Artilheiros contam até "gols amadores"

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Por Agencia Estado
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Como não existem regras claras e nenhuma entidade se predispõe a fazer o levantamento oficial dos maiores artilheiros do futebol brasileiro, cada jogador define seus próprios critérios e conta o maior número de gols possíveis, de todas as fases da carreira, para melhorar o retrospecto. O caso Romário x Zico é uma prova dessa confusão nos números. O vascaíno estaria com 833 gols na carreira, superando Zico, tornando-se assim no segundo maior artilheiro do País (Pelé é o primeiro). Se for levado em consideração o levantamento feito pelos dois jogadores, as contas podem estar certas, mas os critérios para chegar a estes números... Ambos não se acanharam em usar não só gols convertidos na fase profissional, mas também os anotados nas categorias de base e em jogos não-oficiais. Romário considera todas as vezes que balançou a rede, desde o juvenil do Olaria, time pelo qual fez 7 gols, incluindo outros 53 feitos no amador do Vasco. Zico, por sua vez, vai ainda mais longe, lá no ínicio da carreira, e conta gols de sua época na Escolinha do Flamengo. E não foram poucos: 44. E ainda considera gols do juvenil (37), seleção Master (8), jogos de exibição (43) e seleção carioca (1). As assessorias de imprensa dos jogadores garantem que foram somados apenas gols em jogos com súmula, uniformes oficiais e disputados dentro das regras definidas pela Fifa. O que vale então? - "Vou pedir para fazer um levantamento completo de todos meus gols, porque sei que nunca foi feita uma contagem precisa", disse o atacante Roberto Dinamite, que acredita ter passado dos 800. Em seu site oficial, constam 754 gols na carreira, todos como profissional, ignorando os gols em amistosos e na seleção de Masters. "Gol amador não vale, senão vou começar a contar os que fiz lá no infantil e vou passar dos mil", brincou. "Meu filho, de 9 anos, já disse que vai começar a anotar os gols que está fazendo na escola." Mas, afinal, gol na praia, todo mundo descalço, solteiros contra casados, vale? E com os amigos, na rua, golzinho improvisado com dois tijolos, três de cada lado, também pode ser aceito? Para o historiador de futebol Rubens Ribeiro, alguns critérios mínimos devem ser considerados para definir que tipo de gol pode ser considerado num ranking de artilheiros. "Pelo menos um árbitro, dois tempos de 45 minutos, 11 de cada lado e um registro que torne a partida oficial", diz. "Duvido que nas categorias de base haja um controle confiável", acrescenta, pondo em xeque os números de vários jogadores. Ribeiro conta que em vários jogos, principalmente nos mais antigos, é impossível encontrar a súmula feita pelo árbitro e a única alternativa ao pesquisador é confiar nos jornais que fizeram a cobertura da partida. "A gente acaba ficando refém do que foi publicado, e perde muito com isso." Pelé - Nessa história toda, o único fato inquestionável é o de que Pelé foi o maior artilheiro de todos os tempos, no Brasil e no mundo inteiro. Quer dizer, desde que não se leve em consideração a afirmação de que Arthur Friedereich teria marcado 48 gols a mais que o Rei do Futebol, ou então 1.239, segundo outras fontes. Na verdade, segundo Ribeiro, a história de que o paulistano Friedenreich teria superado Pelé como artilheiro não passa de um equívoco. Extra-oficialmente, segundo levantamento da revista Placar, o jogador anotou 556 gols. De acordo com os jornais da época, o centroavante manteve, por todos os clubes que passou, uma média superior a um gol por partida. Desde que se tornou profissional, Pelé obteve média de 0,93 gol por jogo. Romário tem 448 gols a menos, mas uma porcentual ligeiramente melhor: 0,94. Zico, com 831 gols em 1.175 partidas, tem a média de 0,70. Paixão - Assim como Zico (90) e Romário (71), o Rei do Futebol, em menor dose é verdade, também se utilizou de gols em times amadores na contabilização de sua artilharia. De acordo com o historiador Mário Bezerra da Silva, dos 1.281 gols da carreira de Pelé, 14 foram feitos em times das Forças Armadas e 3 na seleção do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo. Mais que um historiador do futebol, Silva é um fanático torcedor santista. Guarda todas as matérias que encontra sobre seu time e sobre os ídolos do Santos e tem um dos arquivos mais completos dos 90 anos do clube. Pesquisar números no futebol brasileiro só é possível graças ao amor e à dedicação de torcedores como ele, porque, oficialmente, não existe apoio e qualquer preocupação histórica. No caso específico da definição dos maiores artilheiros nacionais, nenhuma entidade centraliza as informações, súmulas de várias partidas simplesmente não existem mais, ou jamais existiram, e alguns clubes, se já não fecharam as portas, destruíram seus arquivos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as federações estaduais não têm nenhum levantamento. Muito menos a Fifa tem qualquer ranking nesse sentido. A CBF computa apenas os atletas que mais marcaram gols pela seleção brasileira e, mesmo nesse ponto, os números não conferem com os dos jogadores. Zico, por exemplo, teria feito 66 gols com a camisa do Brasil, segundo suas contas. A entidade, no entanto, reconhece apenas 53.

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