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Analista de mercado vira profissional indispensável para clubes de futebol

Assim que comprou o Botafogo, o magnata americano John Textor trouxe Alessandro Brito para coordenar a reformulação no elenco

Foto do author Ricardo Magatti
Foto do author Rodrigo Sampaio
Por Ricardo Magatti e Rodrigo Sampaio
Atualização:

Assim que comprou o Botafogo, o magnata americano John Textor não gastou parte de sua fortuna em jogadores. O que ele fez, antes disso, foi buscar Alessandro Brito, encarregado de coordenar a reformulação no elenco. Brito é analista de desempenho, um profissional cada vez mais fundamental para o sucesso de uma equipe de futebol. Novo rico no Brasileirão, o clube carioca é uma das equipes que apostam no aperfeiçoamento dessa metodologia para definir suas contratações. Nenhum passo será dado sem olhar para os dados.

Dono da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Botafogo, o empresário americano foi atrás de Brito porque já o conhecia. Ele foi um dos responsáveis pela montagem do plantel do Atlético-MG, atual campeão Brasileiro e da Copa do Brasil, e hoje procura atletas para o alvinegro carioca na função de 'headscout'. 

Alessandro Brito coordena todas as áreas de scout do Botafogo Foto: Vitor Silva/Botafogo

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Com passagens por Athletico-PR, Paraná e Internacional, Brito coordena todas as áreas de scout do Botafogo - mercado, captação e desempenho. Desde a sua chegada, o clube de General Severiano contratou 11 atletas e foi o time que mais gastou nesta última janela de transferências. Chegaram Philippe Sampaio, Lucas Piazon, Saravia, Patrick de Paula, Victor Sá, Luís Oyama, Victor Cuesta, Niko Hämäläinen, Tchê Tchê, Lucas Fernandes e Gustavo Sauer.

"Estamos criando um departamento de mercado, que será responsável por atletas com potencial para compra para a equipe principal. Na parte de mercado, queremos trabalhar com observadores in loco e via vídeo para analisar a performance do atleta", revela ao Estadão. "Pegamos os dados do jogo e o transformamos para captar o atleta ou para saber sobre a performance da equipe. O headscout não é só o que contrata. É um banco de dados que passa informações para o clube. O departamento tem de ceder ao clube as informações. Essa é a ideia", explica.

O Botafogo conta com três analistas desempenho, dois de mercado - entre eles o ex-comentarista do SporTV Raphael Rezende - e um profissional que cuida de toda a base de dados, além do apoio do setor de análise do Crystal Palace, clube da primeira divisão da Inglaterra no qual John Textor, dono da SAF do alvinegro carioca, é acionista. A participação do empresário no processo é grande, visto que ele se comunica duas ou três vezes por dia com os profissionais. A confiança no processo foi o que fez com que a diretoria pagasse R$ 33 milhões para tirar Patrick de Paula do Palmeiras e fazer do volante a contratação mais cara da história do clube.

"Todos os nomes que são sugeridos têm de ter o aval de três frentes: o departamento de scout, o pessoal do Crystal Palace, que nos ajuda com relatórios, e a comissão técnica. Só com esse aval é que caminhamos. Ninguém toma decisões sozinho", salienta Brito. "Estamos procurando um camisa 9. Pegamos informação que o Botafogo tem, que a comissão técnica tem, que o Crystal Palace tem. Juntamos, vamos ao mercado e chegamos a um consenso. Não surge um atleta do nada. São atletas, geralmente, pinçados para formar esse novo formato do clube. E o Patrick de Paula é um deles", exemplifica.

"A ideia do Botafogo neste primeiro e no segundo ano de SAF é elevar o nível técnico da equipe nas disputas. Até 2023, a ideia é recolocar o Botafogo em nível competitivo. Queremos trazer jovens para usar o Botafogo como vitrine e colocar esses atletas no mercado internacional. Essa é também uma das intenções, trabalhar com atletas de 22, 23 anos, para que eles consigam performar. Eles ajudam o clube e futuramente o clube pode ter um retorno financeiro com eles. Futebol não é receita de bolo. A gente acredita muito no trabalho, sem vaidade. Esse começo está bem bacana. Estamos remando juntos por um propósito”.

