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Anderson: novo fenômeno do Gêmio

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Por Agencia Estado
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Aos 6 anos, Anderson saiu sozinho pelas ruas do bairro pobre de Porto Alegre, onde nasceu, à procura de um time para jogar futebol. Aos 10, passou três dias longe de casa, sem o consentimento dos pais, para disputar um torneio numa cidade que não conhecia. Aos 11, ingressou no Grêmio. Aos 12, parou de estudar. Aos 13, perdeu o pai. Aos 15, fez seu primeiro jogo como profissional. E aos 16, ganhou fama nacional ao ter seu salário aumentado em 50 vezes: de R$ 800 para R$ 40 mil mensais. Tanta coisa em tão pouco tempo fez com que Anderson amadurecesse de uma forma espantosa. Sua aparência e hábitos ainda são de um garoto de 16 anos. Mas seu discurso já é de um adulto há muito calejado com a vida. Bastam dez minutos de conversa para perceber que, além do talento, Anderson tem outra coisa que o diferencia dos demais jogadores de sua idade: personalidade. "Consegui tudo muito rápido e consegui tudo sozinho. Nunca dependi de ninguém. Sempre soube me virar e me orgulho muito disso", diz o meia gremista, que pinta como novo candidato a fenômeno do futebol brasileiro. Seu talento chama a atenção. Seus dribles e gols já passaram até no Jornal Nacional, da TV Globo. Empresários ligados a clubes do exterior sondaram o Grêmio, mas os dirigentes gaúchos nem pensam em vender o garoto. Acreditam ter descoberto uma nova mina de ouro, capaz de render a eles o dinheiro que Ronaldinho Gaúcho não rendeu -- o hoje craque do Barcelona saiu do Grêmio pela porta dos fundos, brigado na Justiça. Anderson, aliás, está ciente que um dos maiores obstáculos em sua carreira serão as comparações com Ronaldinho Gaúcho. "Ele é meu ídolo. Só que ele é ele, eu sou eu. Meu nome é Anderson". Mas é inevitável não compará-los. Como Ronaldinho Gaúcho, Anderson nasceu em Porto Alegre e começou a jogar no Grêmio. Como Ronaldinho Gaúcho, Anderson rapidamente chamou a atenção por sua habilidade. Como Ronaldinho Gaúcho, Anderson gosta de uma roda de pagode nas horas vagas. As semelhanças entre os dois param por aí. As diferenças começam por aqui: ao contrário de Ronaldinho Gaúcho, Anderson jura que não vai forçar a barra para sair do Grêmio, apesar de o time estar na Segunda Divisão. E ao contrário de Ronaldinho Gaúcho, Anderson não contou com o apoio da família para começar no futebol. E isso faz muita diferença, principalmente para um jovem sem estudo - Anderson cursou só até a sexta série. Para chegar a um clube como o Barcelona e se tornar o atual melhor jogador do mundo, RG teve o respaldo de muita gente, principalmente do irmão mais velho, o ex-meia Assis. "Minha família sempre me apoiou", diz o craque dentuço. Já Anderson tem uma história familiar bem diferente. Ele não esconde que, por causa do futebol, teve vários desentendimentos com a mãe e os irmãos mais velhos. Tanto que, há três anos, saiu de casa. Morou um tempo nos alojamentos do Grêmio e agora está prestes a se mudar para seu segundo apartamento - pago do próprio bolso, em várias parcelas, com os R$ 40 mil mensais que recebe do Grêmio desde janeiro. "Prefiro morar sozinho", diz o garoto. Anderson ajuda os familiares "quando precisa", mas espera que isso não seja necessário para sempre. "Vou dar um negócio para minha mãe abrir. Não sei o que ela vai querer. Tomara que dê certo". Hoje em dia, além da ajuda de Anderson, dona Doralice vive da pensão do marido falecido. Os irmãos mais velhos do jogador trabalham. O xodó de Anderson é o irmão mais novo, Emanuel. "Ele é adotado. É de quem eu gosto mais ali". Uma pergunta é inevitável: sem boa estrutura familiar, é possível não se deslumbrar com as "tentações" que surgem para os novos aspirantes a craques do futebol brasileiro? "Sim, claro. Não vou me deixar levar por nada, vou sempre manter os pés no chão", responde. Mas, para completar, Anderson não tem empresário e isso, hoje em dia, soa como uma aberração no futebol, mesmo em se tratando de um jogador tão jovem. Foi o próprio Anderson quem tratou do mega-reajuste salarial e do contrato de patrocínio com a Nike (a mesma marca que patrocina seus ídolos Ronaldinho Gaúcho e Robinho). "Sei que estão todos falando sobre o meu aumento, mas encaro isso de forma natural. O pessoal do Grêmio reconheceu meu talento e me chamou para renovar o contrato. Se me ofereceram R$ 40 mil, é porque depositam grande confiança em mim", diz o garoto, que completa: "E, sinceramente, não importa o quanto o guri ganha, mas o quanto ele joga. De resto, é só não deixar esse salário subir à cabeça".

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