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Barcelona 'abandona' base e desembolsa R$ 4,9 bilhões com reforços em 10 anos

Nos últimos dez anos, clube passou a apostar em jogadores caros e está atrás apenas do City na lista de contratações

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Por Renan Fernandes
Atualização:

Sempre apontado como referência na formação de jogadores, o Barcelona parece dar cada vez menos oportunidades para garotos produzidos pela cultuada 'fábrica de craques' de La Masia, como é chamada a base do time. Sempre pressionado por vencer e apresentar um bom futebol, o clube catalão não tem poupado recursos na contratação de jogadores já consolidados nas últimas temporadas.

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+ Firmino já coloca pressão em Gabriel Jesus para ser o 9 do Brasil Segundo levantamento do jornal italiano La Gazzetta dello Sport, o Barcelona foi o segundo time que mais investiu na aquisição de reforços no últimos 10 anos, ficando apenas atrás do Manchester City. Foram R$ 4,9 bilhões gastos no período, com craques como Neymar, Luis Suárez e Alexis Sánchez.Clubes que mais investiram nos últimos 10 anos

1 - Manchester City - 1,58 bilhão de euros (R$ 6,7 bilhões)

2 - Barcelona - 1.158 bilhão de euros (R$ 4,9 bilhões)

3 - PSG - 1.150 bilhão de euros (R$ 4,9 bilhões)

4 - Chelsea - 1,137 de euros (R$ 4,8 bilhões)

5 - Manchester United - 1.018 bilhão de euros(R$ 4.3 bilhões)

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6 - Real Madrid - 972 milhões de euros (R$ 4,13 bilhões)

La Masia, o centro de treinamento das categorias de base do Barcelona Foto: Albert Gea/Reuters

O ápice deste processo de altos investimentos se deu nesta temporada. Além de ter feito as duas maiores compras de sua história - Philippe Coutinho, 160 milhões de euros (R$ 677 milhões) e Ousmane Dembelé, 105 milhões de euros (R$ 444 milhões) - a temporada de 2017/2018 ficará marcada pela partida do dia 17 de abril, com o Celta, pelo Campeonato Espanhol. O técnico Ernesto Valverde não utilizou nenhum dos atuais jogadores do elenco formados no clube - Andrés Iniesta (que vai deixar o clube), Sergi Roberto, Sergio Busquets, Gerard Piqué e Messi - fato que não acontecia há 16 anos. Mais consolidado no clube depois dos títulos do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei, Valverde já sinalizou que tentará dar mais espaço para jogadores formados no clube e vai promover dois jovens valores ao time principal na próxima temporada: Carles Aleña e Oriol Busquets.

O COMEÇO

O trabalho em La Masia ganhou força em 1979 quando o lendário ex-jogador e ex-treinador holandês Johan Cruyff definiu que as equipes de camadas inferiores deveriam seguir um modelo de jogo ofensivo, com muita troca de passes e movimentação do time principal. Segundo o diretor da escolinha do Barcelona em São Paulo, Agustín Peralta, a receita para sucesso do clube na base segue três pilares: "O primeiro é a humildade. Procuramos exaltar esforço e trabalho em equipe. O segundo é a inteligência dos jogadores, para que eles entendam e executem o plano de jogo. E o terceiro, que torna tudo possível, é uma metodologia própria, que traça os princípios que vão guiar o clube e quais os aspectos serão privilegiados no jogo."

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Chamado de FCBEscola, o projeto também garante aplicar o DNA de La Masia pelo mundo. No Brasil, são quatro escolas, duas em São Paulo e outras duas no Rio de Janeiro. E eles garantem que todas recebem visitas de diretores catalães para ter certeza que os conceitos estão sendo aplicados.

SUCESSO

O auge deste modelo veio com Pep Guardiola, produto da base catalã como jogador. Entre 2008 e 2012, o treinador ganhou 14 dos 19 campeonatos que disputou no comando da equipe utilizando quase os mesmos membros da base que formam o elenco principal atual, somados a Carles Puyol, Xavi, Pedro Rodriguez e Víctor Valdés.

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O trabalho foi mantido quando Tito Vilanova assumiu e, no dia 25 de novembro de 2012, conseguiu   um fato raro entre os times profissionais. Após Daniel Alves ser substituído por Montoya no primeiro tempo do jogo contra o Levante, pelo campeonato nacional, todos os 11 jogadores em campo eram formados dentro do Barcelona: Valdés; Montoya, Puyol, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Xavi e Iniesta; Messi, Pedro e Fàbregas.

PROBLEMAS

Mesmo sem espaço, La Masia mostra que continua seu trabalho. Em abril, o Barcelona ganhou pela segunda vez, em seis edições disputadas, a Uefa Youth League, correspondente à Liga dos Campeões da Europa Sub-19, superando o Chelsea na final. No entanto, esses jogadores não estão tento oportunidade completar o ciclo de desenvolvimento, que seria ir para o time B do Barcelona.

"O que barrou a aparição de jogadores da base no time principal do Barcelona nestes últimos anos foi essa nova política esportiva do clube de apostar na compra de jogadores de fora para se manter em uma categoria muito competitiva que é a segunda divisão", aponta o jornalista Joaquim Piera, correspondente do jornal Sport no Brasil. A estratégia não deu resultado e a equipe luta contra o rebaixamento para a 3ª divisão.

Até mesmo o sucesso de atletas revelados nos últimos anos acaba jogando contra o próprio Barcelona. O alto grau de excelência do time principal faz com que as promessas tenham uma qualidade muito acima da média para poder compor o grupo e concorrer com superestrelas já renomadas. "Outro fator, que o clube não reconhece abertamente, é que não saíram safras de jogadores com qualidade para jogar em um dos maiores clubes do mundo. Um dos fatos determinantes no Barcelona é que o jogador para atuar precisa ter uma baita qualidade. Tanto que, se pensarmos bem, não foram tantos os jogadores que surgiram no Barcelona nos últimos 15 anos", destaca Piera.

Durante a última janela de transferências, um forte rumor sobre a recontratação de Thiago Alcántara, vendido ao Bayern de Munique em 2013, expôs outra dor de cabeça no clube. Sem espaço no principal, são vários os jogadores que deixam a base do Barcelona, brilham em outro lugar e são contratados a peso de ouro, como aconteceu com Piqué, Fàbregas e Jordi Alba. Quem promete ser alvo de grandes times no mercado e também não teve oportunidades foi o atacante Mauro Icardi, da Inter de Milão.

Esta "falta de fidelidade dos jogadores da base" para chegar ao time principal e se consolidar é um aspecto destacado  como um problema. "Iniesta e Xavi foram questionados e tiveram adversidades em seus primeiros anos no Barcelona para depois se tornarem a maior dupla de meias da história do clube. Falo isso porque, na hora de chegar no time principal, é importante ter paciência. Casos como de Pedro e Busquets, que jogavam na 4ª divisão, comandados pelo Guardiola, e depois estavam no time principal são excepcionais", explica. "Se você pegar os jornais, constantemente meninos da base estão saindo para clubes ingleses e já chegam com salário de jogadores profissionais", opina Piera.

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CONCORRÊNCIA AUMENTANDO

Para a próxima temporada o Barcelona promete abrir os cofres novamente. Na Espanha, a contratação do francês Antoine Griezmann é dada como certa. Outro que já está negociado e se apresenta em janeiro de 2019 é o volante Arthur, do Grêmio.

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