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Dados, informações e tecnologia

Em resumo, o trabalho de um analista de mercado consiste em prospectar "jogadores alvos", isto é, que virem ativos e proporcionem um retorno técnico e financeiro para a instituição. Esse profissional coleta informações, analisa e produz relatórios para que o clube tome a melhor decisão possível na hora de contratar um jogador.

"Com a evolução do futebol e da tecnologia dentro desse nicho, cada vez mais se faz necessário esse tipo de profissional dentro de um clube de futebol", observa Leandro Costa, analista de mercado do Fortaleza. Sem tantos recursos, mas organizado financeiramente, o clube cearense montou um elenco coeso e no ano passado ficou entre os quatro melhores do Brasileirão, o que lhe permitiu disputar a Libertadores pela primeira vez em sua história.

Lucas Oliveira trabalha de forma integrada com a comissão de Abel Ferreira no Palmeiras Foto: Cesar Greco/Palmeiras

"O jogo começa a partir das análises, através dos detalhes para obter a melhor forma de vencer as partidas ou para o melhor custo-benefício na hora de contratar", salienta.

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O contato direto com treinadores, auxiliares e preparadores físicos é uma das marcas no trabalho dos analistas. Amparados por softwares tecnológicos ricos em números detalhados de jogadores, times e campeonatos, são eles os responsáveis por indicar quem pode ou não servir para reforçar um elenco, bem como os níveis de rendimento de determinado jogador, passando a informação para a diretoria de futebol.

"O departamento de análise de mercado é fundamental para um clube estar sempre atualizado quanto ao mercado de atletas. É ele que dá a sustentação para uma tomada de decisão mais correta por parte da diretoria de futebol no que tange à contratação de atletas", reforça Giovane Dalla Valle, gerente de mercado do Avaí, clube que voltou a disputar o Brasileirão neste ano.

No Palmeiras, os atletas e o técnico Abel Ferreira colhem os louros pelos títulos recentes. Mas, para a engrenagem funcionar, há vários funcionários importantes. Lucas Oliveira, coordenador do departamento de scouting, é um deles. "É um trabalho de bastidores, pautado pela discrição profissional e organização de acordo com as diretrizes institucionais", descreve Oliveira. Ele e sua equipe levantam informações acerca de desempenho e de monitoramento, para suporte e auxílio a possíveis tomadas de decisões da diretoria e trabalham de forma integrada com a comissão técnica de Abel.

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"Abel e seus auxiliares trazem a visão do compartilhamento de conhecimentos entre os profissionais do clube, o que permite uma troca de ideias fundamental para qualificação dos processos", conta o profissional, segundo o qual, os portugueses "valorizam muito as relações humanas em nosso dia a dia".

Metodologia do futuro

O aprimoramento na captação de talentos requer um grande nível de investimento financeiro, o que nem sempre dará lucro da noite para o dia. É justamente a falta de dinheiro que faz com que os clubes, principalmente no Brasil, dependam das indicações de empresários e dirigentes para definir quem será o próximo camisa 10. Para Alessandro Brito, o departamento de scouting é um trabalho de vanguarda, e quem começar a investir na análise irá colher os frutos lá na frente.

"Quem consegue chegar mais cedo vai beber água limpa. Esse é um pouco do trabalho do scout. Hoje, os clubes já enxergam o departamento de scout, de mercado, como um carro-chefe na instituição. Acredito que uns 15 clubes no Brasil já têm bastante sólida essa parte de captação de atletas, de análise dos jogadores. Até na Série C os clubes dão importância para a análise de desempenho. É algo que vem crescendo muito", diz.