A paixão dos torcedores criou uma crise pública que será resolvida de democrática em Natal (RN): um plebiscito. É assim que os dirigentes do ABC esperam contornar o mal-estar criado com o rival América por causa do aluguel do Estádio Maria Lamas Farache, ou Frasqueirão, como é conhecido. Como o Machadão, principal estádio da capital, está em reforma desde o começo do (visando a utilização pelo América na Série A do Brasileirão deste ano), os dirigentes americanos, junto com a federação local, procuraram o ABC na tentativa de alugar o estádio para os jogos no Estadual. Estava tudo certo, inclusive entre os conselheiros dos dois times, até que o presidente do ABC, Judas Tadeu, resolveu ouvir os torcedores. O negócio emperrou. ?A torcida não aceita a presença deles (torcedores do América) no estádio. Por isso vamos fazer um plebiscito, antes do jogo deste domingo, contra o São Gonçalo?, conta Tadeu. O torcedor, ao entrar no estádio, vota. Se a torcida vetar, o dirigente calcula que o prejuízo será de cerca de R$ 200 mil - o que seria arrecadado com os jogos do adversário em sua casa. Do lado do América, a insatisfação é grande. Tanto que o time já resolveu ir mandar suas partidas na vizinha Parnamirim (cerca de 14 quilômetros), num estádio para 4 mil pessoas (o Tenente Luiz Gonzaga) e com quase nenhuma infra-estrutura. ?Já sabemos qual será o resultado ao envolver a torcida. Então resolvemos nossa parte. Mas estamos abertos a negociar, desde que seja uma proposta oficial?, diz Ricardo Bezerra, diretor de Futebol do América. Só se fala nisso Inaugurado há um ano, o Frasqueirão tem capacidade para 14 mil torcedores. Seu nome, inclusive, é uma homenagem à torcida do ABC, que é conhecida graças aos próprios americanos. Diz a história que o time do América é o de elite, e o ABC, mais popular. Por causa disso, os abecedistas começaram a serem chamados de frasqueiras, um maleta ou bolsa em forma de caixa para transporte de objetos de toalete e miudezas, segundo o dicionário Aurélio. Foi aí que surgiu o apelido. O envolvimento do assunto com a cidade é tamanho que um jornal da cidade chegou até a invocar, em editorial, o espírito de um arcebispo já falecido para atuar como conciliador. No site da torcida do ABC (www.abcnatal.com.br) há até um abaixo assinado aberto a quem queira se manifestar contra o aluguel do local. Reforma acabará na véspera do Brasileirão A reforma do Estádio Machadão está prevista para terminar para acabar uma semana antes do início do Campeonato Brasileiro, dia 13 de maio (120 dias ao todo), já que o América está de volta à Série A. Com orçamento de R$ 8,5 milhões, além de arrumar toda a infra-estrutura (iluminação, parte elétrica, vestiários, etc.) do local, as obras estão adequando as arquibancadas às normas da Fifa. O setor da geral, mais próximo do campo (onde o torcedor assistia ao jogo de pé) está sendo destruído para a ampliação da arquibancada. Com isso, a capacidade do estádio diminuirá de 37 mil para 33 mil torcedores. A reforma, bancada pela Prefeitura local, pois o estádio é municipal, era necessária desde o ano passado, quando, devido aos problemas, o América só podia vender até 20 mil ingressos para os jogos da Série B. Até lá, segue a indefinição. O clássico entre América e ABC, inclusive, deve ser realizado na cidade de Mossoró, interior do estado (a 285 quilômetros da capital), no Estádio Leonardo Nogueira, que tem capacidade para 10 mil pessoas.