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Andrés sobre naming rights da Arena Corinthians: 'Se chegarem com uns R$ 200 milhões, eu aceito'

Responsável pelo projeto do estádio corintiano diz que problemas da Odebrecht dificultam as negociações

Foto do author Robson Morelli
Foto do author Vitor Marques
Por Daniel Batista , Robson Morelli e Vitor Marques
Atualização:

Ex-presidente do Corinthians e responsável pelo projeto da Arena em Itaquera, Andrés Sanchez está preocupado com o fato de as coisas relacionadas ao estádio não caminharem como o planejado. Ele não consegue vender os naming rights da casa corintiana e admite que a operação Lava Jato atrapalha o andamento das negociações.

Em entrevista exclusiva ao Estado, Andrés abre o jogo, diz que as suspeitas sobre a arena dificultam transações, responde para quem insinua que o ex-presidente Lula deu o estádio ao clube, revela um pedido do político do ex-mandatário do País, assegura que o pagamento da obra não afetará o futebol do time e cutuca o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, pelo fato de o Allianz Parque ser da WTorre. O dirigente também falou sobre futebol e a política do Corinthians (clique aqui para ler a segunda parte da reportagem)

Andrés Sanchez diz que Lava Jato atrapalha negociações da Arena Corinthians Foto: Felipe Rau/Estadão

