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Atacante grego faz 24 gols em 28 jogos e vira a nova sensação na Europa. Conheça sua história

Giorgos Giakoumakis atingiu a impressionante marca pelo VVV Venlo, clube que luta para evitar o rebaixamento na primeira divisão holandesa

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Por Rory Smith
Atualização:

Giorgos Giakoumakis nunca havia marcado gols. Não em grande número, pelo menos. Ele jogou 22 partidas, distribuídas entre três temporadas no futebol, antes de finalmente conseguir fazer um gol por seu primeiro clube, uma equipe de ambições modestas e horizontes próximos chamado Platanias, com sede em sua ilha natal, Creta.

No início da carreira, ele conseguiu dois dígitos no número de gols durante uma única temporada apenas uma vez, marcando 11 vezes em sua última atuação pelo Platanias. Na época, parecia que essa seria sua maior conquista. Ele passou a jogar pelo AEK Atenas, uma das três potências que dominam a capital grega no futebol.

Giorgos Giakoumakis em ação pela seleção da Grécia Foto: Reuters

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Lá, Giakoumakis conquistaria seu próprio pequeno lugar na mitologia do clube. Na metade de sua temporada de estreia na equipe, marcou o gol da vitória aos 93 minutos para definir uma partida contra o Olympiacos, conseguindo, de forma decisiva, um lugar na disputa pelo título bem equilibrada a favor do AEK. Foi seu primeiro gol no campeonato pelo clube. E também viria a ser o último.

O jogador passou grande parte das duas temporadas seguintes emprestado, com o AEK esperando que ele voltasse aos bons resultados ou que pudesse encontrar um novo interessado em lhe contratar. Os sinais não eram promissores. Uma passagem por Creta - desta vez com o OFI - rendeu dois gols. Um ano na Polônia, com o Gornik Zabrze, resultou em apenas três bolas na rede. Giakoumakis parecia pronto para uma carreira sem destaque. Não havia nada em seu currículo que sequer sugerisse o que aconteceria em seguida.

Nesta temporada, do nada, Giakoumakis transformou-se em um dos atacantes que mais marcaram na Europa. Ele fez 24 gols em 28 jogos do campeonato. Três somente em sua estreia com seu novo clube. E marcou quatro gols em uma única partida duas vezes na Holanda. Ele fez 11 gols - anteriormente o melhor resultado de sua carreira em uma campanha inteira - somente em janeiro. Naquele mês, nenhum jogador da Europa havia marcado mais gols. Aos 26 anos, tornou-se uma sensação. Ele tem 1,85m de altura.

Mais impressionante ainda, ele fez tudo isso jogando pelo VVV Venlo, um clube que luta para evitar o rebaixamento na lanterna da Eredivisie, a primeira divisão holandesa. No início desta temporada, o time conseguiu perder por 13 a 0 para o Ajax, uma das melhores e mais tradicionais equipe do país. O time registrou seis vitórias durante todo o ano e marcou 39 gols. Giakoumakis é responsável por quase dois terços deles. "Sem ele", disse seu companheiro de equipe, Christian Kum, "as coisas teriam sido muito piores para nós".

Esse tipo de resultado atraiu atenção. As perspectivas de carreira de Giakoumakis foram, no espaço de apenas alguns meses, totalmente transformadas. Ele é agora um jogador grego conhecido internacionalmente, tendo feito sua estreia pelo seu país em novembro. Clubes que estão mais acima na cadeia alimentar do futebol repentinamente se interessaram por ele. O Norwich City, recentemente promovido à Premier League, tem ficado de olho nele, assim como o Southampton.

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Muitos os alertariam para tratar sua atuação mais recente com certo ceticismo. Afinal, esse tipo de coisa acontece com curiosa frequência na Eredivisie. O futebol holandês tem um longo, orgulhoso e estranho histórico de atacantes até então desconhecidos que, de repente, alcançam resultados quase impossíveis.

Às vezes - como no caso de Ruud van Nistelrooy, Luis Suárez ou Klaas-Jan Huntelaar - é um prenúncio de coisas maiores por vir; eles conseguiam marcar uma grande quantidade de gols na Eredivisie porque seu talento, sua dedicação e seu brilhantismo significavam que eles podiam marcar uma grande quantidade de gols em qualquer lugar.

