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Amoroso avisa torcida: "Vou arrebentar"

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Por Agencia Estado
Atualização:

São dez e meia da noite de sexta-feira, em Yokohama. Márcio Amoroso dos Santos é pontual e chega no lobby do Sheraton Baia Hotel na hora marcada para a entrevista. "Só falo do jogo. Não falo de contrato com o São Paulo", recita em voz alta a imposição que quebraria logo depois. Ele falou bastante. E passa sinceridade no que fala. Parece ser mesmo um são-paulino recém-convertido, como garante. "Não sou mercenário. Quero ficar aqui porque amo esse clube. Só peço um contrato de três anos", diz. Se jogar como prevê, certamente o clube terá um motivo a mais para ficar com ele. Amoroso tem certeza absoluta ? e, novamente, é difícil não acreditar ? que fará uma partida excepcional. "É a minha Copa do Mundo. Não me levaram em duas e agora quero esse título. A torcida do São Paulo vai comemorar muito, tenho certeza". Amoroso tem um retrospecto de cumprir promessas. E de sempre falar o que pensa. Por isso, ganhou tanto amor da torcida do São Paulo e passou a irritar os corintianos ao deixar claro que não é fã do futebol do adversário. Isso conta quase tanto quanto os 16 gols que marcou em 28 partidas, desde que estreou contra o River Plate, no dia 22 de junho, contra o River Plate, no Morumbi, pela semifinal da Libertadores. "Foi Deus que me colocou no São Paulo naquele momento tão especial do clube. Cheguei, me dei bem com todos e ainda ganhamos a Libertadores. A camisa do São Paulo caiu muito bem em mim", diz. A torcida concorda. E não quer sua saída. Mesmo que tenha, como consolo, o titulo. Que ele considera provável. "Ninguém veio aqui comprar máquina digital ou computador. Viemos para ser campeões. Podem acreditar." A seguir, trechos da entrevista. Agência Estado - O São Paulo vai ser campeão do mundo? Amoroso - Estamos aqui para isso. Não viemos passear e nem comprar computador. O trabalho foi bem feito. A parada ajudou muito, todo mundo está em forma. Corremos os 90 minutos do primeiro jogo. Mesmo se tivesse mais 15 minutos, eles não empatariam. O São Paulo tem tradição, já ganhou duas vezes. O grupo é unido, o técnico é bom. Temos tudo para vencer, mas não posso prever o futuro. AE - Como você está para o jogo? Amoroso - Vou arrebentar. Vou fazer uma partida excelente, tenho certeza. Estou perfeito, com extrema confiança em meu futebol. Fisicamente, não tenho problemas, tenho tudo para sobrar no jogo. AE - E como vocês vão vencer? Amoroso - A tática é ter a posse de bola mais tempo do que eles. Tocar bem, fazer com que corram atrás da gente. É um jogo de paciência. Temos de impedir também a saída de bola deles desde a defesa. Eu e o Aloísio teremos de fazer esse trabalho. E dá para fazer bem feito. E ir para o jogo, driblar, encarar, buscar faltas para o Rogério marcar. AE - Quais os cuidados que eles merecem? Amoroso - Bem, se o Crouch jogar, vamos tentar impedir cruzamentos. Se não der, vamos brigar em cima. Ele ajeita muito bola para os outros. Por isso, o Josué e o Mineiro vão estar atentos na segunda bola. Ela é fundamental para gente. Os caras chutam boem. AE - Isso se o Crouch jogar? Amoroso - É. Eu acho que joga o Morientes, que é mais técnico e veloz. Estamos preparados para as duas opções. AE - Vocês tiveram mais dificuldades em vencer o Al Ittihad do que o Liverpool teve com o Saprissa... Amoroso - A qualidade técnica é muito diferente. Os árabes são experientes, a zaga já esteve em Copa do Mundo. O Saprissa foi muito infantil, é um time bem mais fraco. AE - Quanto tempo mais você acha possível jogar em alto nível como agora? Amoroso - Vou jogar até os 40 anos, como o Romário. Enquanto ninguém me atropelar, eu não paro. Além do mais, eu me cuido. Sou preocupado com a saúde, treino muito, não fumo e bebo só uma cervejinha ou um vinho de vez em quando. AE - As contusões te atrapalharam? Amoroso - Tive uma grave contusão em 1994, quando rompi o ligamento cruzado anterior do joelho direito. Sofri, mas foi bom ver o lado triste do futebol, longe da fama. Aprendi muito e me fortaleci. AE - Isso atrapalhou sua carreira na seleção? Amoroso - Não foi isso. Não sei o que foi. Em 1998, estava no Udinese. Fiz oito gols e dei 17 assistências para o Bierhoff. Ele fez 25 gols e foi o artilheiro do campeonato. Em 99, fiz 22 gols em 32 jogos. Fui o artilheiro do Campeonato Italiano. O único brasileiro a conseguir isso. Mesmo assim, fiquei de fora. Em 2002, fui o artilheiro do Campeonato Alemão, pelo Borussia, fui eleito o melhor jogador do campeonato e fui vice-campeão da Copa da Uefa. Também não me chamaram. Nada a ver com contusões. AE - Ficou mágoa? Amoroso - Não, mas quero ser campeão do mundo. A seleção dá prestígio, mas o título pelo clube é mais reconhecido. O torcedor do clube é mais apaixonado. AE - Como você define seu estilo? Amoroso - Sou um centroavante de boa qualidade técnica, que também sabe jogar um pouco mais recuado. Também jogo pela esquerda, como fiz muito tempo na Europa. Era um dos três atacantes, sempre pela esquerda. AE - Vocês sentiu desconfiança da torcida quando chegou? Amoroso - Um pouco, mas é fácil de entender. Eu estava há 11 anos fora do Brasil. Ainda bem que fiz bons jogos e já ganhamos a Libertadores. Hoje, eu sinto que todos gostam de mim. AE - É a sua despedida? Amoroso - Tomara que não. Quero ficar porque adoro o São Paulo. Estou aqui há cinco meses, mas parece que faz tempo, que fui revelado aqui. AE - Se quer ficar, porque assinou o pré-contrato com o FC Tokyo (do Japão)? Amoroso - Assinei dia 23 de novembro porque ainda não havia sido procurado para renovar o contrato. Precisava de segurança depois de 31 de dezembro, quando o contrato terminasse. Mas agora dei uma demonstração de que quero ficar no São Paulo. AE - Como assim? Amoroso - O pré-contrato tem uma multa de 500 mil dólares, mas o clube vai depositar esse valor na minha conta em 1 de janeiro. Então, se o São Paulo me quiser, eu devolvo os 500 mil dólares como forma de pagar a multa. O São Paulo não gasta nada. Se for outro time, de qualquer lugar no mundo, tem de pagar os 500 mil dólares. Só abro mão para o São Paulo. AE - Por quê? Amoroso - Gosto do clube, não sou mercenário. Quero prestígio e não dinheiro. O São Paulo me dá prestigio. Só peço, a única exigência é um contrato de três anos, para eu planejar minha vida. Tenho filhos de oito e três anos. AE - Você ficou rico com o futebol? Amoroso - Quem me dera. Só tenho uma casinha. Nada mais.

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