O plano de negócios da arena Corinthians não funcionou? O plano foi feito por um especialista, que é o Luis Paulo Rosemberg. O estádio custou R$ 985 milhões e tem mais R$ 40 milhões ou R$ 50 milhões que faltam para terminar a construção. Temos R$ 500 milhões do CID (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento), que foi questionado na Justiça, mas vencemos na primeira instância e a segunda será decidida em breve. Já vendemos uma parte e não conseguimos vender mais por causa dessa briga judicial, pois os interessados pedem desconto de 30% e não aceitamos. Os naming rights estão atrasados por mil razões. Pegando esses valores, você tem 70% do estádio pago. Camarote, a gente imaginava vender mais rápido, mas não esperávamos essa crise no Brasil. A operação Lava Jato influencia ou amedronta alguma empresa a dar nome ao estádio? Incomoda, dificulta, pois todas as obras da construtora estão sendo questionadas. Mas temos uma auditoria para ver a parte financeira e tudo que tem no estádio. Quando acabar, saberemos o que tem de certo e errado, mas é óbvio que a Lava Jato atrapalha, porque ficam falando a toda hora que a arena vai entrar nisso.E ela vai entrar ‘nisso’?  O Corinthians não sabe de nada. Mas quero que procurem mesmo, porque se tiver algo errado, o Corinthians é vítima e vai correr atrás de seus direitos. Eu não tenho medo da Lava Jato, porque não roubei nem sei de ninguém que tivesse roubado no estádio.Alguma empresa chegou a te afirmar que não investe na arena por medo da Lava Jato? Nenhuma. A preocupação é se a imprensa vai falar o nome (do estádio depois de batizado). Por exemplo, vocês só sabem chamar o estádio do Corinthians de Itaquerão. A WTorre teria o mesmo problema no Allianz Parque e conseguiu acertar o nome antes mesmo de ter jogo lá... E vocês escrevem Allianz Parque? Ninguém fala o nome do estádio (O Estado passou a chamá-lo assim desde a oficialização do nome). Vocês questionam tudo da arena do Corinthians, mas porque não fazem isso com o Allianz? Pega lá os documentos e veja como estão as coisas no lado do Palmeiras.Quanto você quer hoje para ceder o direito do nome do estádio? Sei lá, se chegarem com uns R$ 300 milhões ou R$ 200 milhões, eu aceito. O que pagarem a gente fecha (o Corinthians insistiu por muito tempo em R$ 400 milhões). O senhor se arrepende de falar a toda hora que os naming rights estão perto e nunca fecham? Você quer que eu fale o quê? Se eu comentar que não vai fechar, tenho de parar.Esse discurso de falar que está quase certo e não fechar acaba sendo negativo para o clube? Não sei. Vocês me perguntam, falo que vai fechar logo, passam dois meses, não fecha e me chamam de mentiroso. Não depende de mim. Acha que não quero fechar isso logo (são dois anos de espera)? Mas é um projeto novo, é mais complicado. Um hora vai fechar. Podem ficar tranquilo.O que ocorreu na negociação com a Apollo Sports? Ela ia cuidar da parte financeira da arena e do clube, não teria nada a ver com o nome do estádio. O problema é que deram como garantia um terreno no litoral (em Itanhaém) e outro no interior do Estado. Na crise que está o Brasil, eu vou vender terreno? Por isso a negociação não evoluiu.O Corinthians contratou uma auditoria que está emperrada porque a Odebrecht não libera os documentos. Sabe o motivo? Você acha que a vida dela está fácil? Deve estar um inferno lá dentro. A empresa não têm como esconder se tiver algo errado. De um jeito ou outro, o clube vai saber. A demora, nesse caso, faz parte.Temos vários casos de placas de mármore caindo do teto e outros problemas do gênero. O estádio não foi construído direito? Você já comprou um apartamento novo? Tem entupimento, não funciona uma torneira. Isso é normal. O estádio tem dois anos de inauguração só. Mas entupimento de um ralo ou torneira pingando é diferente de uma placa de mármore cair na cabeça das pessoas e poder matar alguém...  Por isso está sendo feita a auditoria. O Corinthians não deu o ‘aceito’ do estádio ainda e tudo está sendo levantado. Os caras fazem ponte e cai, pô. Isso acontece. Pode ficar tranquilo que não vai cair placa na sua cabeça. Não sei por que vocês falam tanto da arena do Corinthians e não falam da WTorre. Talvez seja porque o estádio do Corinthians teve dinheiro público e custou mais caro? E do Palmeiras, não? Pegou dinheiro do Banco do Brasil e da Caixa. O Corinthians pega na Caixa e é dinheiro público. O Palmeiras pega no Banco do Brasil e é dinheiro privado? Se você pega um financiamento para comprar uma casa, está pegando dinheiro público? A arena teve incentivo fiscal. Isso não é dinheiro público? "Tá" bom, mas qual estádio do País não tem incentivo fiscal? O Corinthians foi beneficiado, assim como várias empresas e shoppings. Vocês falavam que eu tinha ganho o estádio do Lula. Agora falam que não vamos pagar. Tem de decidir...Se você não fosse amigo do Lula, o estádio sairia do papel? (Risos) É, o Lula me ajudou muito, claro. O Lula deu um estádio pra gente, mas temos de pagar R$ 900 milhões por esse presente. Que amigo, né? A única coisa que o Lula se meteu e falou foi: ‘Que papo é esse de Pacaembu? Tem de fazer o estádio em Itaquera, pois ajudaria a desenvolver a Zona Leste’ de São Paulo. Só isso. Não ter a renda da bilheteria pelos próximos dez ou 15 anos, prazo em que se espera ter pago a arena, não pode atrapalhar as finanças do clube? Outra bobagem. Estádio é uma coisa e futebol é outra. Se o clube não contrata, não é por causa do estádio. O que o Corinthians perdeu de bilheteria? No Pacaembu, o ano que mais deu renda foi R$ 10 milhões. A média era entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões. Falam: ‘Ah, está perdendo R$ 100 milhões de renda’. Só que esquecem que antes não existiam esses R$ 100 milhões. E tem outra coisa: não está perdendo dinheiro, está pagando o estádio. Nosso! Pede para o Paulo Nobre entrar no estádio do Palmeiras. Ele ficará meia hora na porta e não vão deixá-lo entrar. Ele não manda nada lá. Na nossa arena, a gente entra e sai quando bem quiser.Então, dirigente não pode falar que não contrata por causa da dívida do estádio? Se algum dirigente falar isso, é mentiroso. Pode falar que o Andrés disse que ele é mentiroso. Se faltar dinheiro para pagar o estádio, a gente refinancia, mas não se pega dinheiro do clube para isso. A arena foi um bom negócio? Sim, mas veremos isso no futuro. Está com dificuldade agora, mas daqui a uns três ou quatro anos vai ser o melhor negócio da história do Corinthians.O senhor é deputado federal pelo PT. Pensa em reeleição ou um cargo maior, como prefeito ou governador? Você está de brincadeira. Se querem renovação, não vai ser comigo. Tenho 52 anos e minha pretensão é de -10. Tentar reeleição, não sei. Faltam dois anos. A burocracia desse País é triste. É difícil fazer as coisas

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