E às vezes - como no caso de Georgios Samaras, Vincent Janssen ou, talvez o exemplo mais famoso, o brasileiro Afonso Alves - não é. Por vezes, a quantidade de gols que um atacante marca na Eredivisie é, se não uma fantasia, pelo menos uma ilusão de óptica. Em alguns casos, esses jogadores não brilham em um palco mais grandioso. Em outros, seu sucesso diz mais sobre as deficiências do futebol holandês do que a respeito deles.

Instintivamente, então, parece que a história de Giakoumakis é, na verdade, sobre o futebol holandês: sua moral é que, como os gols vêm rápido e sem muito cuidado na Eredivisie, seu significado é difícil de discernir, um lembrete de que não há correlação entre quantos gols um jogador marca na Holanda e quantos ele pode marcar em outro lugar.

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No entanto, há um problema com essa leitura. Os gols podem ter menos valor na Holanda, mas nem todos os times da Eredivisie têm um atacante - a cada temporada - que os marque em grande quantidade. O artilheiro do Ajax, que está a caminho de mais um título este ano, é Dusan Tadic, meio-campista. Alguma coisa, então, deve ser diferente em Giakoumakis, assim como deve haver algo para explicar as experiências de Alves ou Janssen em anos anteriores.

A resposta, é claro, está no contexto. Há um certo grau de acaso em como Giakoumakis chegou ao Venlo. Não é o tipo de clube que pode se dar ao luxo de ser exigente. A equipe joga em um dos menores estádios e tem um dos menores orçamentos na Eredivisie. No Venlo, o sucesso é conseguir lutar contra o rebaixamento novamente no ano que vem.

Stan Valckx, o homem encarregado de montar a pequena equipe, não tem uma vasta rede de caça-talentos. Ele não pode pagar quantias colossais por jogadores. Por isso, precisa manter olhos e mente abertos e tem que correr riscos. Acima de tudo, ele não tem escolha a não ser ouvir cada oferta de cada agente para cada jogador. “Eu sempre atendo o telefone”, disse ele.

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Foi assim que ele encontrou Giakoumakis. Em março do ano passado, recebeu outra ligação não solicitada de um agente sugerindo que ele desse uma olhada em um atacante grego de 26 anos que jogava na Polônia. Valckx fez o que sempre faz: uma pequena investigação superficial. Os números de Giakoumakis não eram especialmente impressionantes. “Se você focasse apenas nas estatísticas, ele provavelmente não teria vindo jogar conosco”, disse.

As filmagens de suas apresentações, porém, eram mais promissoras. “Temos um time que joga com mais frequência do seu lado no campo do que no do adversário”, disse Valckx. “Precisamos de um atacante com profundidade no jogo, que consiga segurar a bola, que trabalhe duro.”

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Giakoumakis preenchia os requisitos. O técnico do clube na época, Hans de Koning, ficou animado com a forma como Giakoumakis tendia a comemorar seus (raros) gols com seus companheiros, em vez de levar a aclamação para si. Seu salário estava ao alcance do Venlo. Então, Valckx viajou para a Polônia para vê-lo pessoalmente, apenas para descobrir que - por causa das restrições de público para evitar a propagação do novo coronavírus - não seria autorizado a entrar no estádio.

Acabou assistindo ao jogo em um bar. E mesmo assim, gostou do que viu. No dia seguinte, conheceu Giakoumakis em um hotel. O jogador tinha feito a lição de casa. Ele sabia um pouco a respeito de seus futuros companheiros de equipe, podia identificar em qual sistema o Venlo jogava. Valckx estava convencido de que valia a pena correr esse risco.

Ele não finge que esperava que Giakoumakis tivesse sucesso no futebol holandês. Ele não achava - possivelmente nem esperava - que estava contratando um jogador que poderia terminar a temporada como o artilheiro da Eredivisie, à frente de todos os jovens talentos do Ajax e do PSV. Valckx via Giakoumakis como o tipo de jogador que pode “marcar um gol de vez em quando, como um bônus”.

O fato de nada no currículo de Giakoumakis sugerir que ele fosse capaz de fazer o que fez nesta temporada não significava que fosse impossível. Assim como sua experiência no Venlo ter sido tão positiva não significa que ele será automaticamente capaz de fazer o mesmo no próximo ano, esteja ele na Holanda, na Inglaterra ou em outro lugar. Se ele é um jogador bom, mau ou indiferente, não é algo fixo; o que aconteceu antes não definirá o que virá depois. O que eles dizem sobre gols talvez seja verdade para todos os jogadores: o que mais importa é estar no lugar certo, na hora certa. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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