
01 de dezembro de 2019 | 12h00
A desconstrução do racismo não se trata de uma questão de fácil e rápida. Ainda assim, é claro que podemos avançar muito na forma de combatê-lo, afinal estamos patinando. Ações coletivas têm uma força muito maior para denunciar e reivindicar melhorias no enfrentamento ao racismo do que aquelas individuais, as quais, em geral, são efêmeras e, invariavelmente, acarretam em consequências para os valentes que erguem a bandeira. Basta ver o que aconteceu, por exemplo, com o goleiro Aranha, que teve a carreira prejudicada desde que denunciou aquela torcedora racista. Mais do que heróis, precisamos de um movimento.
O Estado, por sua vez, precisa cobrar das autoridades esportivas, policiais e jurídicas maior seriedade no tratamento desse problema, aplicando não só o frágil protocolo redefinido neste ano pela Fifa, mas, sobretudo, as leis brasileiras. Mas como cobrar isso de um governo federal e de governos estaduais e municipais que só querem usar o futebol como palanque político? Difícil, para não dizer impossível.
Os dirigentes de federações deveriam exigir dos dirigentes de clubes, como algumas ligas norte-americanas fazem com suas franquias, que negros ao menos fossem entrevistados para cargos vagos de treinador ou gerente. Tratar-se-ia de uma espécie de cotas raciais para cargos outros que não apenas o de atleta profissional. Mas como exigir isso se o próprio governo federal questiona a política pública de cotas e se o interesse principal dos dirigentes é a manutenção no poder, não o desenvolvimento do esporte?".
As entidades que organizam e participam das competições deveriam ser obrigadas a fazer campanhas de reeducação e conscientização, além de apoiar financeiramente movimentos autônomos da sociedade civil, tal como a ONG Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que tem feito um belíssimo trabalho, embora lute para se manter. Até nisso, vemos ações interesseiras por parte dos clubes. Em suma, trata-se de uma questão complexa, complicada e de difícil resolução. O caminho, infelizmente, é longo.
Marcel Tonini é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP)
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.