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Banida da natação, Rebeca Gusmão disputa torneio de futebol

Impedida de voltar às piscinas, ela vestirá a camisa da Ascoop na próxima copa nacional de futebol feminino

Por Vannildo Mendes
Atualização:

"O futebol feminino agora tem uma imperatriz, sou eu". A autoproclamação é da atleta Rebeca Gusmão, comparando-se ao centroavante Adriano, apelidado de "imperador" no futebol italiano. Banida das piscinas pela Federação Internacional de Natação (Fina), depois de ter suas medalhas do Pan-Americano do Rio cassadas, sob acusação de doping, Rebeca fechou contrato para disputar a próxima copa nacional de futebol feminino, promovida pela CBF, a partir de dezembro, enquanto aguarda o julgamento de sua apelação, previsto para janeiro. Ela será centroavante na Associação Atlética Esportiva e Recreativa dos Cooperados do Distrito Federal (Ascoop) e vestirá a camisa 5, número da raia em que ganhou as últimas medalhas nos jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Sobre suas potencialidades, ela é otimista. "Na parte técnica, já peguei muita coisa, principalmente jogo de corpo", afirmou. "Aliás, jogo de corpo é o que não me falta", disse ela, entre risos, numa referência ao seu corpanzil, maior agora que está fora de forma, de 84 quilos distribuídos em 1m85 de altura. "Adversários, tremei!", avisou. Filha de jogador profissional - o pai, Ajalmar, jogava no Náutico de Recife, na década de 70 -, Rebeca diz que desde cedo pegou intimidade com a bola. "Mas meu xodó mesmo era a piscina", lembra, explicando que a paixão virou obsessão quando tinha 10 anos, época em que o nadador Xuxa, seu ídolo, despontou como grande nome das piscinas. O namoro com o futebol feminino ganhou contornos em 2003, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, quando Rebeca conheceu a seleção brasileira, medalha de ouro na competição. Ela ficou amiga das jogadoras Formiga e Faísca. "Brincava de queimada e jogava peladas com elas nas horas de folga como crianças", conta a ex-nadadora. Hoje no quinto período de educação física no Centro de Ensino Unificado de Brasília (Uniceub), Rebeca diz que não teve sossego até aderir a um novo esporte. Por razões óbvias, evitou natação, mas não resistiu ao futebol e passou a freqüentar as modalidades de campo e salão, até ser descoberta pela Ascoop. Mal na primeira edição, quando ficou entre os últimos lugares, o time montou um elenco competitivo agora. Entre os reforços, foram também contratadas as atletas Jéssica, irmã de Rebeca e Daniela, ambas convocadas para a seleção brasileira sub-20. Mas a esperança de gols é uma só. "É ela, a nossa imperatriz", diz o presidente do clube, Arnaldo Freire, satisfeito com a visibilidade que a ex-nadadora trouxe à equipe. ÍDOLOS Seus ídolos masculinos: Ronaldinho gaúcho e, claro, Adriano, a quem aprendeu a admirar pelas inevitáveis comparações. "Gosto disso, ele também é forte e lutador". Rebeca está consciente de que pode ser banida para sempre do esporte, mas diz ter recebido sinalização das entidades esportivas de que, caso confirmada, a punição, embora inapelável, valerá somente para a natação. "Essa palavra (banimento) não existe no meu dicionário", disse ela, alegando que sua vida é o esporte. "Não me vejo fazendo outra coisa, ou atleta ou treinadora", afirmou. "Se me derem uma bola de vôlei, sei fazer um saque. Se a bola for de basquete, faço uma cesta. Se for de futebol, é gol", disse. Rebeca está casada há dois anos com o cantor de ópera Gutemberg Amaral, com quem diz ter uma vida feliz. "Ele é o maior entusiasta da minha carreira e sempre tem me apoiado nessa transição difícil", conta. "Ele não perde uma partida, grita e vibra a cada jogada que faço no futebol". Rebeca lê jornais regularmente e gosta de literatura, sobretudo romances. O livro mais recente que leu, A Última Grande Lição, é uma reflexão sobre a vida. "Tudo a ver com as provações que passei neste último ano, quando minha vida desabou. Fui humilhada, julgada e condenada de forma impiedosa", disse.

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