brasil de Scolari foi o time que ficou com o maior percentual de tempo com a bola no pé. Mas foram os alemães que fizeram sete gols. 

Pela Europa, o projeto gera preocupação dos demais países, alarmados com o salto que o centro poderia dar aos alemães e os distanciando ainda mais do restante do continente. Ao Estado, membros da Uefa admitiram que o plano é “revolucionário” e poderia abrir fronteiras inéditas na forma pela qual o futebol é administrado em campo.

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Para especialistas da entidade europeia, a mudança pode ser da mesma dimensão que a revolução que foi criada quando, nos anos 50, seleções passaram a ter preparadores físicos profissionais.

Um dos objetivos do trabalho integrando diversas frentes é, para a federação, uma forma de tentar resolver qualquer problema dentro de campo. Um jogador com baixo aproveitamento em finalizações, por exemplo, poderá ter todos seus chutes a gol monitorados por um sistema que entregará relatórios com informações sobre força do chute, curvatura da trajetória da bola e posição do pé do atleta no momento do impacto. Com isso tudo em posse de treinadores, a aplicação vai para o gramado e, para a federação, o caminho para a melhora se torna natural.

"A estrutura está sendo pensada para garantir que nossos melhores jogadores e nossas melhores mentes encontrem as melhores condições para trabalho", afirma o presidente da entidade, Reinhard Grindel. "O resultado será o destaque no futuro, e muitos títulos para a Alemanha. Isso também via impulsionar o futuro, já que, quando um time joga com sucesso, as crianças e jovens passam a emular seus ídolos. Quanto mais sucesso na ponta, mais forte o influxo na base."

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Os sinais de que a Alemanha busca o topo do mundo no futebol não são de agora. Mesmo antes de 2014, quando faturou o Mundial no Brasil, a seleção já fazia uso de tecnologias para tentar aprimorar seu desempenho. Na Copa, o técnico Joachim Löw utilizava um software que calculava estatísticas através de vídeos. Uma das aplicações, na preparação para o torneio, era na velocidade - em campo, o fatídico 7 a 1 sobre os anfitriões foi uma aplicação direta dos resultados de um amplo estudo de como rodar a bola de modo a fazer o adversário abrir grandes buracos no setor defensivo.

O treinador da seleção alemã acompanha de perto o desenvolvimento do projeto da Academia DFB. Em carta aos moradores de Frankfurt, ele disse ver o projeto como uma forma de garantir o futuro do futebol alemão. "A Academia será onde desenvolveremos jovens atletas e ideias para nosso futebol. O design, seus campos e áreas verdes dão uma ideia do que pode acontecer lá."

Além do foco no desenvolvimento do time nacional e das equipes de base e feminina da Alemanha, a intenção da federação é descobrir, melhorar e projetar novos talentos da modalidade no país. Clubes com menor estrutura, até amadores, poderão utilizar as dependências da Academia. "O novo espaço da federação está em interação com as associações do país para também poder promover o futebol amador na Alemanha", informa a entidade. "Quanto maior a participação de pequenos clubes na Academia, mais aparecerão talentos."

O projeto, que a federação espera poder inaugurar em 2020, tenta atrair a atenção de empresas de tecnologia ao redor do mundo. No início deste mês, o diretor de projetos da DFB, Oliver Bierhoff, esteve na Califórnia visitando empresas do setor.Para chegar ao modelo que começa a ser criado, empresas como Google e Tesla, além de universidades como a Stanford, foram consultadas, na busca pela tecnologia de ponta.

"O intercâmbio é fundamental para que possamos manter as parcerias existentes e, ao mesmo tempo, obter novos insights. Digitalização, inovação e pesquisa estão se tornando cada vez mais importantes no esporte de primeira classe, e é isso que queremos", disse Bierhoff.

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