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Após a Copa do Mundo, caminho está aberto ao talento das meninas no Brasil

Há razões para acreditar que a modalidade vai pegar de vez no País após a disputa do Mundial

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Por Daniel Batista e Paulo Favero
Atualização:

A Copa do Mundo feminina de futebol se tornou uma febre nunca antes vista no Brasil por causa de vários ingredientes misturados: debate sobre igualdade de gênero no esporte, desilusão com a seleção masculina, empatia com as jogadoras e suas histórias de vida, apoio maciço de grandes empresas e recordes de audiência na tevê aberta. Mas após a eliminação da seleção feminina nas oitavas de final da competição para a anfitriã França, a pergunta que aparece é sobre qual será o legado desse megaevento.

A campanha do Brasil na Copa não foi um fiasco, pelo contrário, a eliminação veio apenas na prorrogação contra uma das principais forças do torneio e que estava jogando em casa, a França. O técnico Vadão, porem, já vinha sofrendo críticas e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deve tomar uma decisão na próxima semana sobre qual projeto levará adiante até os Jogos de Tóquio, em 2020.

Seleção brasileira feminina de futebol Foto: Rener Pinheiro / MoWA Press

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De um lado está a preocupação em deixar a equipe nacional bem preparada. “Devemos ter um torneio no Brasil, com duas ou três partidas, e temos convite para jogar na China. Agora vamos fazer uma agenda bastante positiva para que a gente possa manter a seleção em atividade e não perder esse ritmo que foi conseguido para a Copa, e claramente melhorá-lo na parte física e técnica”, explicou Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF.

O outro ponto importante é desenvolver ainda mais o futebol feminino no País. Atualmente, existem duas divisões nacionais. Na Série A-1 são 16 equipes e o torneio, que foi paralisado em razão da Copa, está na 9.ª rodada. O Corinthians lidera, seguido pelo Santos. Além dos dois rivais, outros exemplos de grandes times que estão na elite são Inter, Flamengo, Vitória e Sport. Já na Série A-2, a segunda divisão, são 36 clubes e a competição está nas quartas de final. Sobem quatro equipes para a elite. Os jogos são: Ceará x Cruzeiro, América-MG x Grêmio, Chapecoense x Palmeiras e Taubaté x São Paulo. A disputa será retomada a partir de 12 de julho.

Os clubes passaram a ser obrigados a cumprir diversas exigências para obter o licenciamento da CBF e, entre essas mudanças, estava a criação de uma equipe feminina. Obrigatoriamente. Por isso, grandes times ainda estão na segunda divisão. Ainda neste ano, terá início um Campeonato Brasileiro da base, com 24 participantes. Em maio, a TV Bandeirantes firmou parceria com a CBF e a emissora passou a transmitir jogos das duas divisões, que passam também no Twitter. Ainda há a disputa de Estaduais. Em São Paulo, tem a divisão principal e uma competição sub-17.

Neste mês, o São Paulo obteve patrocínio exclusivo para sua equipe feminina. “Quando começamos a conversar com o São Paulo, sabíamos que tinha a Copa do Mundo Feminina, mas como nunca teve uma evidência tão forte quanto no masculino, não tínhamos ideia do tamanho do impacto”, comentou Rodrigo Machado, gerente de marketing da Giuliana Flores.

Um alento parece estar vindo de diversas empresas que se engajaram em um movimento de apoio ao futebol das meninas. O Guaraná Antarctica incentivou outras marcas e 14 aceitaram a convocação: Almap BBDO, Cabify, Always, DMCard, Downy, Gilette Vênus, GOL, Havaianas, LAY’S, Nescau, Nutren Beauty, O Boticário, Uber e Volkswagen Caminhões. Fornecedora de material esportivo da seleção, a Nike criou pela primeira vez um uniforme para as mulheres a partir de “estudos e troca de informações com as próprias jogadoras”. Quem também festejou o torneio foi a Panini, com vendas do álbum de figurinhas com as principais estrelas da competição. Ao que tudo indica, é um caminho sem volta e a tendência é que o espaço do futebol feminino seja cada vez maior.

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ENTREVISTA COM ALINE PELLEGRINO

COORDENADORA DO DEPARTAMENTO DE FUTEBOL FEMININO DA FEDERAÇÃO PAULISTA

Como você vê o futebol feminino no Brasil no momento? Sem dúvida nenhuma, estamos vivendo o melhor momento do futebol feminino. Temos uma Série A-1 e A-2 muito grande. Teremos pela primeira vez um Brasileiro de base sub-18 e hoje a gente percebe que há algo em torno diferente. Muita gente querendo saber e acompanhar e temos TV aberta tanto no Brasileiro quanto no Paulista.  

Quanto a Copa pode ajudar na divulgação do futebol feminino no Brasil? A Copa faz com que a gente tenha uma visibilidade monstruosa. A situação está diferente do que acontecia antes, que acabava a Copa ou a Olimpíada e não se falava mais de futebol feminino. Agora, todo sábado e domingo terá transmissão na TV aberta.

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O que acha da ideia do time feminino fazer preliminar do masculino? É possível e viável e depende dos clubes, mas precisa ser feito com calma. Não adianta querer fazer em todos os jogos, mas podemos estrategicamente pegar alguns confrontos importantes, que terá uma divulgação bacana, e usarmos esse pano de fundo para mostrar o nosso futebol. Dá para casar muita coisa, mas de forma respeitosa entre as partes.

O que pensa sobre quem diz que o licenciamento serve para obrigar a realização do futebol feminino? É errado falar isso. O licenciamento veio para dar maiores responsabilidades e melhorar a administração dos clubes. No ano passado, sem licenciamento, tivemos uma Série A-1 e uma A-2 com 16 anos. É importante, neste momento, que o licenciamento dê uma alavancada no futebol, mas ele não foi criado com essa intenção. Me incomoda muito quem faz essa relação.

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