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Brilho latino-americano não é por acaso

Segundo o fisiologista Turíbio Leite Barros, 'habitat natural' influencia no bom desempenho desses times

Por Fábio Hecico
Atualização:

A Costa Rica fez bela festa na última sexta-feira, ao conquistar a vaga às oitavas de final. Comemoração semelhante às de Chile e Colômbia, também classificadas com uma rodada de antecedência. O sucesso do futebol latino-americano na Copa do Mundo do Brasil não é por acaso, segundo o renomado fisiologista Turíbio Leite de Barros. Mas é difícil de se explicar. 

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São vários os fatores que podem explicar esses surpreendentes resultados de seleções de menor tradição em cima de campeãs como Itália e as já eliminadas Espanha e Inglaterra. "Olha, no futebol é muito difícil interpretar resultados. São muitas variáveis, desde a temperatura, o clima, as viagens. A explicação mais lógica é o hábitat natural", conta Turíbio Leite de Barros, por muitos anos fisiologista do São Paulo e hoje diretor do Physio Institute.

Ele explica: "O nível do futebol europeu é de maior intensidade e não estamos vendo isso por aqui. Provavelmente pelas distâncias, o clima e a falta de adaptação ao fuso horário".

A seleção de Costa Rica é o maior exemplo do brilho latino-americano nesta Copa Foto: Emmanuel Dunand/AFP Photo

Para o experiente médico, acostumado a deixar jogadores e mesmo times prontos para qualquer competição, não importa o local, houve negligência por parte de diversas seleções na preparação para o Mundial.

"Todos chegaram muito em cima do início da Copa, foi um erro de logística", diagnostica Turíbio. "Não houve preocupação em se ficar um tempo longo aqui para uma adaptação maior com a umidade, os deslocamentos. Os sul-americanos, além de estarem em férias, conhecem bem o continente."

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Mais surpresas. A festa não se limita a Costa Rica, Chile e Colômbia. Na verdade, todas as nove seleções latinas têm motivos de sobra para estarem felizes ou otimistas. Diferentemente de algumas equipes de outros continentes que já ficaram pelo caminho - caso de Inglaterra e Espanha -, quem daqui ainda não se classificou ou tem a vaga bem engatilhada ou chega à rodada decisiva com chances.

Brasil e Argentina (ganharam das europeias Croácia e Bósnia, respectivamente) estão bem na competição e não correm risco de queda precoce. O México, com sua defesa intransponível, dependerá apenas de um empate com os croatas. 

O Uruguai renasceu com 2 a 1 diante da Inglaterra. Eliminou a campeã de 1966 e pode deixar pelo caminho a tetracampeã Itália - desde que volte a vencer. Em situação mais complicada, mas também com chances, aparecem Equador e Honduras, que dividem o mesmo grupo. Eles têm de desbancar a Suíça na última rodada (só um avança).

"O calendário sul-americano é privilegiado. Se os europeus vêm de desgastante temporada e muitos estão machucados, aqui ainda estamos no meio de temporada. Claro, muitos jogadores daqui atuam por lá e são sul-americanos só na certidão de nascimento. Mas já estão acostumados às distâncias e com a influência do clima", afirma Turíbio. “Na Europa, os grandes deslocamentos não são um hábito e isso faz diferença. Faz-se um jogo em Natal, depois está em Porto Alegre. O jogador sente", exemplifica.

 

Tabu mantido? O técnico Ottmar Hitzfeld, da Suíça, havia dado a letra quando a Copa ainda nem havia começado. "É muito difícil encarar os latinos em seu continente", disse, antes de quebrar tabu diante do Equador - venceu no fim, após cinco tropeços contra sul-americanos.

São sete Copas disputadas no continente. E todas com seleções caseiras como as campeãs. Uruguai, em seu País (1930) e no Brasil (1950); Argentina, em casa (1978) e no México (1986); Brasil, no Chile (1962), no México (1970), e nos EUA (1994).

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